São Paulo, quinta-feira, 24 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PUBLICIDADE

Depoimento na CPI revelou que conta do Ourocard foi centralizada na agência de Valério

Pizzolato favoreceu DNA em 2003, diz concorrente

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O então diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato determinou a centralização, a partir de abril de 2003, da conta de publicidade do Ourocard, administrado pela Visanet, na agência DNA, de Marcos Valério de Souza. A informação foi dada pelo diretor financeiro da agência Lowe, Paulo Roberto dos Santos, que depôs ontem na CPI dos Correios.
Entre março de 2000 e setembro de 2003, o contrato de publicidade do Banco do Brasil era dividido entre a Lowe, a DNA e a Grottera. O BB possui cotas do Fundo de Incentivo da Visanet, e as três agências prestavam serviço para o cartão de crédito Ourocard até abril de 2003.
"Ficou muito clara para nós a perda do produto Ourocard em abril de 2003. Continuamos trabalhando para o BB em outros produtos, mas fomos informados de que a DNA ganhou a conta da Ourocard. Seguramente o faturamento de 2003 [da Lowe] foi menor do que o de 2002. O cartão era um excelente produto", disse Santos, ressaltando que não houve licitação para a mudança.
O sub-relator de contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), perguntou ao diretor da Lowe quem havia determinado a exclusividade dessa conta para a DNA. "Parece que era Henrique", respondeu ele. Cardozo questionou se era Pizzolato. "Esse mesmo", afirmou Santos.
A Folha informou Mário de Oliveira Filho, advogado do ex-diretor de marketing do BB, a respeito das acusações, mas ele não havia respondido até o fechamento desta edição. Filiado ao PT, Pizzolato recebeu R$ 356 mil sacados das contas de Marcos Valério. Quando compareceu à comissão, disse que não sabia que os pacotes que mandou buscar no Banco Rural para o PT continham dinheiro.
A Visanet foi a primeira fonte de dinheiro público apontada pela CPI dos Correios no esquema do "mensalão". De acordo com o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), pelo menos R$ 10 milhões teriam sido desviados para o PT, que teria distribuído esses recursos para aliados. A DNA e o BB contestam essa informação.
Numa operação considerada atípica pela CPI, o BB autorizou em 2003 e 2004 o repasse antecipado à DNA de R$ 73,8 milhões da cota que detinha na Visanet, antes mesmo da aprovação de campanhas publicitárias específicas. "Por determinação do Pizzolato houve uma concentração na DNA desses adiantamentos, permitindo que a agência tivesse ganhos com aplicações financeiras", afirmou Cardozo.
Santos afirmou que a Lowe também recebia adiantamentos da Visanet quando cuidava da conta do Ourocard, mas afirmou que o procedimento era diferente. "Nunca recebemos adiantamento por um ano, eles eram feitos em cima de propostas definidas e com prazo de execução. Eram adiantamentos por dois ou três meses", afirmou o diretor.
Também foi ouvido Eduardo Groisman, diretor financeiro da D+, agência que dividiu o contrato de publicidade do BB com a DNA e a Olgivy a partir de setembro de 2003. Ele afirmou que ao prestar serviços para a Visanet era pago pela agência de Valério, que concentrava a verba. Segundo ele, a D+ recebeu R$ 7,3 milhões da DNA entre 2003 e 2005.


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