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Valor de indenizações pagas provoca jogo de pressão e críticas
Grupos que representam anistiados se dizem insatisfeitos com a alteração no cálculo dos valores das reparações pagas
Câmara criou grupo para acompanhar trabalhos
da Comissão de Anistia; integrantes consideram medida uma intimidação
DO ENVIADO A BRASÍLIA
Por trás da discussão sobre
distorções na concessão de indenizações milionárias a anistiados políticos existe, de um
lado, uma forte pressão de alguns grupos organizados, e, de
outro, críticas a falhas da lei.
Enquanto a questão dos crimes cometidos de ambos os lados e da busca da verdade sobre
muitos casos permanecem com
poucos avanços, a indenização
aos prejudicados pela ditadura
militar tem funcionado há
anos. E acabou por levar uma
série de críticas.
Integrantes tanto da Comissão de Anistia do governo federal quanto de grupos insatisfeitos com decisões recentes do
órgão relatam a guerra nos bastidores. O mais recente instrumento para canalizar a pressão,
dizem os dois lados, foi a criação de uma comissão na Câmara, a Ceanisti (Comissão Especial de Anistia), para acompanhar os trabalhos da Comissão
de Anistia.
O presidente da Comissão de
Anistia, Paulo Abrão, já foi chamado mais de uma vez para depor sobre casos em que o desfecho não foi favorável a quem fez
o pedido, o que é visto como
uma tentativa de intimidação
por alguns integrantes da entidade, que fazem críticas sob
condição de sigilo.
Um documento a que a Folha teve acesso, elaborado por
entidades que representam
anistiados, lista 13 pontos de
descontentamento, todos relacionados a respostas negativas
a pedidos de indenização ou a
valores abaixo dos esperados.
O principal motivo para a escalada na disputa entre o governo e os grupos de anistiados é
uma mudança na interpretação
da lei que criou a Comissão de
Anistia, em 2002.
Até dois anos atrás, o governo pagava as indenizações vitalícias e os retroativos com referência no ponto em que a carreira do perseguido estaria se
não tivesse sido interrompida.
Na prática, é como se todos os
que fazem os pedidos estivessem no auge da carreira -mesmo quando retomaram seus
empregos alguns meses depois
ou partiram para outras profissões e foram bem-sucedidos.
Desde então, Abrão passou a
aplicar um "princípio da razoabilidade e da adequação aos valores atuais", com uma média
do salário da profissão, não
mais o topo. Isso levou a uma
queda no valor médio das indenizações.
O ministro da Justiça, Tarso
Genro, disse à Folha que a legislação é "imperfeita" e permite distorções nos valores das
indenizações. Mas afirma que
não deve haver mudanças. "É
difícil, porque a pressão maior
que existe para modificações
vai no sentido contrário a essa
visão [de que as reparações são
exageradas]."
Para Tarso, "o próprio conceito de anistia no Brasil é totalmente deformado".
"Qual é a moralidade que está contida num perdão que o
regime militar dá a quem resistiu contra ele, dizendo que eles
são criminosos, por isso devem
ser perdoados? O conceito de
Anistia que temos de trabalhar
é o contrário, que o Estado diga
para o cidadão que ele errou, e
que ele está pedindo desculpas
ao cidadão. Tem danos que a
ditadura causou para indivíduos e famílias que são absolutamente impagáveis", afirma.
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