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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/SABATINA FOLHA
Presidente do partido afirma que é preciso reformular a sigla para que ela seja requalificada "enquanto representação de ética pública"
Hoje não há razão para voto no PT, diz Tarso
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente nacional do PT,
Tarso Genro, disse ontem, em sabatina realizada pela Folha, que o
atual quadro político coloca em
xeque a eventual reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mantendo o discurso autocrítico
-postura vista com ressalvas por
parte da direção petista-, afirmou que, hoje, não saberia dar argumentos para que um eleitor vote no partido nas eleições de 2006.
Apesar de dizer que a discussão
da candidatura petista ao Planalto
não deve ser feita agora, citou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e o prefeito
de Aracaju (SE), Marcelo Déda,
como bons quadros para o posto
caso Lula não dispute a eleição.
Crítico em relação aos rumos da
política econômica, o presidente
do PT disse ainda que o ministro
Antonio Palocci (Fazenda) não
receberia seu voto numa disputa
interna para uma eventual escolha da candidatura presidencial
do partido para o ano que vem
(leia texto na página ao lado).
Apesar de listar os erros do PT,
entre os quais um dos principais,
para Tarso, foi interromper internamente o debate da política econômica, ele fez uma defesa incondicional do presidente Lula, isentando-o de qualquer envolvimento nas denúncias que recaem sobre os partidos da base aliada.
Por quase duas horas, o presidente do PT respondeu a perguntas dos jornalistas Josias de Souza
e Kennedy Alencar, dos colunistas Barbara Gancia e Demétrio
Magnoli e de parte da platéia que
assistiu à sabatina, realizada no
Teatro Folha, no shopping Pátio
Higienópolis, em São Paulo.
Foi após uma pergunta da platéia, feita por uma jovem de 17
anos, que Tarso afirmou: "Neste
momento, não saberia dar argumento [para que um eleitor vote
no PT]". Para o dirigente, é preciso reformular o partido, dar cara a
um novo projeto da legenda que a
requalifique "enquanto representação de ética pública" e mostrar
aos eleitores que os "erros graves
cometidos não vão se repetir".
Tarso afirmou que outros partidos de centro-esquerda no mundo passaram por situações análogas, como os democratas cristãos
italianos e o partido socialista espanhol. "Isso tem algumas explicações que são de natureza histórica e que diz respeito a questões
filosóficas, teóricas, profundas e
questões relacionadas com responsabilidades individuais", disse. "Prefiro dizer à jovem que fez a
pergunta que espere mais um
tempo, dê mais um tempo, mas
esteja disposta a ouvir nossos argumentos no próximo período."
O novo partido, diz o presidente
do PT, passa pela recomposição
de sua política de alianças, que deveria se concentrar em partidos
de centro-esquerda. Ressaltou
não estar se referindo ao PSDB.
É a partir dessa nova composição, afirma Tarso, que o PT poderá resgatar sua base social, dando
novo fôlego à esquerda brasileira.
Ao questionar a viabilidade de
uma vitória de Lula nas eleições
do ano que vem, Tarso ressaltou
que não estava fazendo um julgamento "moral" do governo por
conta da crise política. "Mas acho
também que a configuração política de forças hoje pode ser mudada", disse o presidente petista, antes de concluir: "Tanto para melhor quanto para pior".
Amorfo
Tarso luta internamente para
colocar em prática seu discurso
de "refundação" do PT. Diz que,
para isso, é preciso haver uma
completa desvinculação da direção anterior. No caso, o recado é
para o ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP), que permanece, contra a vontade de Tarso, na
chapa do Campo Majoritário,
corrente interna petista que domina as decisões do partido.
"Ou constituímos um novo núcleo dirigente que tenha como
meta a refundação do partido,
que é reconstruir os seus alicerces,
ou fazemos uma transição mais
lenta, mantendo o vínculo maior
com a direção anterior. As duas
possibilidades existem e são respeitáveis. Só que estou vinculado
a uma delas", disse Tarso, em entrevista após a sabatina da Folha.
"O risco [de manter a antiga direção] é o PT se transformar num
partido amorfo e tradicional."
A decisão sobre a permanência
de Dirceu na chapa que concorrerá à direção do partido -as eleições estão marcadas para 18 de setembro- deve ser tomada hoje.
Pouco antes, ainda durante a sabatina, Tarso desafiou os adversários. "Quero saber qual o partido
que está fazendo isso também.
Quero saber qual o outro partido
que tem a coragem de se reconstruir", disse o presidente do PT.
(CONRADO CORSALETTE, LILIAN CHRISTOFOLETTI e FLÁVIA MARREIRO)
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