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FOLCLORE POLÍTICO
Tragicomédia no Tocantins
JARBAS PASSARINHO
O deputado federal paraense
Gerson Peres estava empenhado na sua reeleição, em campanha no rio Tocantins com sua
base eleitoral.
O governador do Pará, seu aliado, o acompanhava havia dois
dias. Haviam feito refeições em
casa de cabos eleitorais, os eleitores a soltar foguetes.
A maionese e o camarão abundavam à mesa, servidos às vezes
sob um sol abrasador no almoço.
Em campanha, os políticos frequentemente almoçam e jantam
várias vezes no mesmo dia.
Negar o repasto seria perder votos irremediavelmente.
O governador, o mais homenageado, não podia se fazer de rogado, ainda que vendo o prato gentilmente servido a ele com a
maionese desmanchando-se ao
calor equatorial.
Ao regressarem a Cametá, a
histórica cidade do Baixo Tocantins onde morava Gerson Peres,
usaram uma lancha voadeira,
confortável, mas desprovida de
toalete, emprestada por um pastor evangélico que a dirigia.
Sentindo os primeiros sintomas
de cólicas intestinais, o governador pensou dar tempo para chegarem à casa do deputado, mas
as cólicas tornaram-se insuportáveis.
O jeito foi parar no primeira casa à margem do rio.
Subiram uma pequena escada
na palafita e começaram a percorrer um trapiche quando o caboclo, dona da casa, veio pressuroso recebê-los.
O deputado, angustiado com a
expressão de dor do governador,
apressou-se a pedir ao dono da
pobre casa que levasse urgente o
governador ao sanitário.
Solícito e entusiasmado com a
visita inesperada, o caboclo caminhou pelo trapiche, percorreu alguns cômodos da casa de madeira local e finalmente parou numa
sala ampla, diante da imagem de
Nossa Senhora de Nazaré, dando
a missão por cumprida.
Para desespero do governador,
estava ele diante do santuário da
padroeira dos paraenses.
O pobre do caboclo, que nunca
ouvira a palavra sanitário, mas
que era bom devoto da santa, levou os dois, o governador e o deputado, ao santuário onde fazia o
culto à Virgem de Nazaré .
A santa fez o "milagre". A cólica
cessou de vez...
Jarbas Passarinho, 82, governador do
Pará (1964 a 1966), ministro do Trabalho
no governo de Costa e Silva e da Justiça
no governo de Fernando Collor, escreve
às sextas-feiras nesta seção
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