São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SABATINA FOLHA

GERALDO ALCKMIN


Kassab é dissimulado e usa máquina para cooptar, diz Alckmin

Ex-governador diz que prefeito pretende minar PSDB e critica vereadores tucanos

O CANDIDATO do PSDB a prefeito de São Paulo, Geraldo Alckmin, 55, acusou ontem, em sabatina da Folha, seu adversário Gilberto Kassab (DEM), que disputa a reeleição, de "cooptar" vereadores tucanos e de "lotear" as subprefeituras. Ainda segundo o ex-governador, empatado com o democrata nas pesquisas, Kassab é "dissimulado" e utiliza a máquina pública para "minar" o PSDB, que ainda faz parte da atual administração. Sabatinado pelos jornalistas Fernando de Barros e Silva (editor de Brasil), Nilson Camargo (editor responsável do jornal "Agora"), Mônica Bergamo e Gilberto Dimenstein (colunistas da Folha), Alckmin, no entanto, poupou José Serra, de quem Kassab era vice.

DA REPORTAGEM LOCAL

Logo no início da sabatina, Alckmin foi questionado sobre a recente troca de farpas com os tucanos aliados de Kassab, e não poupou críticas ao prefeito.

KASSAB
"Em relação ao outro partido, o DEM, eu sempre disse que não via nenhum problema de ter candidato próprio. (...) Quero lamentar o fato que, desde o início, o prefeito Kassab, que chegou indiretamente à prefeitura pelo PSDB, pela vitória do PSDB, se atenha a uma única estratégia que é destruir o partido que o levou ao poder para se manter na prefeitura. Ele usa as pessoas do PSDB. Usa para minar, para criar discórdia. É um fato, estamos concorrendo com ele, que desde o início utiliza a máquina da prefeitura e sua estrutura de governo para minar o partido. Atitude que a mim me parece deplorável. A única estratégia tem sido essa e de forma dissimulada, porque não o faz de forma aberta. Eu não mudei nada. Não mudei o que eu tenho feito na campanha eleitoral."

PITTA E MALUF
O ex-governador procurou ressaltar o que chamou de "diferenças" entre ele e o adversário. "Agora, é meu dever mostrar que Kassab é Kassab, Geraldo Alckmin é Geraldo Alckmin. Há uma diferença de história política evidente. Eu não forço nada. Simplesmente são os fatos. Política é comparar fatos. Em 1996, nós apoiamos o Serra, o Kassab era do time do [Paulo] Maluf [PP], apoiou o [o ex-prefeito Celso] Pitta, virou secretário do Pitta não uma semana, mas dois anos. Em 98, se dependesse do Kassab, o governador de São Paulo teria sido o Maluf. Apoiou o Maluf nos dois turnos. Nós apoiamos o Mario Covas [morto em 2001]."
A respeito da nota que o governador emitiu sexta passada em defesa do prefeito, Alckmin afirmou: "Eu respeito o meu querido companheiro José Serra, que sempre apoiei nas eleições e continuarei apoiando. Mas estamos verificando nessa campanha que está havendo por parte do Kassab uma dissimulação. Ele tenta misturar, confundir a opinião pública. É preciso dizer que ele apoiou o Maluf contra o Mario Covas, apoiou o Pitta contra o Serra, está aliado ao [Orestes] Quércia [ex-governador do PMDB], que quebrou o Estado e nós tivemos que reconstruir. Aliás, a vice dele é do Quércia. Tem esse tempo gigantesco de televisão porque fechou com o Quércia. Ele quer se passar por tucano. Não é tucano."
Alckmin foi confrontado com o fato de Pitta hoje estar no PTB, partido de seu candidato a vice, Campos Machado. "Não estou com o Pitta, o PTB me apóia. O Pitta é mero filiado. Não apoiei o Pitta. Quem apoiou o Pitta foi o Kassab."
Também foi lembrado que o PSDB tentou contar com o PMDB de Quércia. "Fui procurado, não o procurei."

