|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2006 / PARANÁ
Acusado de grampo citava Requião e se dizia seu "araponga"
Investigador preso sob acusação de fazer interceptações ilegais negociava compra de equipamentos em nome do governador
Oposição acusa Requião de usar Delcio Rasera como araponga com fins políticos; governador afirma que caso não é problema do palácio
Reprodução da TV Paraense
|
O investigador Delcio Augusto Rasera, acusado de chefiar quadrilha que fazia grampos ilegais |
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Gravações e documentos em
poder do Ministério Público indicam que o investigador Delcio Augusto Rasera, que trabalhava na Casa Civil do governo
do Paraná e foi preso há três semanas acusado de chefiar uma
quadrilha de interceptações telefônicas ilegais, negociava com
empresas a compra de equipamentos para o Estado em nome
do governador licenciado Roberto Requião (PMDB), candidato à reeleição.
Numa conversa captada por
escuta telefônica autorizada
pela Justiça, Rasera diz a uma
representante da Pctel, uma
firma que fabrica gravadores
telefônicos para computador,
que pode intermediar a aquisição de equipamentos para o governo. No diálogo, ele se refere
a Requião como "meu governador" e diz que trabalha no governo como araponga.
"A minha participação no governo, eles me olham como um
araponga, entendeu como é
que é? Agora eu vou entrar no
ramo do mercado, de vender
merchandising para eles", diz.
Uma evidência de que a gravação é recente é uma menção
de Rasera à aliança de PMDB e
PSDB nas eleições estaduais. O
acordo foi selado em junho,
mas anulado em agosto pelo
Tribunal Regional Eleitoral.
Rasera, que está preso numa
delegacia de Curitiba, é acusado também de porte ilegal de
arma. Nos escritórios onde
atuaria o policial civil, a PIC
(Promotoria de Investigações
Criminais), braço do Ministério Público paranaense que
coordena a operação, encontrou, além de aparelhos para fazer grampos, dezenas de armas
(até fuzis de uso exclusivo do
Exército) e munição pesada. A
oposição acusa Requião de usar
Rasera como araponga com
fins políticos. O governador nega e diz que o investigador "não
é problema do Palácio".
Rasera usava um cartão de
visitas de "assessor da Governadoria" e, graças à intervenção de Requião, teve arquivados quatro processos disciplinares a que respondia na Polícia Civil. Na investigação da
PIC, há indícios de que o acusado realizava serviços de grampo para membros do Executivo
e do Judiciário do Paraná.
Num dos CDs do material
apreendido, há também a cópia
de uma carta identificada como
"Confidencial", na qual Rasera
indica a um representante da
Nextel os passos para conseguir que o sistema fosse adotado na Casa Militar e na Granja
do Cangüiri, onde vive Requião.
Falando como "assessor do
governo", Rasera informa ao
representante José Quaresma
Ribeiro que há mais de 200
usuários potenciais do telefone
móvel da Nextel no governo. A
Casa Militar e a Secretaria da
Segurança adotaram o celular
da Nextel no final de 2003.
Um terceiro sinal de que Rasera interferia na compra de
equipamentos de inteligência
para o governo é a cópia de um
ofício a Requião que apresenta
o aparelho de escutas telefônicas conhecido como "Guardião", que tem capacidade para
captar simultaneamente 600
conversas telefônicas simultâneas, e estimula sua compra.
O governo comprou ao menos um "Guardião". O deputado federal Luiz Carlos Hauly
(PSDB-PR) pediu à comissão
de controle das atividades de
inteligência do Congresso a
abertura de investigação sobre
o "Guardião", alegando suspeita de que o aparelho era usado
para grampear adversários de
Requião. O governo nega.
Crise na Promotoria
Além de agitar a campanha
eleitoral no Paraná, o "caso Rasera" abriu uma crise no Ministério Público do Estado. O estopim foi uma declaração do procurador-geral de Justiça, Milton Riquelme de Macedo, veiculada no horário eleitoral de
Requião, desvinculando as atividades de Rasera do governo.
O julgamento, por parte do
chefe do Ministério Público, de
um caso que está sob investigação da própria instituição que
comanda gerou pesadas críticas ao procurador-geral.
A Associação do Ministério
Público do Paraná cogita levar
o caso ao Colégio de Procuradores. A OAB-PR disse que a
posição de Riquelme constitui
improbidade administrativa.
Texto Anterior: Eleições 2006/Crise do Dossiê: PF vai investigar gestão tucana na pasta da Saúde Próximo Texto: Investigação abre crise na Promotoria Índice
|