São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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Lula manda Vale-Cultura à Câmara

Financiado por renúncia fiscal, benefício de R$ 50 poderá ser usado na compra de livros e ingressos de cinema

Previsão para votação no Congresso é de 45 dias; o presidente pede que artistas e produtores pressionem pela aprovação do texto


Ayrton Vignolia/Folha Imagem
O diretor José Celso Martinez Corrêa (à dir.) sobe ao palco para falar com o presidente Lula, no teatro Fecomercio, em São Paulo

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

Em cerimônia na qual se definiu como "pouco letrado" e foi chamado de "antropófago", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem à noite, em São Paulo, o projeto de lei a ser enviado ao Congresso instituindo o Vale-Cultura.
De quebra, conclamou a classe artística a pressionar deputados e senadores pela aprovação do texto ainda neste ano.
O vale será na forma de um cartão magnético que dará aos trabalhadores o benefício de adquirir bens culturais. De acordo com a proposta, as empresas que aderirem ao programa poderão obter isenção no Imposto de Renda.
Em cerimônia no teatro Fecomercio, em São Paulo, o presidente assistiu a apresentações de cultura popular, dança e de nomes da MPB -Chico César e Tetê Espíndola, entre outros. Ele estava acompanhado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata ao Planalto e que foi muito aplaudida pelos presentes -na maioria artistas e produtores culturais.
Outro momento que empolgou o público, cerca de 600 pessoas, foi a homenagem de Lula ao crítico literário Antonio Candido, que se recusou a compor a ala das "autoridades" e permaneceu na plateia.
"Eu penso que [Antônio Cândido] é hoje o melhor intelectual que nós temos no país, com uma dimensão cultural invejável, sobretudo com a sua solidez socialista", disse Lula.
De acordo com o presidente, o projeto será enviado ao Congresso em regime de "urgência urgentíssima". A previsão de votação é de 45 dias.
O presidente criticou "a televisão", mesmo estando diante de muitos atores, e convocou a todos a pressionarem o parlamento pela aprovação do texto:
"[A aprovação] depende de vocês irem lá, porque, se a televisão for contra, não aprova. Portanto, depende de fazer um jogo de forças entre os que acham que é preciso inovar e os que acham que já está bom".
Parte dos gastos serão bancados pelos empregados. Quem recebe até cinco salários mínimos deverá arcar com até 5% do valor (R$ 5). Aqueles que ganham mais pagarão entre 20% a 90% e só poderão participar caso todos os outros empregados que recebem menos estejam incluídos no programa.
Durante a cerimônia, Lula brincou com o secretário da Cultura do governador de São Paulo José Serra (PSDB), João Sayad, sobre a autoria do projeto: "É preciso a gente aproveitar o momento de que é proibido proibir. Como eu, João Sayad, não sou um cara muito letrado, eu, conhecendo as minhas limitações, não proíbo as coisas, se alguém me dá uma boa ideia eu posso fazer"
No final do evento, o diretor José Celso Martinez Corrêa quebrou o protocolo e subiu ao palco para pedir ao presidente que visite o Teatro Oficina, na região central de São Paulo, ameaçado por empreendimentos imobiliários do Grupo Silivo Santos. "Você é o nosso primeiro presidente antropófago, descendente da tribo que comeu o bispo Sardinha [devorado pelos índios Caetés em 1556 no litoral do NE] (...) Eu preciso que você pise lá, Lula", disse o diretor, diante de um presidente apressado e de um ministro da Cultura, Juca Ferreira, visivelmente constrangido.


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