São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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Para empresário, ato foi importante

da Reportagem Local

O empresário Antonio Ermírio de Moraes, 70, vice-presidente do grupo Votorantim, disse ontem que os pedidos de demissão do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) e do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), André Lara Resende, foram importantes para tirar uma nuvem de dúvida do ar sobre as privatizações no país.
"Não conheço os detalhes e não quero incriminar ninguém, mas já esperava as demissões porque elas se tornaram necessárias para a continuidade das privatizações."
"Se eles continuassem, ficaria sempre uma nuvem de dúvida no ar sobre o programa de privatização. Se é que vamos prosseguir com um processo de privatização, o melhor para o Brasil foi a demissão de Mendonça de Barros."
Antonio Ermírio disse que ficou aborrecido ao tomar conhecimento do teor das conversas telefônicas grampeadas de Mendonça de Barros sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, quando o ministro demissionário era presidente do BNDES.
Na conversa, por influência de Mendonça de Barros, o Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, deixou o consórcio Votorantim, de Antonio Ermírio, para ir para o consórcio rival, liderado pelo empresário Benjamin Steinbruch, do grupo Vicunha e da Companhia Siderúrgica Nacional.
Para todos os ouvidos pela Folha, os pedidos de demissão eram apenas uma questão de tempo. Mas ninguém deixou de lamentar o fato. "O Luiz Carlos e o André Lara são dois profissionais excelentes, sobre cuja honestidade não pesa qualquer dúvida", afirmou o ex-ministro e deputado federal Antonio Delfim Netto (PPB). Ele afirmou que "lamenta profundamente" a saída de José Roberto.
"O governo perde figuras importantes. Será uma perda para o presidente, mas o governo sai bem do episódio", afirmou o ex-ministro Mailson da Nóbrega.
Segundo os entrevistados, José Roberto teria apenas aproveitado o momento para fazer algo que faria de qualquer maneira: deixar o governo. "O governo se enfraqueceria se os dois tivessem ficado", disse Nóbrega, referindo-se a Luiz Carlos e Lara Resende. "Eles tiveram uma atitude digna", emendou o ex-ministro.
O ex-presidente da Rhodia, Edson Vaz Musa, que é sócio-diretor da empresa de consultoria MGDK, afirmou que não faz julgamento de valor com relação às pessoas "envolvidas no caso", mas considerou "lamentável que tenhamos concentrado energia nessa questão".
Para o cientista político Sérgio Abranches, "a política condena por qualquer motivo". "No momento em que eles aceitaram passar pelo Congresso, tornaram-se vulneráveis ao crivo político."



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