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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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GOVERNO MINADO

Luiz Eduardo Soares diz que, se voltar a ocupar um cargo público, empregaria novamente a mulher e a ex

Contrataria as duas de novo, diz ex- secretário

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Dois dias após deixar o comando da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), o sociólogo Luiz Eduardo Soares disse ontem que vai contratar novamente a sua mulher e a sua ex-mulher se um dia for chamado para assumir um outro cargo público.
"Se um dia eu voltar para a vida pública, a minha mulher e a minha ex-mulher vão trabalhar comigo. Para mim, não se trata de mulher ou ex-mulher, mas de duas pessoas competentes."
Luiz Eduardo pediu demissão depois que um dossiê começou a circular em Brasília com supostas irregularidades cometidas nas contratações de Miriam Guindani, sua atual mulher, e de Bárbara Soares, sua ex-mulher.
"Saí do governo para evitar que os debates sobre uma questão tópica pudessem vulnerabilizar o governo do presidente Lula."
O ex-secretário participou de palestra ontem no Centro de Convenções da Bahia, durante o segundo dia do 18º Congresso Brasileiro de Magistrados. Em discurso, disse que se sentiu injustiçado pelas críticas e acrescentou que alguns políticos analisaram as contratações de "forma rápida e superficial". "Pelo que fizeram, é como se tudo acabasse em um caso de nepotismo", ressaltou.
Ele disse que não houve nenhuma intenção de esconder as duas contratações. "Para mim, seria muito fácil utilizar nomes de terceiros ou mesmo "laranjas", como muita gente faz. No entanto, fui honesto, tudo foi feito às claras."
Para ele, Bárbara Soares e Miriam Guindani são pessoas que o ajudaram a implementar o programa nacional de segurança. "O que me interessa é que ambas são profissionais competentes, que integram a minha rede e que sabem trabalhar em equipe."
Luiz Eduardo não quis fazer comparação entre as contratações das duas mulheres e os gastos da ministra Benedita da Silva (Assistência Social) em viagem à Argentina para participar de um evento religioso com passagens pagas pelos cofres públicos.
"Não quero fazer nenhum comentário sobre o caso. Agora, só sei dizer que o Brasil pode se debruçar sobre as contratações que eu fiz", disse. De acordo com o ex-secretário, os recursos utilizados para pagar os serviços prestados por Bárbara Soares e Miriam Guindani não eram do governo. "Os recursos eram da ONU [Organização das Nações Unidas]."
Depois de fazer sua palestra, disse também que o governo analisou o caso "de forma simplificada" e acrescentou que ainda não é o momento de o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) comentar o seu pedido de demissão.
"Quando o ministro falar, tenho certeza de que ele vai repetir as palavras que me disse. Ele me disse que me entende perfeitamente e respeita a minha decisão."
Luiz Eduardo disse também que pessoas de dentro da Senasp tramaram a sua saída. "Eu não sou ingênuo, ninguém é ingênuo. Eu sei que pessoas contratadas por mim tramaram a minha saída. São pessoas que estão orientadas para destroçar a nossa política."
Ele também responsabilizou a mídia pela sua demissão. "O governo, cada vez mais, está se pautando pela mídia. O que precipitou a minha saída foi o tratamento hostil que a mídia estava dando ao governo em relação ao caso."
Afirmou que se sentia "confortável" no governo e elogiou a sua mulher, que devolveu cerca de R$ 4.000 que tinha recebido pela contratação. "A minha mulher rompeu o contrato e restituiu os R$ 4.000 recebidos. A Bárbara não tomou a mesma decisão, mas eu respeito seu ponto de vista."


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