São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORÇAMENTO

Secretário da Receita acredita que, com crescimento de previsão de verbas, despesas aumentarão na mesma proporção

PT não deve buscar receita extra, diz Everardo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dos principais interlocutores da equipe de transição do PT, o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, aconselha o governo eleito a não definir de antemão nenhuma fonte extra de arrecadação para garantir os programas sociais ou o aumento do salário mínimo em 2003.
O argumento é pragmático. O Estado, diz o secretário, é uma "hidra devoradora": "Se você der alimento, ela come".
Em outras palavras, se for elevada a previsão de receitas no Orçamento, o mundo político procurará imediatamente despesas na mesma proporção.
Será melhor, aponta, conseguir mais dinheiro ao longo do ano que vem, sem alarde, e só então escolher sua destinação. Se já tem idéias para isso, Everardo não revela, mas diz estar disposto a colaborar. "Não terei nenhuma hesitação em oferecer sugestões."

Boas relações
Everardo tem boas relações com o coordenador da equipe petista de transição, Antônio Palocci Filho, que está prestes a renunciar ao cargo de prefeito de Ribeirão Preto para assumir um posto na equipe econômica de Luiz Inácio Lula da Silva.
Na prefeitura, Palocci chegou a chamar Everardo à cidade para discutir formas de elevar a arrecadação de impostos e propostas de reforma tributária. Agora, o secretário elogia a "lucidez" do petista na preparação para o futuro governo federal.
O PT, aparentemente, optou por uma estratégia que coincide com o pragmatismo da Receita. Tanto Palocci como o presidente do partido, deputado José Dirceu (SP), declaram que questões como o salário mínimo e o programa de combate à fome só poderão ser decididas em 2003.
Há pontos de divergência, porém. Everardo não compartilha com os petistas do entusiasmo pela idéia de uma ampla reforma tributária. "É uma discussão totalmente confusa, porque ninguém sabe do que está falando."
A equipe de Lula fala em ressuscitar o projeto discutido em 1999 e 2000 por uma comissão da Câmara, que não foi adiante devido à oposição do governo Fernando Henrique Cardoso.
O texto previa, entre outras coisas, a substituição de vários tributos hoje existentes -Cofins, PIS, ICMS e IPI- por um único imposto, de arrecadação estadual. Para o secretário, o resultado seria aumento da sonegação de impostos e queda da receita.
Everardo diz que não é necessariamente contra mudanças no sistema tributário e nega ser adepto da máxima segundo a qual "imposto bom é imposto velho". Mas desconfia que o apoio aparentemente generalizado à tese da reforma não resistirá à discussão dos detalhes.
"Como disse uma vez Paulo Francis, "reforma tributária é o seguinte: diminuir o meu imposto e aumentar o seu". Nisso todos concordam", disse Everardo.
(GUSTAVO PATÚ)


Texto Anterior: Espírito Santo: Testemunha é assassinada em presídio
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.