|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Surpresos, acadêmicos associam pico de aprovação de Lula a Bolsa-Família
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Dizendo-se surpresos com a
aprovação recorde do desempenho do governo Luiz Inácio
Lula da Silva, cientistas políticos e economistas creditaram a
tendência especialmente à
consolidação do programa Bolsa-Família em associação com
a estabilidade da economia.
Em pesquisa Datafolha publicada ontem, a gestão do presidente foi avaliada como ótima
ou boa por 52% da população, o
maior índice desde que o instituto iniciou esse tipo de levantamento, em maio de 1987. O
recorde anterior (47% de
bom/ótimo) era do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 1996.
Na visão de acadêmicos de
variadas tendências, os escândalos de corrupção que atingiram a gestão petista não impediram o salto de Lula porque a
opinião pública brasileira é volátil e, em sua maioria, subestima os valores da ética na política, estando mais preocupada
com necessidades elementares,
como renda e alimentação.
"Apenas o fato de que a economia está estável não bastaria
para alçar o Lula, porque às vezes isso não se reflete no bolso.
Mas aí entra o Bolsa-Família,
que aumenta diretamente a
renda dos pobres. Essa combinação é que faz a diferença",
observa a professora Maria D"
Alva Kinzo, do Departamento
de Ciência Política da USP.
O programa social de transferência de renda -que paga
entre R$ 15 e R$ 95 a famílias
com ganhos de até R$ 120 mensais por pessoa-, já atinge 11,1
milhões de famílias.
É justamente na região Nordeste, entre os que ganham menos (até 5 salários mínimos) e
são menos instruídos (até o ensino fundamental) que a avaliação positiva sobe (68%, 54% e
57%, respectivamente).
"Nunca um programa atingiu
tão fundo os estratos sociais
mais pobres do país. Esse é o diferencial de Lula, que, ao mesmo tempo, não tem recebido
notícia ruim na área econômica", diz o cientista político Carlos Ranulfo Melo, da Universidade Federal de Minas Gerais.
O mensalão por si só, interpretam, não tem força para barrar o avanço de Lula por razões
culturais. "Nas camadas mais
populares, essas questões morais não têm tanta importância
quanto têm para a classe média", afirma o economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da Fundação Getúlio Vargas e colunista da Folha.
"Além do mais", aponta ele,
"a oposição não se coloca como
alternativa viável, até porque
governou por oito anos sem
produzir avanços em termos
sociais, econômicos e éticos."
O cientista político Leôncio
Martins Rodrigues concorda
com a força do Bolsa-Família,
mas avalia que a retórica de Lula e sua identificação com os
mais pobres preponderam.
"A capacidade do presidente
de transformar acusações de
corrupção em bandeiras contra
a corrupção é enorme, e decorre da sua identificação com o
eleitor pobre e menos instruído. É algo que nenhum outro
candidato consegue, porque
nele não é postiço, é natural."
Texto Anterior: No Rio, presidente recorre à ajuda de funkeira e de rapper Próximo Texto: Eleições 2006/Presidência: Heloísa decide atacar Alckmin na televisão Índice
|