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Jader aconselha cuidado com os sobreviventes
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
Sempre que é questionado sobre sua disputa com o senador
Antonio Carlos Magalhães, Jader
Barbalho costuma recorrer a uma
passagem do livro "Perdas e Danos", da irlandesa Josephine Hart,
para responder: "Tenha profundo
cuidado com as pessoas que são
sobreviventes".
Aos 56 anos, dois casamentos,
três filhos, Jader sobreviveu à ditadura no grupo autêntico do antigo MDB. Depois, a denúncias
recorrentes de corrupção que
marcaram suas duas passagens
pelo governo do Pará e pelo ministério de José Sarney.
São as mesmas denúncias as
quais recorre agora ACM para
impor um veto ético à sua candidatura a presidente do Senado.
Mais uma vez a sobrevivência de
Jader está em risco e ele resolveu
fazer dessa disputa uma guerra.
Na intimidade, repete que não
terá como voltar para casa e encarar a filha se não for até o fim,
mesmo que seja para perder.
Jader sabe que, se desistir agora,
estará destruído politicamente.
Não teria como se apresentar a
seus eleitores no Pará, daqui a
dois anos, quando terá de enfrentar a reeleição.
Astuto, joga no erro do adversário. O maior deles talvez tenha sido a maneira como ACM tentou
interferir numa decisão de outra
legenda. Mexeu com os brios do
PMDB, sigla desmoralizada no
primeiro mandato de Fernando
Henrique Cardoso e que recuperou a auto-estima depois de eleger
Jader presidente do partido.
FHC, que distribuiu cargos e
ministérios para as diversas alas
peemedebistas, foi peça fundamental no reagrupamento promovido pelo senador.
Uma aliança tácita: FHC queria
uma terceira força (PMDB) para
se contrapor ao PFL, sobretudo à
ingerência de ACM no governo, e
Jader, um aliado decisivo na disputa pela presidência do Senado.
Jader não fecha as portas para
um entendimento, agora que levou alguma vantagem na corrida:
"Sempre há tempo para construir
soluções", diz. Desde que não sejam impostas por ACM.
No Planalto, o temor é que a sobrevivência de Jader signifique
apenas a troca de um problema
por outro. Ele garante que não.
"Não será por causa de uma pessoa, de uma idiossincrasia pessoal, que se vai criar dificuldade
para o governo e para o relacionamento interpartidário. É muita
homenagem para quem não merece". Refere-se a ACM.
(RAYMUNDO COSTA)
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