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ENERGIA
Entidade contradiz versão divulgada pelo governo
Agência nega acordo para inspeção da unidade nuclear em Resende
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A AIEA (Agência Internacional
de Energia Atômica) negou ontem que haja um acordo concluído com o Brasil para a inspeção
da unidade nuclear de Resende
(RJ). A resposta da entidade contradiz a versão divulgada anteontem pelo governo -o Ministério
da Ciência e Tecnologia informou
que havia chegado ao fim do impasse sobre a vistoria.
Desde abril, a verificação da
unidade nuclear tem sido motivo
de conflito entre a agência, ligada
à ONU (Organização da Nações
Unidas), e o governo brasileiro,
que não quer mostrar os aparelhos que produzem urânio enriquecido. O caso ganhou repercussão internacional.
O porta-voz da agência, Mark
Gwozdecky, afirmou ontem: "Foi
feito algum progresso, mas seguimos em discussão com as autoridades brasileiras". No dia 18 de
outubro, uma equipe da agência
virá ao país para avaliar os "enfoques" da inspeção.
A agência quer ter acesso às centrífugas de enriquecimento de
urânio, pois afirma que o procedimento garantiria que não há desvio para outros fins. O urânio
enriquecido serve para alimentar
as usinas de energia nuclear, mas
também pode ser utilizado para a
fabricação de bombas.
Já o Brasil afirma que as máquinas têm tecnologia nacional e
produzem o elemento enriquecido a um custo mais baixo do que
as demais tecnologias utilizadas
no mundo. O acesso irrestrito colocaria em xeque a vantagem do
país. Especula-se que a pressão
para a vistoria total venha dos Estados Unidos.
Em nota, o Ministério da Ciência e Tecnologia mudou ontem o
tom sobre o resultado da reunião
entre o ministro Eduardo Campos e o egípcio Mohamed el Baradei, chefe da AIEA, na Áustria.
"Os contatos em Viena permitiram chegar a um entendimento
comum entre a AIEA e o Brasil sobre os princípios que vão orientar
o enfoque de salvaguardas da
planta de enriquecimento de Resende", diz o texto divulgado pelo
ministério ontem.
Painéis de alumínio
A pasta de Eduardo Campos informa que "uma fórmula" ainda
está sendo finalizada. Em entrevista à TV Globo, Campos, no entanto, disse na quarta-feira, na
Áustria, que estavam "acordados" os "princípios gerais" sobre
a inspeção.
A assessoria de imprensa havia
confirmado que a AIEA tinha
concordado em fazer a vistoria
com as centrífugas cobertas por
painéis de alumínio, mas com
brechas que permitiriam ver as
tubulações ligadas aos aparelhos.
Em maio, uma declaração de
Campos sobre questões nucleares
também causou repercussão internacional. Na viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
uma comissão de ministros à China, Campos deu a entender em
uma entrevista que o Brasil venderia urânio para os chineses.
A unidade nuclear de Resende
será a primeira fábrica de enriquecimento de urânio no país.
Para entrar em funcionamento
precisa do aval da AIEA e da Cnen
(Comissão Nacional de Energia
Nuclear).
Com agências internacionais
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