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Governadores desistem dos pedidos a Lula
Aliados do presidente avaliam que apresentação de documento poderia atrapalhar as negociações do Planalto com a oposição
"Não achamos que era conveniente fazer uma agenda para colocar no
pescoço do presidente", afirma Marcelo Déda (SE)
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Reunidos em Brasília, 16 governadores eleitos e dois vices
de partidos aliados ao governo
Luiz Inácio Lula da Silva discutiram ontem a portas fechadas
uma agenda de crescimento e
reivindicações, mas desistiram
de apresentá-la publicamente
para não comprometer a tentativa de aproximação do presidente com as siglas de oposição, especialmente com os governadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP).
Em seguida, foi o próprio
presidente quem citou nominalmente Serra e Aécio, além
da governadora eleita do Rio
Grande Sul, Yeda Crusius
(PSDB), e disse que pretende
chamar o presidente nacional
do PSDB, Tasso Jereissati (CE),
para uma conversa no Planalto.
O encontro dos governadores, que seria uma prévia para
definir uma pauta comum a ser
levada a Lula, durou três horas.
Reuniram-se os eleitos ou representantes de 18 Estados.
Discutiram pontos da reforma
tributária (Lei Kandir, unificação da legislação do ICMS), reforma da Previdência e, sobretudo, a renegociação da dívida
dos Estados com a União.
Mas, atendendo um pedido
do Planalto, os governadores da
"base política" do novo governo
Lula optaram por não formalizar suas reivindicações para
evitar o risco de melindrar Serra e Aécio. O documento, segundo eles, ficou para uma próxima reunião, que deverá ocorrer após Lula encerrar o ciclo
de conversas com os partidos e
tende a ser bem mais ampla, o
que poderá incluir os tucanos.
"Não achamos que era conveniente fazer uma agenda para colocar no pescoço do presidente. Percebemos que o tom
ali não era de tirar documento,
era político. Poderia ser interpretado como uma agenda de
governadores da base e outra
de oposição. Não é essa a idéia",
explicou o governador eleito de
Sergipe, Marcelo Déda (PT).
A estratégia de recuar de uma
"carta aberta" para não atrapalhar o diálogo com a oposição
foi articulada por Déda e pelo
governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT): "Nós viemos aqui para tirar foto. Para
dizer: o senhor tem 18 governadores que estão aqui dispostos
a queimar gordura política para
fazer o que for necessário para
servir ao crescimento do país".
Anteontem, Déda disse que
os governadores seriam mais
"ousados" que os ministros ao
listarem suas propostas. A idéia
central era redigir uma carta
que cobrasse mudanças na política econômica e aumento dos
investimentos em infra-estrutura, saneamento e saúde.
A tônica das declarações dos
governadores foi de um apoio
amplo ao governo: "Foi uma
reunião eminentemente política, com duas construções importantes: declarar a disposição em ajudar a construir uma
base sólida nas duas Casa do
Congresso e ajudar a distensionar as relações entre governo e
oposição", resumiu o governador do Espírito Santo, Paulo
Hartung (PMDB), o porta-voz
do grupo. "Não existe agenda
de governadores da base e
agenda da oposição", disse.
Nova agenda
"Espero que no próximo encontro estejamos quase todos
nós na busca da construção de
uma agenda de desenvolvimento econômico com justiça
social. A mensagem do presidente foi na perspectiva da
construção de unidade para superar as dificuldades", afirmou
Jackson Lago (PDT-MA).
O encontro agregou eleitos
de cinco partidos (PT, PMDB,
PSB, PDT e PPS). O único governador de oposição, Ivo Cassol (PPS-RO), disse que tinha
autorização do partido e que
"precisava do apoio do governo
federal": "Política a gente deixa
para daqui a quatro anos".
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) disse que vai analisar a proposta do governador
eleito de São Paulo, José Serra,
de mudar o índice que corrige a
dívida dos Estados com a União
do IGP-DI para a TJLP. "Vamos analisar o impacto... Estamos com o diálogo aberto com
Estados e municípios e é justo
que eles procurem reduzir o
impacto da dívida que eles possuem, de modo a aumentar a
capacidade de investimento,
porém, isso tem que ser feito
mantidos os princípios da responsabilidade fiscal".
(SILVIO NAVARRO E PEDRO DIAS LEITE)
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