SEGUNDO TURNO
Após as críticas, o tucano evitou comentar se apoiaria Kassab em um eventual segundo turno contra Marta ou se espera o apoio do democrata. "Temos que ter compromisso com interesse público, com interesse coletivo, com os companheiros. A gente trabalha juntos, constrói juntos. Aliás, ajudei muito o Serra quando ele era prefeito, a prefeitura estava numa situação difícil. A obra do hospital do M'Boi Mirim só foi iniciada com dinheiro do Estado. A obra do hospital Cidade Tiradentes só foi retomada com dinheiro do Estado."
"Em relação ao segundo turno, é outra eleição. Zera tudo, começa tudo de novo. Eu acho que no segundo turno nós vamos ganhar a eleição. O que pesa muito no segundo turno é rejeição e temos a menor [entre os três principais colocados]. No segundo turno, meu tempo de TV vai ficar grande."

SERRA
Ainda que o governador seja figura praticamente ausente de sua campanha, Alckmin procurou poupá-lo, e acusou Kassab de ser "dissimulado": "A quem cabe fazer campanha é ao candidato. A mim cabe fazer campanha. O Serra foi à convenção do partido, declarou apoio na convenção, gravou apoio para televisão, que passou no primeiro programa de televisão, foi ao nosso jantar, ao nosso encontro, não tenho nenhuma reclamação. (...) Quero divergir dessa questão de que o Serra não apóia o PSDB".
Mas o candidato cobrou fidelidade dos demais tucanos: "Agora nós não criamos um partido virtual. Nós criamos um partido real, que fez uma convenção, lançou um candidato. Aliás, pelo contrário, o que eu ouvi do presidente do partido, do diretório municipal, o [José Henrique Reis] Lobo, foi que partido tem fidelidade partidária. São poucas as pessoas do PSDB [contra sua candidatura], mas elas poderiam ter ido à convenção, ter defendido outra proposta. Não foram, nós tivemos mais de 90% dos votos na convenção. Elas são usadas pelo Kassab. O Kassab é dissimulado, ele usa as pessoas. Evidente que ele só tem uma estratégia, que é minar o PSDB, desconstruir o PSDB para se reeleger."
Diante da afirmação, o ex-governador foi questionado a exemplificar o que dizia: "Você acha natural que vereadores do PSDB não apóiem candidatos do seu partido? O PSDB, dos 12 vereadores eleitos, que tiveram juntos 300 mil votos. O PSDB teve de legenda mais de meio milhão de votos.
Que mágica é essa que de repente vereadores não apóiam o candidato do seu partido? É bom pesquisar (...) Infelizmente, alguns, não todos, foram cooptados, cooptados, e quem está por trás disso é o senhor Kassab. Eles não foram lá porque gostam, estão apaixonados, foram cooptados, a verdade é essa". O ex-governador foi questionado sobre as críticas a ele feitas por Clóvis Carvalho, tucano que faz parte do secretariado de Kassab. "Não vou responder. Não vale a pena."

LOTEAMENTO
Segundo o ex-governador, sua adversária Soninha (PPS) foi feliz ao criticar o Legislativo municipal, do qual ela faz parte, afirmando que há fisiologia e troca de favores na Casa: "A Soninha disse grandes verdades. É que, infelizmente, na política não se coloca luz sobre a verdade. Esse é o fato. O presidente da Câmara [Antônio Carlos Rodrigues, PR], que é do Kassab, é do Centrão [grupo de vereadores de vários partidos]. Foi eleito pelo Kassab, por unanimidade. Por unanimidade não, teve um voto contra. Como [Kassab] tem esse tempo de televisão? É um acordo com o Quércia".
Alckmin também acusou Kassab de ter loteado as subprefeituras: "Depois que o Serra saiu da prefeitura houve um loteamento de cargos. Evidente, as subprefeituras, que eram feitas para descentralizar, para ficar perto do povo, ter conselhos de representantes, viraram cabide eleitoral de vereador. Estamos retrocedendo".

2010
Alckmin afirmou que, se eleito, ajudará Serra na disputa interna no PSDB pelo direito de disputar a sucessão de Lula. "A vitória do PSDB em São Paulo, favorece o PSDB de São Paulo.
O maior beneficiário é o Serra."

LULA
Derrotado pelo presidente Lula em 2006, Alckmin afirmou desaprovar sua gestão. "Ele não fez as reformas estruturantes que deveria ter feito."


Assista ao vídeo da sabatina
www.folha.com.br/082673



Texto Anterior: CPI: Felix pede para adiar depoimento sobre escutas
Próximo Texto: Tucano diz que seu vice sempre foi leal ao PSDB
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.