São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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Surpresos, acadêmicos associam pico de aprovação de Lula a Bolsa-Família

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Dizendo-se surpresos com a aprovação recorde do desempenho do governo Luiz Inácio Lula da Silva, cientistas políticos e economistas creditaram a tendência especialmente à consolidação do programa Bolsa-Família em associação com a estabilidade da economia.
Em pesquisa Datafolha publicada ontem, a gestão do presidente foi avaliada como ótima ou boa por 52% da população, o maior índice desde que o instituto iniciou esse tipo de levantamento, em maio de 1987. O recorde anterior (47% de bom/ótimo) era do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 1996.
Na visão de acadêmicos de variadas tendências, os escândalos de corrupção que atingiram a gestão petista não impediram o salto de Lula porque a opinião pública brasileira é volátil e, em sua maioria, subestima os valores da ética na política, estando mais preocupada com necessidades elementares, como renda e alimentação.
"Apenas o fato de que a economia está estável não bastaria para alçar o Lula, porque às vezes isso não se reflete no bolso. Mas aí entra o Bolsa-Família, que aumenta diretamente a renda dos pobres. Essa combinação é que faz a diferença", observa a professora Maria D" Alva Kinzo, do Departamento de Ciência Política da USP.
O programa social de transferência de renda -que paga entre R$ 15 e R$ 95 a famílias com ganhos de até R$ 120 mensais por pessoa-, já atinge 11,1 milhões de famílias.
É justamente na região Nordeste, entre os que ganham menos (até 5 salários mínimos) e são menos instruídos (até o ensino fundamental) que a avaliação positiva sobe (68%, 54% e 57%, respectivamente).
"Nunca um programa atingiu tão fundo os estratos sociais mais pobres do país. Esse é o diferencial de Lula, que, ao mesmo tempo, não tem recebido notícia ruim na área econômica", diz o cientista político Carlos Ranulfo Melo, da Universidade Federal de Minas Gerais.
O mensalão por si só, interpretam, não tem força para barrar o avanço de Lula por razões culturais. "Nas camadas mais populares, essas questões morais não têm tanta importância quanto têm para a classe média", afirma o economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da Fundação Getúlio Vargas e colunista da Folha.
"Além do mais", aponta ele, "a oposição não se coloca como alternativa viável, até porque governou por oito anos sem produzir avanços em termos sociais, econômicos e éticos."
O cientista político Leôncio Martins Rodrigues concorda com a força do Bolsa-Família, mas avalia que a retórica de Lula e sua identificação com os mais pobres preponderam.
"A capacidade do presidente de transformar acusações de corrupção em bandeiras contra a corrupção é enorme, e decorre da sua identificação com o eleitor pobre e menos instruído. É algo que nenhum outro candidato consegue, porque nele não é postiço, é natural."


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