São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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Rio não examina caso de vítima da ditadura

Governador Sérgio Cabral decide não instalar comissão encarregada de examinar indenizações para vítimas do regime militar

Fórum de Reparação do Estado do Rio pediu em outubro audiência com o governador a fim de solicitar a reinstalação da comissão

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), decidiu não instalar em sua gestão a comissão encarregada de examinar os casos de indenização a vítimas do regime militar (1964-1985) . A comissão foi instituída por lei estadual vigente desde 2002.
Neste ano, o primeiro do governo Cabral Filho, não houve a análise de nenhum caso de supostos perseguidos durante a ditadura nem o pagamento de qualquer indenização àqueles que apresentaram suas reivindicações à administração anterior, da governadora Rosinha Matheus (PMDB).
A reparação pelo governo fluminense a presos políticos, torturados e parentes de desaparecidos foi instituída pela lei 3.744, de outubro de 2002, quando governava o Estado do Rio a ex-líder comunitária, ex-ministra e ex-senadora Benedita da Silva (PT), hoje secretária estadual de Ação Social e Direitos Humanos, nomeada pelo governador.
Benedita assumira a administração estadual por ser vice-governadora quando se desincompatibilizou o então governador Anthony Garotinho (marido de Rosinha) para concorrer, sem sucesso, à Presidência.
No governo Rosinha, que sucedeu o de Benedita a partir de janeiro de 2003 e até dezembro do ano passado, a Comissão de Reparação recebeu 1.115 requerimentos, dos quais 755 foram aceitos e 140 pagos.
A comissão recusou 187 reivindicações apresentadas por cidadãos que alegavam ter sido vitimados por perseguições cometidas por militares e políticos que apoiavam o regime. Outros 173 casos, apresentados à comissão, não chegaram a ser analisados. Como a comissão foi desfeita na troca de governo, e Cabral Filho nem indicou novos integrantes nem reconduziu os antigos, esses processos estão parados desde dezembro.
O Fórum de Reparação do Estado do Rio, formado por representantes de organizações da sociedade civil, como o Grupo Tortura Nunca Mais, pediu em 10 de outubro audiência com o governador a fim de solicitar a reinstalação imediata da comissão. Até a noite de ontem não havia resposta por parte de Cabral Filho.
Desde janeiro, assim que Cabral Filho assumiu o governo, o fórum tem requerido a reinstalação da Comissão de Reparação do Estado do Rio. A instituição alega que há 615 indenizações pendentes -reivindicações que foram aprovadas pela comissão, mas não pagas. O fórum queixa-se ainda que há 94 processos desaparecidos.
"O Brasil é signatário da convenção da ONU [Organização das Nações Unidas] contra a tortura, e o Estado do Rio de Janeiro (...) instituiu através da lei 3.744 de 10/10/2002 uma Comissão de Reparação para analisar os requerimentos de ex-presos políticos do período da ditadura militar. Entretanto, tendo funcionado por apenas dois anos, não foi possível a essa comissão examinar todos os requerimentos e seus recursos durante o período de sua existência legal, encerrado em dezembro de 2006. Da mesma forma, somente uma pequena parte daqueles que tiveram seus requerimentos deferidos e, assim, passaram a fazer jus à indenização estabelecida, vieram de fato a recebê-la", diz o fórum no pedido de audiência.


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