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ELIO GASPARI
Feliz o analfabeto que não lê este artigo
O tucanato contava uma
linda história: a elevação
do nível de escolaridade do brasileiro produziria ganhos de produtividade que alavancariam
um período de inédita prosperidade em Pindorama. Lorota. O
professor Márcio Pochmann
(Unicamp) informa: em 2000,
em São Paulo, para cada desempregado analfabeto, havia dois
desempregados com diploma de
curso superior. Dando números
aos bois, havia 23 mil analfabetos desempregados e 45 mil cidadãos com o curso superior completo desocupados. Se essa tendência se manteve (e não há motivo para duvidar disso), há hoje
66 mil desempregados com diploma em São Paulo. Os analfabetos desocupados seriam 36 mil.
O país onde vivem esses diplomados é a 13ª economia do mundo. Há 20 anos, era a oitava. Se
tivesse continuado a crescer ao
ritmo dos anos 60/70 (que Pochmann chama de ciclo da jaca,
pelo tamanho da árvore e do fruto), o Brasil seria hoje a quinta
potencia econômica do mundo,
depois dos EUA, do Japão, da
Alemanha e da França, à frente
da Inglaterra e da Espanha. Se
continuar no ciclo do bonsai
(aquele em que cada galho de
crescimento deve ser devidamente avaliado e, quase sempre,
podado), será a 19ª, junto com a
Índia.
Pochmann ocupa atualmente
a Secretaria do Trabalho da Prefeitura de São Paulo. Ele é um
daqueles economistas que descobrem os números que os governos preferem deixar na sombra.
Enlouqueceu o tucanato quando
mostrou que, depois da Índia, o
Brasil era o país com o maior número absoluto de desempregados no mundo. Era uma vinheta,
pois estava implícita a relatividade do tamanho da população.
Hoje são os tucanos que enlouquecem os petistas, pois ninguém
tira do governo de Lula o vice-campeonato mundial de desemprego por pelo menos dois anos.
Algum dia, Lula decidirá se
acaba com o terceiro mandato
de FFFHHH. Ele pode decidir
encerrar o triste período da história nacional que abriu seu alçapão nos anos 80 e levou uma
geração de brasileiros para o andar de baixo. Essa é a verdadeira
herança maldita. Infelizmente, o
PT federal resolveu se tornar
parte dela. Pena, porque algum
dia vai herdar a própria maldição.
O desemprego é apenas parte
do estratagema maldito. Entre
1950 e 1980, no ciclo da jaca, a
participação do trabalho na renda nacional ia a 55% do PIB.
Em 1980, caiu para 50%. Hoje,
ela está em 36%. Já as rendas do
capital, aquelas que a ekipekonômica ceva com seus juros,
manteve-se em 45%. No ciclo do
bonsai, torraram os bens da Viúva, destruíram a qualidade dos
serviços públicos, agrediram a
máquina do Estado e desmoralizaram seus servidores.
Mesmo assim, em 1992, o governo mordia 12% e, no ano passado, passou a morder 19% do
PIB nacional. Divertidas essas
ekipekonômicas: degradam os
serviços, mas aumentam a mordida. Depois da privataria tucana, o governo prepara a terceirização (com garantia de retorno)
dos seus serviços básicos. Chamam o truque de PPP (Parceria
Público Privado, mas podem
chamar também de Pilhagem do
Patrimônio da Patuléia).
O PT foi levado ao poder porque o Brasil vivia essa crise de
duas décadas. Se decidiu ser a
própria crise, problema dele.
Quem se dá bem numa situação
dessas é o analfabeto. Consola-se
com o desemprego dos diplomados e não se chateia lendo artigos
como este.
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