São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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POLÍTICA ECONÔMICA
Três demissionários eram o principal contraponto às gestões de Malan e Franco
Saída atropela mudanças no Real


VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília

MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília


A saída dos irmãos Mendonça de Barros e de André Lara Resende atropela os estudos em curso dentro do governo para promover um ajuste na atual política econômica. Mas isso não significa que o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha abandonado a idéia ou desistido da criação do Ministério da Produção, que daria forma ao ajuste.
Os três auxiliares de FHC estavam comandando a montagem de um projeto desenvolvimentista, imaginado como linha mestra do segundo mandato, que funcionaria como um contraponto à política recessiva e dependente do capital externo do ministro Pedro Malan (Fazenda).
² Prejuízo
Assessores do presidente comentavam ontem que a saída dos três colaboradores representa um "prejuízo" para os planos de FHC.
Mas acrescentam que o presidente sabe que "é estritamente necessário" promover um ajuste em seu governo para combater a recessão que será provocada pelo pacote fiscal e, principalmente, pelo brutal aumento dos juros antes das eleições.
Mesmo diante da pressão dos aliados, FHC já informou que não desistirá da criação do Ministério da Produção, idealizado pelo ministro demissionário Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações).
A nova pasta definirá políticas de desenvolvimento para o país, buscando a retomada do crescimento econômico e a geração de empregos.
Mendonça de Barros era o porta-voz das críticas à política econômica de Malan e Gustavo Franco (presidente do Banco Central). Chegou a defender publicamente ajustes no rumo do Plano Real.
No novo ministério, Mendonça de Barros concentraria a formulação da política industrial do país e teria poder sobre as principais agências de financiamento do governo, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), capazes de colocar em prática essa política.
² Custo político
Os superpoderes foram o principal motivo da campanha movida por aliados políticos do governo (PFL e PMDB) contra o Ministério da Produção. Aproveitando o caso da escuta telefônica, os dois partidos passaram a trabalhar pela saída de Mendonça de Barros.
Amigo do ministro José Serra (Saúde), ele integrava o grupo dentro do governo que defendia uma desvalorização do real e restrições às importações como medidas para proteger a indústria nacional.
Além de Serra, fazem parte desse grupo os ministros Paulo Renato Souza (Educação) e Luiz Carlos Bresser Pereira (Administração).
A queda de Mendonça de Barros enfraquece essa ala do governo, que já estava dividida desde os desentendimentos entre Serra e Paulo Renato por causa das críticas aos cortes de gastos implementados pela equipe de Malan.
Saem fortalecidos Malan, Gustavo Franco, pefelistas e peemedebistas. Os líderes dos dois partidos aliados sonham em conquistar, na próxima eleição presidencial, o Palácio do Planalto.
Outra baixa importante para FHC é a saída de José Roberto Mendonça de Barros. Secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior, ele procurava contornar os atritos entre seu irmão e a equipe de Pedro Malan.Funcionava como um ponto de equilíbrio entre as duas alas do governo.
FHC sempre o requisitava para análises de conjuntura. O presidente queria que ele continuasse em seu segundo mandato, mas o próprio José Roberto havia avisado que não pretendia ficar no governo no próximo ano.
² Lara Resende
Já André Lara Resende sempre defendeu a importância de se manter a linha da política econômica, o que agradava a Malan e a Gustavo Franco. Mas era o responsável pela formulação das políticas de médio e longo prazos a pedido de FHC, que permitiriam a retomada da capacidade de investimento do país.
Lara Resende era considerado pelo presidente como seu principal formulador. Foi um dos pais do Plano Real e estava montando o novo modelo da Previdência Social no Brasil. Era apontado como ministeriável no segundo mandato de FHC.



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