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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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CAIXA VAZIO

Ministro faz crítica a pedido de Lula e afirma que infra-estrutura é um caos

Adauto cobra verbas e diz que criatividade é restrita

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Anderson Adauto (Transportes) afirmou ontem que a infra-estrutura do país é um "caos", cobrou mais investimentos para a área, considerados "ridículos" por ele, e disse que "o volume de criatividade é bastante restrito" para cumprir os programas da pasta. É uma crítica indireta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem pedido aos ministros que usem a criatividade nos gastos em vez de reclamarem.
Ontem, o governo anunciou novo contingenciamento, e o Ministério dos Transportes foi o que, nominalmente, teve o maior volume de verba cortada: R$ 114 milhões. Ele deu as declarações antes do anúncio oficial dos cortes.
"O essencial que poderíamos [no ministério] apresentar como mudança em relação ao governo anterior é a preocupação com a boa aplicação de recursos. O resto é em função do quantitativo de recursos que o Ministério dos Transportes obtiver com a equipe econômica. O volume de criatividade é bastante restrito", disse.
Lula, em um discurso no dia 1º de setembro, cobrou dos ministros uma postura criativa em vez de ficar reclamando da falta de dinheiro: "Nós temos pouco, mas temos de colocar nossa criatividade acima dos recursos".
Adauto fez as críticas quando prestava esclarecimentos na Câmara dos Deputados sobre os 322 contratos e convênios paralisados no ministério, o que corresponderia a 13.580 quilômetros de rodovias e estruturas como pontes e viadutos. Segundo o ministro, seriam necessários R$ 5,1 bilhões para concluir essas obras.
Essa, no entanto, não era a disposição do ministro ontem. Ele considerou os R$ 2,3 bi destinados para a pasta no Orçamento de 2004 insuficientes, e afirmou que o ideal seria o dobro.
"O país chegou a aplicar 1,8% do PIB em infra-estrutura, entre 1975 e 1977, depois foi caindo até chegar a ridículos 0,2% em 2003", afirmou Adauto, enquanto apontava um gráfico com o histórico de investimentos no setor.
Ele atribui a queda na aplicação de recursos ao fim do Fundo Rodoviário Nacional. "Até 1987, o Brasil fez investimentos em infra-estrutura. Tínhamos o Fundo Rodoviário Nacional. A partir de 1987, o país deixou de fazer investimentos, criando esse caos. O buraco nas estradas é apenas o problema mais aparente. Temos portos que só podem operar na maré cheia", afirmou o ministro.
De acordo com Adauto, dos R$ 2,3 bilhões destinados pelo governo para os Transportes em 2004, R$ 1,8 bilhão estariam comprometidos com o programa de recuperação de rodovias, R$ 450 milhões com gestão, sobrando R$ 50 milhões "para tudo: hidrovias, ferrovias e obras inacabadas".
Sobre sua condenação pela Justiça Eleitoral de Uberaba (MG) a ficar inelegível por três anos, a partir de 2004, ele disse que é uma questão "paroquial" e não tem repercussão no ministério.
Adauto foi condenado por usar o avião da Assembléia Legislativa mineira, quando presidia a Casa, para viajar durante a campanha eleitoral em que disputou a prefeitura do município, em 2000. O ministro afirmou anteontem que irá recorrer da decisão.
Na audiência pública realizada ontem, os deputados cobraram a conclusão de obras em seus respectivos Estados. Durante o encontro, ele afirmou que, no setor hidroviário, as prioridades são a hidrovia Tietê-Paraná, a conclusão da eclusa de Tucuruí e dar navegabilidade ao rio São Francisco.


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