São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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ENERGIA

Entidade contradiz versão divulgada pelo governo

Agência nega acordo para inspeção da unidade nuclear em Resende

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) negou ontem que haja um acordo concluído com o Brasil para a inspeção da unidade nuclear de Resende (RJ). A resposta da entidade contradiz a versão divulgada anteontem pelo governo -o Ministério da Ciência e Tecnologia informou que havia chegado ao fim do impasse sobre a vistoria.
Desde abril, a verificação da unidade nuclear tem sido motivo de conflito entre a agência, ligada à ONU (Organização da Nações Unidas), e o governo brasileiro, que não quer mostrar os aparelhos que produzem urânio enriquecido. O caso ganhou repercussão internacional.
O porta-voz da agência, Mark Gwozdecky, afirmou ontem: "Foi feito algum progresso, mas seguimos em discussão com as autoridades brasileiras". No dia 18 de outubro, uma equipe da agência virá ao país para avaliar os "enfoques" da inspeção.
A agência quer ter acesso às centrífugas de enriquecimento de urânio, pois afirma que o procedimento garantiria que não há desvio para outros fins. O urânio enriquecido serve para alimentar as usinas de energia nuclear, mas também pode ser utilizado para a fabricação de bombas.
Já o Brasil afirma que as máquinas têm tecnologia nacional e produzem o elemento enriquecido a um custo mais baixo do que as demais tecnologias utilizadas no mundo. O acesso irrestrito colocaria em xeque a vantagem do país. Especula-se que a pressão para a vistoria total venha dos Estados Unidos.
Em nota, o Ministério da Ciência e Tecnologia mudou ontem o tom sobre o resultado da reunião entre o ministro Eduardo Campos e o egípcio Mohamed el Baradei, chefe da AIEA, na Áustria.
"Os contatos em Viena permitiram chegar a um entendimento comum entre a AIEA e o Brasil sobre os princípios que vão orientar o enfoque de salvaguardas da planta de enriquecimento de Resende", diz o texto divulgado pelo ministério ontem.

Painéis de alumínio
A pasta de Eduardo Campos informa que "uma fórmula" ainda está sendo finalizada. Em entrevista à TV Globo, Campos, no entanto, disse na quarta-feira, na Áustria, que estavam "acordados" os "princípios gerais" sobre a inspeção.
A assessoria de imprensa havia confirmado que a AIEA tinha concordado em fazer a vistoria com as centrífugas cobertas por painéis de alumínio, mas com brechas que permitiriam ver as tubulações ligadas aos aparelhos.
Em maio, uma declaração de Campos sobre questões nucleares também causou repercussão internacional. Na viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma comissão de ministros à China, Campos deu a entender em uma entrevista que o Brasil venderia urânio para os chineses.
A unidade nuclear de Resende será a primeira fábrica de enriquecimento de urânio no país. Para entrar em funcionamento precisa do aval da AIEA e da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear).


Com agências internacionais


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