São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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Jader aconselha cuidado com os sobreviventes

DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Sempre que é questionado sobre sua disputa com o senador Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho costuma recorrer a uma passagem do livro "Perdas e Danos", da irlandesa Josephine Hart, para responder: "Tenha profundo cuidado com as pessoas que são sobreviventes".
Aos 56 anos, dois casamentos, três filhos, Jader sobreviveu à ditadura no grupo autêntico do antigo MDB. Depois, a denúncias recorrentes de corrupção que marcaram suas duas passagens pelo governo do Pará e pelo ministério de José Sarney.
São as mesmas denúncias as quais recorre agora ACM para impor um veto ético à sua candidatura a presidente do Senado. Mais uma vez a sobrevivência de Jader está em risco e ele resolveu fazer dessa disputa uma guerra.
Na intimidade, repete que não terá como voltar para casa e encarar a filha se não for até o fim, mesmo que seja para perder.
Jader sabe que, se desistir agora, estará destruído politicamente. Não teria como se apresentar a seus eleitores no Pará, daqui a dois anos, quando terá de enfrentar a reeleição.
Astuto, joga no erro do adversário. O maior deles talvez tenha sido a maneira como ACM tentou interferir numa decisão de outra legenda. Mexeu com os brios do PMDB, sigla desmoralizada no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso e que recuperou a auto-estima depois de eleger Jader presidente do partido.
FHC, que distribuiu cargos e ministérios para as diversas alas peemedebistas, foi peça fundamental no reagrupamento promovido pelo senador.
Uma aliança tácita: FHC queria uma terceira força (PMDB) para se contrapor ao PFL, sobretudo à ingerência de ACM no governo, e Jader, um aliado decisivo na disputa pela presidência do Senado.
Jader não fecha as portas para um entendimento, agora que levou alguma vantagem na corrida: "Sempre há tempo para construir soluções", diz. Desde que não sejam impostas por ACM.
No Planalto, o temor é que a sobrevivência de Jader signifique apenas a troca de um problema por outro. Ele garante que não. "Não será por causa de uma pessoa, de uma idiossincrasia pessoal, que se vai criar dificuldade para o governo e para o relacionamento interpartidário. É muita homenagem para quem não merece". Refere-se a ACM.
(RAYMUNDO COSTA)


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