São Paulo, quinta-feira, 24 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FUTURO DE PALOCCI

PT defende depoimento de ministro na data acertada, como deseja PFL; PSDB quer adiar

Oposição racha sobre ida de Palocci à CPI dos Bingos

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A oposição se dividiu sobre a data do depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na CPI dos Bingos. Enquanto o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), defendeu que é necessário aguardar novos depoimentos e documentos para só depois ouvir o ministro, o líder do PFL, José Agripino (RN), que à tarde dava sinais de que concordava com os tucanos, à noite emitiu uma nota na qual reiterou que, "em conversas informais com os membros do PFL na comissão", o partido acertou que Palocci deve comparecer à CPI até dia 10 de dezembro, como havia anunciado no dia anterior o presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB).
"É preciso ouvir mais pessoas antes dele", afirmou Agripino por volta de 15h. "Tem uma fila de pessoas que ainda não prestaram depoimento e o devem fazer antes do ministro", ratificou Virgílio. Posição inversa foi defendida pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Se depender de mim, ele vem o mais rapidamente possível", propôs. "Ele [Palocci] está totalmente disposto a vir e creio que devia marcar imediatamente a data e encerrar logo este capítulo porque o ministro precisa de sossego para trabalhar."
Como pano de fundo desta disputa, está em jogo o futuro de Palocci. Com seus ex-assessores envoltos em denúncia de corrupção, o ministro foi bombardeado pelo "fogo amigo" de Dilma Rousseff (Casa Civil), que cobrava menor rigor fiscal e mais gastos do governo. Palocci sentiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não havia feito uma defesa enfática da política econômica e pediu demissão. Foi persuadido a ficar, com a promessa de uma defesa mais enfática por parte do governo e de um compromisso de permitir um superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) maior do que a meta estabelecida para este ano -o equivalente a 4,25% do PIB.
Anteontem, o governo obteve uma vitória na CPI dos Bingos, onde tem minoria, e conseguiu transformar o que seria uma convocação em convite. Com isso, Palocci pode até se recusar a comparecer à comissão de investigação, embora tenha dito que está disposto a falar aos senadores.
"O que não pode é ele vir aqui [no Senado] para falar como se estivesse concedendo uma entrevista coletiva", observava José Agripino à tarde. De acordo com ele, há investigações em curso na CPI que deveriam ser concluídas antes de a comissão ouvir o que o ministro tem a dizer sobre denúncias de irregularidades em sua gestão, quando prefeito de Ribeirão Preto (SP), além de sua suposta participação na arrecadação de recursos de Cuba e de donos de bingos angolanos para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
"Palocci não é a crise, é um elemento da crise", avaliou o líder do PFL. "Ele precisa esclarecer as denúncias gravíssimas que pesam contra ele, mas há que se ter uma seqüência nas investigações."
Membro da CPI, José Jorge (PFL-PE) discordou de seu líder. "O Agripino está preocupado que não tenhamos elementos suficientes para questionar o ministro, mas posso dizer que já temos, sim. O Palocci não esclareceu as denúncias de irregularidades, apenas desmentiu, e desmentir é diferente de esclarecer." Por volta das 19h, a liderança do PFL emitiu nota na qual reiterou que Efraim Morais irá convidar o ministro a depor até 10 de dezembro.
Arthur Virgílio defendeu que se espere um pouco mais para que o ministro compareça à CPI. "Está nas mãos do Efraim definir o melhor momento." Para Virgílio, "já desapareceu um certo frissom que havia, e essa questão deixou de ser um cavalo de batalha".
A Folha apurou que pesou na sugestão de Virgílio a interferência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teria dito que o PSDB não deve "chutar cadáver". A interlocutores, o ex-presidente afirmou que, se Palocci tivesse de ser transformado em "cadáver", essa tarefa deveria ser executada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que tem divergido publicamente do colega sobre a política fiscal do governo.
Ontem, o líder do governo no Senado conversou por telefone com Palocci, que quis saber da avaliação do Congresso sobre seu depoimento, no dia anterior, à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Para Mercadante, "o pior da crise está superado".

Superávit
Mercadante, cujo nome foi cogitado para substituir Palocci no Ministério da Fazenda em caso de uma saída do titular, afirmou ontem que "um ajuste fiscal de longo prazo é indispensável para a economia e deve ser uma política de Estado". Sua observação coincide com o que Palocci tem defendido, em contraposição a Dilma Rousseff, que critica o excesso de superávit primário -entre janeiro e setembro, o superávit equivaleu a 6,1% do PIB.
"Só assim [com política fiscal de longo prazo] é que o país vai voltar a crescer com estabilidade", acredita. O líder do governo no Senado defendeu o debate no ano que vem.


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