São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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País quer quem fale bem a língua, diz FHC

Tucano afirma querer "brasileiros melhor educados" e comete erro de português ao fazer critica velada à formação de Lula

No discurso de encerramento do Congresso Nacional do PSDB, ex-presidente se refere ao PT como "elitezinha que se abotoou ao poder"

Sérgio Lima/Folha Imagem
Fernando Henrique e Aécio Neves riem no último dia do Congresso Nacional do PSDB, em Brasília


SILVIO NAVARRO
FELIPE SELIGMAN
MARIA LUIZA RABELLO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou ontem o Congresso Nacional do PSDB, em Brasília, afirmando que quer "brasileiros melhor educados, e não liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria."
O ex-presidente cometeu um erro de português. Especialistas consideram que, de acordo com a norma culta da língua, o correto seria ter dito "brasileiros mais bem educados".
Em suas mais duras críticas desde que começou o evento tucano, FHC não mencionou diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e nem o PT, mas sua fala foi entendida pelos presentes como uma alusão ao presidente petista.
Em um esforço para tentar separar as denúncias do valerioduto tucano do escândalo do mensalão, o PSDB, no último dia do congresso, deixou para FHC desferir a artilharia pesada contra o governo e o PT, a quem o ex-presidente se refere como "elitezinha que se abotoou ao poder".
O tucano citou Lula logo na primeira frase do discurso, mas, no decorrer da fala, passou a ocultar o nome do presidente Lula. Permeou o discurso com frases para rebater as críticas do PT que o partido e seus membros são elitistas.
"Nosso partido tem gente acadêmica, não temos vergonha disso. Tem gente que sabe falar mais de uma língua, e também sabemos muito bem falar a nossa língua. Muitos brasileiros ainda não puderam saber falar bem a nossa língua e muito menos as outras", afirmou FHC para os militantes.
"E nós faremos o possível e o impossível para que saibam falar bem a nossa língua. Queremos brasileiros melhor educados, e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria."
Lula já se referiu em vários discursos ao fato de não ter diploma universitário e disse ser "vítima de preconceito". Em um discurso em setembro, em Santo André (SP), Lula disse que "se criou o dogma neste país de que só poderia ser presidente da República quem tivesse diploma universitário. Esse era o dogma, como se pudesse haver qualquer confusão entre a capacidade de gerenciar, a capacidade de tomar decisão política e a quantidade de anos de escola. Os anos de escola servem para um milhão de coisas, mas para decisão política é preciso, antes de tudo, saber de que lado se está e saber se tem consciência ou não de que lado a pessoa está governando ou está tomando posição".
Na saída do evento tucano, o governador de São Paulo, José Serra, também negou a imagem de que o PSDB é um partido da elite e fez coro à declaração de FHC. "Não existe esse estigma [de elite]. Fui eleito e ganhei em São Paulo em todas as regiões e estratos sociais. Minas teve perfil semelhante. O PSDB não é partido de elite, é de gente que trabalha e estuda", disse.
Sobre o futuro, disse que prevê uma "batalha muito dura" ao PSDB em 2010, mas que o "tempo de vacas gordas" vai desaparecer e que "há tempestades lá fora". "Tenho muita informação, sou professor nos EUA, acompanho de perto."
O tucano também fez questão de falar na crise política com o episódio do mensalão, tema preferido entre os líderes da sigla ontem. Da tribuna da convenção, FHC narrou uma cena ocorrida em 2003, quando ele se despediu de Lula no dia da posse. Afirmou que ouviu do petista que "deixava um amigo" no Palácio do Planalto, mas, com o tempo, seu governo "escolheu o caminho do valerioduto e do mensalão".
O mensalão também permeou o discurso do novo presidente tucano, Sérgio Guerra.


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