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Cabo Anselmo ainda vive como clandestino
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
José Anselmo dos Santos,
o Cabo Anselmo, diz ser o
único brasileiro não beneficiado pela Lei da Anistia.
A alegação dele, em parte
verdadeira, é que continua,
30 anos depois da promulgação da lei em 1979, vivendo
na clandestinidade, sem
identidade, CPF, não podendo votar ou frequentar o sistema único de saúde.
Líder da revolta dos marinheiros que deflagrou a queda do governo João Goulart,
em 1964, o ex-marujo vive,
desde que foi preso, sem sua
identidade original.
"Ele foi anistiado de direito, mas não de fato", afirma
seu advogado, Luciano
Blandy. Além de recuperar
seus documentos (o processo na Justiça está na fase final), o ex-militar tenta uma
reparação econômica pela
perseguição que afirma ter
sofrido na ditadura.
Cabo Anselmo protocolou,
em 2004, um pedido na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, ainda sem
data para ser apreciado.
"É justo que [ele] receba
uma indenização, ainda mais
considerando que os males
impostos a ele naquela época
perduram até hoje. O próprio fato de ser considerado
um "traidor", "assassino" e todos os demais adjetivos que
atribuem a ele, são máculas
que devem ser atribuída ao
regime que foi seu algoz",
completa Blandy.
O regime que o advogado
se refere foi o mesmo que Cabo Anselmo integrou como
agente do Dops (Departamento de Ordem Política e
Social) em São Paulo, chefiado por Sérgio Fleury. Suas
delações levaram dezenas de
pessoas à morte e à tortura.
Foram agentes da repressão que ajudaram Anselmo a
viver nos anos pós-1973,
quando ele diz ter participado pela última vez de uma
ação contra organizações de
esquerda. Foi com o auxílio
deles que o ex-marinheiro alterou o rosto por meio de
uma cirurgia plástica e conseguiu uma das várias identidades falsas que teve.
Trinta anos depois da promulgação da Lei da Anistia,
Anselmo ainda sobrevive
graças ao apoio -inclusive financeiro- de ex-agentes da
repressão.
(LUCAS FERRAZ)
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