São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2006

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Governadores desistem dos pedidos a Lula

Aliados do presidente avaliam que apresentação de documento poderia atrapalhar as negociações do Planalto com a oposição

"Não achamos que era conveniente fazer uma agenda para colocar no pescoço do presidente", afirma Marcelo Déda (SE)


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Reunidos em Brasília, 16 governadores eleitos e dois vices de partidos aliados ao governo Luiz Inácio Lula da Silva discutiram ontem a portas fechadas uma agenda de crescimento e reivindicações, mas desistiram de apresentá-la publicamente para não comprometer a tentativa de aproximação do presidente com as siglas de oposição, especialmente com os governadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP).
Em seguida, foi o próprio presidente quem citou nominalmente Serra e Aécio, além da governadora eleita do Rio Grande Sul, Yeda Crusius (PSDB), e disse que pretende chamar o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE), para uma conversa no Planalto.
O encontro dos governadores, que seria uma prévia para definir uma pauta comum a ser levada a Lula, durou três horas. Reuniram-se os eleitos ou representantes de 18 Estados. Discutiram pontos da reforma tributária (Lei Kandir, unificação da legislação do ICMS), reforma da Previdência e, sobretudo, a renegociação da dívida dos Estados com a União.
Mas, atendendo um pedido do Planalto, os governadores da "base política" do novo governo Lula optaram por não formalizar suas reivindicações para evitar o risco de melindrar Serra e Aécio. O documento, segundo eles, ficou para uma próxima reunião, que deverá ocorrer após Lula encerrar o ciclo de conversas com os partidos e tende a ser bem mais ampla, o que poderá incluir os tucanos.
"Não achamos que era conveniente fazer uma agenda para colocar no pescoço do presidente. Percebemos que o tom ali não era de tirar documento, era político. Poderia ser interpretado como uma agenda de governadores da base e outra de oposição. Não é essa a idéia", explicou o governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda (PT).
A estratégia de recuar de uma "carta aberta" para não atrapalhar o diálogo com a oposição foi articulada por Déda e pelo governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT): "Nós viemos aqui para tirar foto. Para dizer: o senhor tem 18 governadores que estão aqui dispostos a queimar gordura política para fazer o que for necessário para servir ao crescimento do país".
Anteontem, Déda disse que os governadores seriam mais "ousados" que os ministros ao listarem suas propostas. A idéia central era redigir uma carta que cobrasse mudanças na política econômica e aumento dos investimentos em infra-estrutura, saneamento e saúde.
A tônica das declarações dos governadores foi de um apoio amplo ao governo: "Foi uma reunião eminentemente política, com duas construções importantes: declarar a disposição em ajudar a construir uma base sólida nas duas Casa do Congresso e ajudar a distensionar as relações entre governo e oposição", resumiu o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), o porta-voz do grupo. "Não existe agenda de governadores da base e agenda da oposição", disse.

Nova agenda
"Espero que no próximo encontro estejamos quase todos nós na busca da construção de uma agenda de desenvolvimento econômico com justiça social. A mensagem do presidente foi na perspectiva da construção de unidade para superar as dificuldades", afirmou Jackson Lago (PDT-MA).
O encontro agregou eleitos de cinco partidos (PT, PMDB, PSB, PDT e PPS). O único governador de oposição, Ivo Cassol (PPS-RO), disse que tinha autorização do partido e que "precisava do apoio do governo federal": "Política a gente deixa para daqui a quatro anos".
O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que vai analisar a proposta do governador eleito de São Paulo, José Serra, de mudar o índice que corrige a dívida dos Estados com a União do IGP-DI para a TJLP. "Vamos analisar o impacto... Estamos com o diálogo aberto com Estados e municípios e é justo que eles procurem reduzir o impacto da dívida que eles possuem, de modo a aumentar a capacidade de investimento, porém, isso tem que ser feito mantidos os princípios da responsabilidade fiscal". (SILVIO NAVARRO E PEDRO DIAS LEITE)

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