São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/SABATINA FOLHA

Presidente do partido afirma que é preciso reformular a sigla para que ela seja requalificada "enquanto representação de ética pública"

Hoje não há razão para voto no PT, diz Tarso

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente nacional do PT, Tarso Genro, disse ontem, em sabatina realizada pela Folha, que o atual quadro político coloca em xeque a eventual reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mantendo o discurso autocrítico -postura vista com ressalvas por parte da direção petista-, afirmou que, hoje, não saberia dar argumentos para que um eleitor vote no partido nas eleições de 2006.
Apesar de dizer que a discussão da candidatura petista ao Planalto não deve ser feita agora, citou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, como bons quadros para o posto caso Lula não dispute a eleição.
Crítico em relação aos rumos da política econômica, o presidente do PT disse ainda que o ministro Antonio Palocci (Fazenda) não receberia seu voto numa disputa interna para uma eventual escolha da candidatura presidencial do partido para o ano que vem (leia texto na página ao lado).
Apesar de listar os erros do PT, entre os quais um dos principais, para Tarso, foi interromper internamente o debate da política econômica, ele fez uma defesa incondicional do presidente Lula, isentando-o de qualquer envolvimento nas denúncias que recaem sobre os partidos da base aliada.
Por quase duas horas, o presidente do PT respondeu a perguntas dos jornalistas Josias de Souza e Kennedy Alencar, dos colunistas Barbara Gancia e Demétrio Magnoli e de parte da platéia que assistiu à sabatina, realizada no Teatro Folha, no shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo.
Foi após uma pergunta da platéia, feita por uma jovem de 17 anos, que Tarso afirmou: "Neste momento, não saberia dar argumento [para que um eleitor vote no PT]". Para o dirigente, é preciso reformular o partido, dar cara a um novo projeto da legenda que a requalifique "enquanto representação de ética pública" e mostrar aos eleitores que os "erros graves cometidos não vão se repetir".
Tarso afirmou que outros partidos de centro-esquerda no mundo passaram por situações análogas, como os democratas cristãos italianos e o partido socialista espanhol. "Isso tem algumas explicações que são de natureza histórica e que diz respeito a questões filosóficas, teóricas, profundas e questões relacionadas com responsabilidades individuais", disse. "Prefiro dizer à jovem que fez a pergunta que espere mais um tempo, dê mais um tempo, mas esteja disposta a ouvir nossos argumentos no próximo período."
O novo partido, diz o presidente do PT, passa pela recomposição de sua política de alianças, que deveria se concentrar em partidos de centro-esquerda. Ressaltou não estar se referindo ao PSDB.
É a partir dessa nova composição, afirma Tarso, que o PT poderá resgatar sua base social, dando novo fôlego à esquerda brasileira.
Ao questionar a viabilidade de uma vitória de Lula nas eleições do ano que vem, Tarso ressaltou que não estava fazendo um julgamento "moral" do governo por conta da crise política. "Mas acho também que a configuração política de forças hoje pode ser mudada", disse o presidente petista, antes de concluir: "Tanto para melhor quanto para pior".

Amorfo
Tarso luta internamente para colocar em prática seu discurso de "refundação" do PT. Diz que, para isso, é preciso haver uma completa desvinculação da direção anterior. No caso, o recado é para o ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP), que permanece, contra a vontade de Tarso, na chapa do Campo Majoritário, corrente interna petista que domina as decisões do partido.
"Ou constituímos um novo núcleo dirigente que tenha como meta a refundação do partido, que é reconstruir os seus alicerces, ou fazemos uma transição mais lenta, mantendo o vínculo maior com a direção anterior. As duas possibilidades existem e são respeitáveis. Só que estou vinculado a uma delas", disse Tarso, em entrevista após a sabatina da Folha. "O risco [de manter a antiga direção] é o PT se transformar num partido amorfo e tradicional."
A decisão sobre a permanência de Dirceu na chapa que concorrerá à direção do partido -as eleições estão marcadas para 18 de setembro- deve ser tomada hoje.
Pouco antes, ainda durante a sabatina, Tarso desafiou os adversários. "Quero saber qual o partido que está fazendo isso também. Quero saber qual o outro partido que tem a coragem de se reconstruir", disse o presidente do PT. (CONRADO CORSALETTE, LILIAN CHRISTOFOLETTI e FLÁVIA MARREIRO)

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