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Rio não examina caso de vítima da ditadura
Governador Sérgio Cabral decide não instalar comissão encarregada de examinar indenizações para vítimas do regime militar
Fórum de Reparação do Estado do Rio pediu em outubro audiência com o governador a fim de solicitar a reinstalação da comissão
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O governador do Estado do
Rio, Sérgio Cabral Filho
(PMDB), decidiu não instalar
em sua gestão a comissão encarregada de examinar os casos
de indenização a vítimas do regime militar (1964-1985) . A comissão foi instituída por lei estadual vigente desde 2002.
Neste ano, o primeiro do governo Cabral Filho, não houve a
análise de nenhum caso de supostos perseguidos durante a
ditadura nem o pagamento de
qualquer indenização àqueles
que apresentaram suas reivindicações à administração anterior, da governadora Rosinha
Matheus (PMDB).
A reparação pelo governo fluminense a presos políticos, torturados e parentes de desaparecidos foi instituída pela lei
3.744, de outubro de 2002,
quando governava o Estado do
Rio a ex-líder comunitária, ex-ministra e ex-senadora Benedita da Silva (PT), hoje secretária
estadual de Ação Social e Direitos Humanos, nomeada pelo
governador.
Benedita assumira a administração estadual por ser vice-governadora quando se desincompatibilizou o então governador Anthony Garotinho (marido de Rosinha) para concorrer, sem sucesso, à Presidência.
No governo Rosinha, que sucedeu o de Benedita a partir de
janeiro de 2003 e até dezembro
do ano passado, a Comissão de
Reparação recebeu 1.115 requerimentos, dos quais 755 foram
aceitos e 140 pagos.
A comissão recusou 187 reivindicações apresentadas por
cidadãos que alegavam ter sido
vitimados por perseguições cometidas por militares e políticos que apoiavam o regime. Outros 173 casos, apresentados à
comissão, não chegaram a ser
analisados. Como a comissão
foi desfeita na troca de governo,
e Cabral Filho nem indicou novos integrantes nem reconduziu os antigos, esses processos
estão parados desde dezembro.
O Fórum de Reparação do
Estado do Rio, formado por representantes de organizações
da sociedade civil, como o Grupo Tortura Nunca Mais, pediu
em 10 de outubro audiência
com o governador a fim de solicitar a reinstalação imediata da
comissão. Até a noite de ontem
não havia resposta por parte de
Cabral Filho.
Desde janeiro, assim que Cabral Filho assumiu o governo, o
fórum tem requerido a reinstalação da Comissão de Reparação do Estado do Rio. A instituição alega que há 615 indenizações pendentes -reivindicações que foram aprovadas pela
comissão, mas não pagas. O fórum queixa-se ainda que há 94
processos desaparecidos.
"O Brasil é signatário da convenção da ONU [Organização
das Nações Unidas] contra a
tortura, e o Estado do Rio de Janeiro (...) instituiu através da lei
3.744 de 10/10/2002 uma Comissão de Reparação para analisar os requerimentos de ex-presos políticos do período da
ditadura militar. Entretanto,
tendo funcionado por apenas
dois anos, não foi possível a essa comissão examinar todos os
requerimentos e seus recursos
durante o período de sua existência legal, encerrado em dezembro de 2006. Da mesma
forma, somente uma pequena
parte daqueles que tiveram
seus requerimentos deferidos
e, assim, passaram a fazer jus à
indenização estabelecida, vieram de fato a recebê-la", diz o
fórum no pedido de audiência.
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