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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DE DIRCEU
Ministro não compareceu à sessão do STF em que houve empate sobre liminar que faz processo regredir; votação de cassação pode ficar para 2006
Pertence vai decidir sobrevida de Dirceu
SILVANA DE FREITAS
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Terminou em empate o julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) do pedido de liminar
do deputado José Dirceu (PT-SP)
contra o processo de cassação de
seu mandato. Com a votação de
ontem, a decisão sobre o destino
político do ex-ministro, que teria
o seu processo de perda de mandato votado na próxima quarta-feira, corre o risco de ficar para o
ano que vem, caso o desempate
seja favorável ao petista.
O voto de minerva caberá ao
ministro Sepúlveda Pertence, que
faltou à sessão de ontem por problemas de saúde. Ele pode dar o
voto decisivo ainda hoje. Pertence
foi um dos três ministros que votaram favoravelmente a Dirceu
no mandado de segurança em
que ele questionava o processo de
quebra de decoro parlamentar
baseado em supostos atos cometidos quando ele era ministro. A liminar pedida nesse mandado foi
derrubada por 7 votos a 3.
Ontem, apesar de negarem o
pedido de anulação do processo,
cinco ministros acolheram um
dos argumentos apresentados pelos advogados do ex-ministro da
Casa Civil e votaram pela concessão parcial da liminar.
Eles aceitaram a tese de que o
relatório aprovado pelo Conselho
de Ética, pela cassação, não poderia conter o depoimento da presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, uma testemunha de acusação. Isso porque ela foi ouvida
após as testemunhas de defesa.
"A conseqüência jurídica [da
concessão da liminar] é voltar ao
quadro anterior, para que as testemunhas da defesa sejam ouvidas e posteriormente seja redigido novo relatório. (...) Não está
em causa o mandato do deputado
A ou B, mas o princípio do contraditório. Paga-se um preço por
viver no Estado democrático de
Direito", afirmou Marco Aurélio
de Mello, um dos que votaram a
favor do pedido de Dirceu.
"Foi oferecida a oportunidade
de a defesa se manifestar depois
do depoimento dessa testemunha
[Kátia Rabello]", contrapôs a ministra Ellen Gracie, que votou
contra o pedido de liminar.
"Meus direitos"
Dirceu acompanhou parte do
julgamento na Liderança do PT
na Câmara. "O processo foi feito
de uma forma pelo Conselho de
Ética, que levou a essa situação.
Não é minha a responsabilidade.
Estou apenas buscando meus direitos", afirmou.
O fato é que o PT já conta, nos
bastidores, com o voto favorável
de Pertence. Segundo petistas ouvidos pela Folha, Pertence é um
"penalista", ou seja, um jurista
que se preocupa com a forma dos
processos. Seria grande a chance
de ele acolher a tese de que testemunhas de defesa não podem ser
ouvidas antes das de acusação.
Os ministros que acataram esse
argumento de Dirceu são Cezar
Peluso, Marco Aurélio de Mello,
Celso de Mello, Eros Grau e Nelson Jobim. Para esses ministros,
houve violação do direito constitucional de ampla defesa. Outros
cinco ministros votaram contra.
Além da indefinição sobre a
concessão da liminar, o julgamento de ontem também deixou
incerto o alcance de uma eventual
decisão favorável a Dirceu.
Dos cinco ministros favoráveis
à concessão da liminar, quatro
disseram que o conselho terá de
ouvir as testemunhas de defesa
arroladas na última hora, e o relatório terá de ser refeito, reapresentado e novamente votado.
Se esse entendimento prevalecer, será uma ampla vitória de
Dirceu, que contará com novos
prazos e poderá adiar a votação
do processo de cassação no plenário para o início de 2006.
A única chance de a cassação ser
votada no dia 30 é o ministro Pertence, antes disso, dar seu voto
contrário a Dirceu.
O quinto ministro contrário à liminar, Cezar Peluso, deu interpretação mais restrita: afirmou
que a única conseqüência deve ser
o relator Júlio Delgado (PSB-MG)
retirar do parecer as referências
ao depoimento de Kátia Rabello.
Os votos rejeitando integralmente o pedido de liminar foram
de Carlos Ayres Britto (relator),
Joaquim Barbosa, Ellen Gracie,
Gilmar Mendes e Carlos Velloso.
Dois ministros mudaram o seu
voto durante a sessão. Mendes via
problemas no exercício da ampla
defesa e aderiu à corrente contra a
liminar. Eros Grau negava a liminar e passou a concedê-la.
Em seu depoimento, Kátia Rabello afirmou que Marcos Valério
intermediava o agendamento de
audiências com a Casa Civil.
Esse foi o terceiro mandado de
segurança movido por Dirceu no
STF. Os ministros rejeitaram ontem por unanimidade o principal
pedido dele: a suspensão do processo de cassação.
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