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Criança tem
8 meses e 3 kg
do enviado especial ao Ceará
Graciele Felinto da Silva é desnutrida desde que nasceu, há oito
meses. Sua mãe, Francisca da Silva, 18, também sempre foi desnutrida. Graciele pesa 2,9 kg. O normal seria ter 8 kg. Aos seis meses
de idade chegou a pesar 1,5 kg,
quando deveria ter 6 kg.
Soro ligado ao pé, a menina respira devagar, em pequenos sobressaltos no berço do hospital pediátrico Moura Rocha, na cidade
cearense do Crato, onde está internada em estado grave há dez dias.
A internação, com 40 graus de
febre e "obrando verde", foi conseguida depois que o hospital de
Antonina do Norte, na periferia
do Crato, recusou-se a recebê-la,
por falta de medicamentos.
Como a mãe, Graciele é anêmica.
Até quinta passada consumira dez
tubos de soro e uma bolsa de sangue. É a única filha de Francisca,
que pesava 39 kg quando deu à
luz, aos sete meses de gravidez.
O marido, de 24 anos, deixou a
região, refazendo a trajetória de
milhões de nordestinos neste século. Conseguiu vaga numa transportadora em São Paulo, de onde
envia R$ 100 por mês.
A mãe diz que nunca faltou leite
para Graciele, mesmo depois das
interrupções havidas no programa
de distribuição de leite no Ceará.
A água que Graciele bebe não é
tratada, vem da bica da casa. É o
único líquido que ela não vomita.
Os médicos acham que Graciele
até que está reagindo bem à hospitalização. Antes, ela nem tinha
energia para chorar.
Graciele nunca mamou no peito,
porque não conseguia sugar, segundo a mãe. Também não se
adaptou ao leite em pó, o que
agrava o quadro criado pelas contínuas diarréias.
Há estudos que dizem que apenas dois anos de escolaridade reduzem a mortalidade infantil em
índices que variam de 38% a 60%.
Francisca estudou até a quinta
série do primeiro grau, só que não
aprendeu a ler nem escrever. Ao
lado da filha, a mãe procura manter a esperança: "Sempre eu tive fé
de que ela fosse viver. Tenho o medo maior do mundo de ela morrer".
(MVS)
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