|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PÚBLICO X PRIVADO
Procedimento pode gerar ações judiciais contra ex-assessor
Procuradores instauram
inquérito para investigar EJ
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os procuradores Luiz Francisco
de Souza e Guilherme Schelb, do
Ministério Público Federal em
Brasília, instauraram ontem inquérito para apurar supostas irregularidades que teriam sido cometidas pelo ex-secretário Eduardo Jorge Caldas Pereira no período em que despachou no Palácio
do Planalto e nas atividades empresariais que manteve após deixar o governo, em abril de 1998.
Ao transformar em inquérito o
"procedimento administrativo"
instaurado em 17 de julho, os procuradores sinalizam que ficaram
mais fortes os indícios que desencadearam as investigações. O inquérito pode dar origem a ações
judiciais contra EJ. O próximo
passo é pedir a quebra dos sigilos
fiscal, telefônico e bancário.
O inquérito abrange cerca de
dez linhas de investigação dos
procuradores, começando pela
atuação de EJ na nomeação de juízes classistas para o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
Schelb e Luiz Francisco investigam o relacionamento de EJ com
o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto.
O ex-secretário sustenta que os
dois não tratavam da liberação de
verbas para a obra superfaturada
do TRT, mas que Nicolau subsidiava o governo com informações
sobre a nomeação de juízes classistas favoráveis ao Plano Real.
"Os membros do Judiciário não
podem ser escolhidos com o propósito de manter a política econômica do governo", disse Schelb.
"Isso é contra o princípio constitucional da separação de poderes,
contra a democracia." Esse ponto
das investigações será comandado, porém, pelos procuradores da
República em São Paulo.
Também em destaque na portaria que instaura o inquérito está o
crescimento patrimonial de EJ. Os
procuradores questionam a incompatibilidade entre a renda do
ex-secretário e a compra de bens,
como um apartamento no Rio de
Janeiro, cujo preço é estimado em
R$ 1,3 milhão. Outros alvos de investigação de EJ são:
1) Contratos sem licitação firmados pelo Ministério da Justiça
com a empresa Montreal Informática. Há suspeitas de que EJ,
em visita ao Ministério, tenha tentado interceder em favor da Montreal;
2) Empréstimo de US$ 51 milhões concedido pelo BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao
Frigorífico Chapecó. Gravações
não-oficiais mostram que EJ pediu ao então presidente do
BNDES, André Lara Resende, definição sobre o empréstimo;
3. Suposta operação, da qual EJ
teria participado, para a transferência de controle da Encol;
4. Atuação do grupo Meta no ramo de seguros. EJ já teve 10% das
ações da empresa.
A linha de investigação mais
adiantada refere-se à Montreal
Informática. Por conta de denúncias sobre os fatos que levaram à
contratação da empresa em caráter emergencial, sem licitação, o
presidente do Serpro, Sergio Ribeiro, foi afastado do cargo na semana passada.
O Serpro é a empresa estatal que
até o início de 1999 foi responsável
pelos serviços hoje prestados pela
Montreal Informática.
Os procuradores tentam ainda
encontrar alguma ligação entre EJ
e a Montreal. Devem chamar para
depor o ex-ministro da Justiça, José Carlos Dias. Esperam que Dias
preste esclarecimentos sobre a visita de EJ ao Ministério da Justiça
em janeiro de 1999.
Em depoimento a Luiz Francisco e Schelb, o secretário-executivo
do Ministério da Justiça, Antônio
Anastasia, disse que EJ foi ao seu
gabinete pedir informações sobre
os sistemas Renach/Renavam,
respectivamente Registro Nacional de Carteiras de Habilitação e
de Veículos Automotores, hoje
operados pela Montreal.
O caso Chapecó está sendo investigado pelos procuradores Celso Três, de Caxias do Sul, e Cristina Koliski, de Cascavel. Os US$ 51
milhões teriam sido repassados
ao frigorífico catarinense sem as
garantias necessárias. Até hoje o
empréstimo não foi pago.
Os procuradores de Brasília
aguardam a evolução das investigações, com as quebras de sigilo
telefônico e bancário, para analisar possíveis ligações entre o frigorífico, hoje concordatário, e EJ.
Falida em março do ano passado, a construtora Encol é um dos
casos mais complexos analisados
por Luiz Francisco e Schelb. Segundo depoimento prestado pelo
ex-dono da empresa ao Ministério Público, Pedro Paulo de Souza, EJ teria sido designado pelo
presidente Fernando Henrique
Cardoso para "operação de salvamento" da empresa.
Os procuradores suspeitam
que, em vez salvar a construtora,
EJ tenha tentado transferir o controle da Encol, com a ajuda de diretores do Banco do Brasil.
Texto Anterior: Janio de Freitas: Fazenda de virgens Próximo Texto: Monteiro de Barros não convence procuradora Índice
|