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Esquerda italiana pede extradição de Battisti
Deputado Piero Fassino, ex-ministro da Justiça, afirma que "a esquerda no Brasil não tem informação e visão exata" do caso
Fassino diz que terrorista não foi condenado por suas ideias, mas "por assassinato", e critica argumento de Tarso Genro para aprovar o refúgio
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Ex-ministro da Justiça e hoje
à frente da principal legenda de
esquerda da Itália, o Partido
Democrático, o deputado Piero
Fassino espera "coerência" do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ao decidir sobre o futuro
do terrorista Cesare Battisti.
E "coerência", afirma o deputado, é seguir o voto do STF
(Supremo Tribunal Federal) na
última quarta-feira e aprovar a
extradição do italiano.
Para esse ex-militante do
Partido Comunista italiano, a
parcela da esquerda brasileira
que vê Battisti como refugiado
político interpreta mal os fatos:
"Creio que a esquerda no Brasil
não tenha uma informação e
uma visão exata", afirmou Fassino de Roma durante conversa
telefônica com a Folha.
O deputado de 60 anos,
membro da comissão de Relações Exteriores da Câmara, não
quis comentar de antemão a
possibilidade de Lula vetar a
extradição amparado por uma
justificativa jurídica -delicada,
a decisão pode sair só em 2010.
Mas reiterou diversas vezes
durante a conversa na sexta-feira que "Battisti não é um homem perseguido por suas
ideias políticas". "A Itália é um
país democrático, onde todas
as ideias são legítimas, de esquerda, de direita. Ele não foi
condenado por suas ideias, foi
condenado por assassinato."
Prisão perpétua
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália em 1988
por envolvimento na morte de
quatro pessoas durante os chamados "anos de chumbo" no
país, na década anterior, quando militou no PAC (Proletários
Armados pelo Comunismo).
O veredicto só veio após os
testemunhos de outros membros do grupo radical terem ligado seu nome aos crimes.
Mas o italiano nega envolvimento e afirma não ter tido o
direito de se defender (ele foi
julgado "in absentia").
Foragido primeiro na França
e, desde 2004, no Brasil, Battisti alega ser um perseguido político. Embora esteja preso desde
2007 no país por forjar seus documentos, ganhou no início
deste ano status de refugiado
por determinação do ministro
Tarso Genro (Justiça) -depois
revogado pelo STF.
"O ato do Supremo brasileiro
é um ato justo, que reconhece
que o processo na Itália foi regular e que Battisti foi condenado não por um ato político,
mas por um crime gravíssimo",
afirma Fassino, que lembra ter
pedido "todos os dias" à França, em vão, pela extradição.
"Eles avaliaram de outra maneira, e, creio eu, erraram."
Consenso
A decisão de Paris e depois a
de Tarso Genro parecem ter
mexido com os brios italianos.
A frase do líder do PD sobre a
chancela ao veredicto da Justiça na Itália ecoa declarações de
ministros em Roma a jornais
locais e o que a Folha tem ouvido nos últimos dias de representantes do governo, da oposição e também do promotor
que obteve a condenação do
terrorista, Armando Spataro.
"A ideologia política de Battisti e de quem ele assassinou
não justificam o assassinato, isso é claro", afirma Fassino.
"Este ato do STF foi um ato de
justiça que vai acabar com algumas especulações."
Tamanha afinação entre governo e oposição como se vê no
caso Battisti -o deputado fala
em "consenso total"- é raríssima na Itália, um país marcado
por uma política extremamente polarizada e no qual a própria esquerda é fragmentada.
Mas os discursos dos últimos
dias saíram em coro, a ponto de
Lula, quando passou pelo país
na semana passada, ter ouvido
os mesmos pedidos do premiê
Silvio Berlusconi, de direita, e
do ex-premiê Massimo D'Alema, um socialista e colega de
longa data do presidente.
As gestões de Roma, que incluem um enviado especial a
Brasília, têm sido constantes.
Fassino conta que ele também
reitera frequentemente os pedidos ao presidente brasileiro,
a quem chama de amigo. "Já o
encontrei mil vezes. Em todos
esses anos, e muitas vezes em
cada ocasião, pedimos uma decisão clara e correta."
Decepção
A opção do Supremo de passar ao presidente Lula a palavra
final e desobrigar-se do ônus
político esfriou parte do entusiasmo com que os italianos receberam o primeiro voto, pela
extradição, e o substituiu por
cautela e novas pressões.
"Cada vez [que conversamos]
Lula declarou estar esperando
a decisão da corte. Agora eu espero que tome uma decisão
coerente", diz o deputado.
Mas para Fassino, apesar da
proeminência adquirida pelo
caso, ele é um problema "de
Justiça", não político. "Não se
pode permitir que um homem
que matou outro se considere
um perseguido político quando
na verdade é um assassino."
O líder esquerdista também
minimiza a justificativa de Tarso Genro para o refúgio, embora repita que "qualquer um pode verificar que na Itália há liberdade ideológica".
"[As declarações] não são um
problema italiano, são um problema brasileiro. Não devemos
prejulgar cada palavra de um
ministro", diz ele. "Só queremos que Battisti esteja aqui para cumprir sua pena."
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