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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FUTURO DE PALOCCI
PT defende depoimento de ministro na data acertada, como deseja PFL; PSDB quer adiar
Oposição racha sobre ida de Palocci à CPI dos Bingos
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A oposição se dividiu sobre a
data do depoimento do ministro
da Fazenda, Antonio Palocci, na
CPI dos Bingos. Enquanto o líder
do PSDB, Arthur Virgílio (AM),
defendeu que é necessário aguardar novos depoimentos e documentos para só depois ouvir o ministro, o líder do PFL, José Agripino (RN), que à tarde dava sinais
de que concordava com os tucanos, à noite emitiu uma nota na
qual reiterou que, "em conversas
informais com os membros do
PFL na comissão", o partido acertou que Palocci deve comparecer
à CPI até dia 10 de dezembro, como havia anunciado no dia anterior o presidente da comissão,
Efraim Morais (PFL-PB).
"É preciso ouvir mais pessoas
antes dele", afirmou Agripino por
volta de 15h. "Tem uma fila de
pessoas que ainda não prestaram
depoimento e o devem fazer antes
do ministro", ratificou Virgílio.
Posição inversa foi defendida pelo
líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Se depender de mim, ele vem o mais
rapidamente possível", propôs.
"Ele [Palocci] está totalmente disposto a vir e creio que devia marcar imediatamente a data e encerrar logo este capítulo porque o
ministro precisa de sossego para
trabalhar."
Como pano de fundo desta disputa, está em jogo o futuro de Palocci. Com seus ex-assessores envoltos em denúncia de corrupção,
o ministro foi bombardeado pelo
"fogo amigo" de Dilma Rousseff
(Casa Civil), que cobrava menor
rigor fiscal e mais gastos do governo. Palocci sentiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não
havia feito uma defesa enfática da
política econômica e pediu demissão. Foi persuadido a ficar,
com a promessa de uma defesa
mais enfática por parte do governo e de um compromisso de permitir um superávit primário (economia para o pagamento de juros
da dívida) maior do que a meta
estabelecida para este ano -o
equivalente a 4,25% do PIB.
Anteontem, o governo obteve
uma vitória na CPI dos Bingos,
onde tem minoria, e conseguiu
transformar o que seria uma convocação em convite. Com isso,
Palocci pode até se recusar a comparecer à comissão de investigação, embora tenha dito que está
disposto a falar aos senadores.
"O que não pode é ele vir aqui
[no Senado] para falar como se
estivesse concedendo uma entrevista coletiva", observava José
Agripino à tarde. De acordo com
ele, há investigações em curso na
CPI que deveriam ser concluídas
antes de a comissão ouvir o que o
ministro tem a dizer sobre denúncias de irregularidades em sua
gestão, quando prefeito de Ribeirão Preto (SP), além de sua suposta participação na arrecadação de
recursos de Cuba e de donos de
bingos angolanos para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
"Palocci não é a crise, é um elemento da crise", avaliou o líder do
PFL. "Ele precisa esclarecer as denúncias gravíssimas que pesam
contra ele, mas há que se ter uma
seqüência nas investigações."
Membro da CPI, José Jorge
(PFL-PE) discordou de seu líder.
"O Agripino está preocupado que
não tenhamos elementos suficientes para questionar o ministro, mas posso dizer que já temos,
sim. O Palocci não esclareceu as
denúncias de irregularidades,
apenas desmentiu, e desmentir é
diferente de esclarecer." Por volta
das 19h, a liderança do PFL emitiu
nota na qual reiterou que Efraim
Morais irá convidar o ministro a
depor até 10 de dezembro.
Arthur Virgílio defendeu que se
espere um pouco mais para que o
ministro compareça à CPI. "Está
nas mãos do Efraim definir o melhor momento." Para Virgílio, "já
desapareceu um certo frissom
que havia, e essa questão deixou
de ser um cavalo de batalha".
A Folha apurou que pesou na
sugestão de Virgílio a interferência do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, que teria dito
que o PSDB não deve "chutar cadáver". A interlocutores, o ex-presidente afirmou que, se Palocci tivesse de ser transformado em
"cadáver", essa tarefa deveria ser
executada pela ministra da Casa
Civil, Dilma Rousseff, que tem divergido publicamente do colega
sobre a política fiscal do governo.
Ontem, o líder do governo no
Senado conversou por telefone
com Palocci, que quis saber da
avaliação do Congresso sobre seu
depoimento, no dia anterior, à
Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Para Mercadante,
"o pior da crise está superado".
Superávit
Mercadante, cujo nome foi cogitado para substituir Palocci no
Ministério da Fazenda em caso de
uma saída do titular, afirmou ontem que "um ajuste fiscal de longo
prazo é indispensável para a economia e deve ser uma política de
Estado". Sua observação coincide
com o que Palocci tem defendido,
em contraposição a Dilma Rousseff, que critica o excesso de superávit primário -entre janeiro e
setembro, o superávit equivaleu a
6,1% do PIB.
"Só assim [com política fiscal de
longo prazo] é que o país vai voltar a crescer com estabilidade",
acredita. O líder do governo no
Senado defendeu o debate no ano
que vem.
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