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ELEIÇÕES 2006 / DEBATE
Tucano e petista distorcem dados sobre o crescimento
Omissões e erros comprometem análises sobre desigualdade social e "receita" para crescer
Lula exagera papel de
seu governo na redução
da pobreza; Alckmin se contradiz ao defender
corte de gastos públicos
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com discurso aparentemente esgotado na altura do terceiro e penúltimo debate do segundo turno das eleições, os
candidatos Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e Geraldo Alckmin
(PSDB) priorizaram duas mistificações sobre o baixo crescimento econômico do país.
O primeiro, mesmo reconhecendo que o crescimento é insatisfatório, apresenta como
compensação uma supostamente inédita redução da desigualdade social no país. O segundo atribui todo o problema
a uma mera "receita errada" escolhida pelo governo petista.
Pelos dados do IBGE, a desigualdade social vem caindo
lenta, mas continuamente, desde 1993 no país. Um estudo da
Fundação Getúlio Vargas
apontou que a miséria caiu
14,8% nos primeiros três anos
do governo Lula (que, no debate, falou em 19,3% e 20%), contra 23,02% no governo Fernando Henrique Cardoso. Na média anual, os resultados são
quase idênticos: 5,2% do petista contra 5,1% do tucano.
Lula usou o debate para se
apresentar como o candidato
dos pobres e chegou ao ponto
de dizer, usando seu bordão
preferido, que, "pela primeira
vez", os pobres podem freqüentar o Palácio do Planalto. Um
imaginário grande aumento
dos gastos sociais contraporia o
crescimento atual ao da época
dos militares -quando, segundo o presidente, taxas de crescimento de 10% ao ano (as taxas,
na verdade, chegaram a 14%)
não reduziram a pobreza.
É falso. O crescimento econômico da era do "milagre econômico" elevou, de fato, a desigualdade social, mas reduziu a
pobreza. Em outras palavras,
houve aumento da renda dos
mais pobres, mas a renda dos
mais ricos aumentou mais.
Alckmin voltou a culpar, pelo
baixo crescimento, o aumento
de gastos, da carga tributária e
dos juros -o que tem lógica pela teoria econômica, mas está
longe de ser só uma escolha do
governo Lula. Os gastos públicos, em especial com benefícios
previdenciários, crescem por
imposições constitucionais.
O tucano pregou os tradicionais cortes no número de ministérios e de cargos comissionados (que insistiu serem 40
mil, o dobro do número real),
além do combate à corrupção,
providências que dariam resultados medidos na casa dos milhões de reais. Mas defendeu a
extensão do reajuste do salário
mínimo a todos os aposentados, o que elevaria a despesa
anual em mais de R$ 10 bilhões.
Sua proposta de corte de gastos, que no início da campanha
ainda exibia ao menos uma meta numérica, se tornou ainda
mais vaga. No máximo, o candidato cita a suposta economia de
R$ 4 bilhões obtida em seus
anos de governador com o pregão eletrônico. O dado consiste
apenas na comparação entre os
preços obtidos nos leilões informatizados para compras do
governo e os chamados preços
de referência, uma estimativa
de valor feita antes do pregão.
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