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POLÍTICA ECONÔMICA
Três demissionários eram o principal contraponto às gestões de Malan e Franco
Saída atropela mudanças no Real
VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
A saída dos irmãos Mendonça de Barros e de
André Lara Resende atropela
os estudos em
curso dentro do
governo para
promover um ajuste na atual política econômica. Mas isso não significa que o presidente Fernando
Henrique Cardoso tenha abandonado a idéia ou desistido da criação do Ministério da Produção,
que daria forma ao ajuste.
Os três auxiliares de FHC estavam comandando a montagem de
um projeto desenvolvimentista,
imaginado como linha mestra do
segundo mandato, que funcionaria como um contraponto à política recessiva e dependente do capital externo do ministro Pedro Malan (Fazenda).
²
Prejuízo
Assessores do presidente comentavam ontem que a saída dos três
colaboradores representa um
"prejuízo" para os planos de FHC.
Mas acrescentam que o presidente sabe que "é estritamente necessário" promover um ajuste em
seu governo para combater a recessão que será provocada pelo pacote fiscal e, principalmente, pelo
brutal aumento dos juros antes das
eleições.
Mesmo diante da pressão dos
aliados, FHC já informou que não
desistirá da criação do Ministério
da Produção, idealizado pelo ministro demissionário Luiz Carlos
Mendonça de Barros (Comunicações).
A nova pasta definirá políticas de
desenvolvimento para o país, buscando a retomada do crescimento
econômico e a geração de empregos.
Mendonça de Barros era o porta-voz das críticas à política econômica de Malan e Gustavo Franco
(presidente do Banco Central).
Chegou a defender publicamente
ajustes no rumo do Plano Real.
No novo ministério, Mendonça
de Barros concentraria a formulação da política industrial do país e
teria poder sobre as principais
agências de financiamento do governo, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), capazes de colocar em prática essa política.
²
Custo político
Os superpoderes foram o principal motivo da campanha movida
por aliados políticos do governo
(PFL e PMDB) contra o Ministério
da Produção. Aproveitando o caso
da escuta telefônica, os dois partidos passaram a trabalhar pela saída de Mendonça de Barros.
Amigo do ministro José Serra
(Saúde), ele integrava o grupo dentro do governo que defendia uma
desvalorização do real e restrições
às importações como medidas para proteger a indústria nacional.
Além de Serra, fazem parte desse
grupo os ministros Paulo Renato
Souza (Educação) e Luiz Carlos
Bresser Pereira (Administração).
A queda de Mendonça de Barros
enfraquece essa ala do governo,
que já estava dividida desde os desentendimentos entre Serra e Paulo Renato por causa das críticas aos
cortes de gastos implementados
pela equipe de Malan.
Saem fortalecidos Malan, Gustavo Franco, pefelistas e peemedebistas. Os líderes dos dois partidos
aliados sonham em conquistar, na
próxima eleição presidencial, o Palácio do Planalto.
Outra baixa importante para
FHC é a saída de José Roberto
Mendonça de Barros. Secretário-executivo da Câmara de Comércio
Exterior, ele procurava contornar
os atritos entre seu irmão e a equipe de Pedro Malan.Funcionava como um ponto de equilíbrio entre
as duas alas do governo.
FHC sempre o requisitava para
análises de conjuntura. O presidente queria que ele continuasse
em seu segundo mandato, mas o
próprio José Roberto havia avisado que não pretendia ficar no governo no próximo ano.
²
Lara Resende
Já André Lara Resende sempre
defendeu a importância de se
manter a linha da política econômica, o que agradava a Malan e a
Gustavo Franco. Mas era o responsável pela formulação das políticas
de médio e longo prazos a pedido
de FHC, que permitiriam a retomada da capacidade de investimento do país.
Lara Resende era considerado
pelo presidente como seu principal formulador. Foi um dos pais
do Plano Real e estava montando o
novo modelo da Previdência Social no Brasil. Era apontado como
ministeriável no segundo mandato de FHC.
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