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Tasso errou ao admitir apoiar Ciro em 2010, diz tucano
FHC pede que partido assuma sem vergonha a modernização capitalista e sustenta que PT abriu uma ilusão de caminho para o país
DA REDAÇÃO
DO PAINEL
Fernando Henrique diz que
os tucanos não souberam
transmitir nada ao eleitor no
segundo turno da disputa presidencial. E sustenta que Tasso
Jereissati, presidente do PSDB,
errou ao admitir na TV que pode apoiar Ciro Gomes, do PSB,
na sucessão de Lula em 2010.
FOLHA - O sr. acha natural que o
presidente do PSDB vá à TV e admita
a possibilidade de apoiar Ciro Gomes [PSB] em 2010?
FHC - Não vi. Acho que ele escorregou em uma casca de banana. Está errado. Agora ele já
levantou, não cabe a mim botar
novas cascas. Essas coisas
acontecem. Você diz uma bobagem. Conheço o Tasso há muitos anos, sei que é uma pessoa responsável. Não acho que tivesse intenção de dizer "vou fazer tal coisa". Ele é inteligente,
sabe que não é bom dizer isso.
FOLHA - Embora o PT tenha, em vários aspectos, aprofundado a política econômica adotada no seu governo, é o PSDB que tem a imagem associada ao setor financeiro. A Casa
das Garças é tucana?
FHC - Eu não sei quantos das
Casas das Garças são tucanos. É
uma questão simbólica. Por isso é que nós temos que ter uma
retórica mais popular. A estabilidade não foi feita para defender banqueiro. Se o banqueiro
também ganhou, ganhou mais
no governo Lula. Eu não sou
contra a Casa das Garças, porque são gente muito competente, mas eles não são o partido.
FOLHA - O sr. acredita que o PSDB
deva se diferenciar do PFL?
FHC - O PFL é um partido que
tem alguma chance de ser importante, porque ele representa algo que nenhum outro partido no Brasil representa: os
contribuintes. "Tax payers",
como dizem nos Estados Unidos. Não sei se eles gostam que
eu diga isso. Nenhum partido
se bate mais que o PFL contra
aumento de impostos.
Não é a burguesia. A burguesia tem mecanismos de não pagar. É a classe média. A pequena e média empresa, o funcionário liberal. As pessoas mantêm a idéia do PFL como o antigo PDS e a Arena. Não é mais.
Perdeu, inclusive, no Nordeste.
O PT ocupou esse espaço. É o
Afif, que quase ganhou em São
Paulo, porque representa isso.
FOLHA - Isso se relaciona com as
bandeiras do PSDB?
FHC - É incompatível com a visão do PSDB? Não. Mas não é a
mesma. Nós nos interessamos
mais por temas macro, que possam ter efeitos globais. É provável que o PFL lance candidato próprio nas próximas eleições. Isso não quer dizer que
vamos entrar em guerra.
FOLHA - Em São Paulo, é lógico esperar que o prefeito Gilberto Kassab
queira buscar a reeleição. E o PSDB?
FHC - Eu acho provável que o
PSDB tenha candidato. Eu não
conversei com o Kassab. Tem
que ver qual é a pretensão dele
e aí medir as forças, ver se ele
tem condições ou não. A lógica
normal é que os partidos tenham seus candidatos.
FOLHA - Qual a lição de casa a ser
feita pelo PSDB daqui por diante?
FHC - Qualquer partido, para
ser pólo de poder, tem que ser
capaz de abrir um caminho, ou
pelo menos uma ilusão de caminho. O PT abriu uma ilusão
de caminho, ia mudar tudo. O
pessoal acreditou -e eles também acreditaram, não foi só um
engano. Depois chegaram lá e
viram que não dava para fazer.
O PSDB saiu da eleição continuando pólo de poder. O Geraldo [Alckmin] teve 40% dos votos. Ganhamos São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul -o coração mais progressista do Brasil.
A votação do Lula se concentra
nas zonas mais dependentes do
Estado. Os ricos, no Norte e no
Nordeste, votaram mais no Lula do que no Geraldo. Os pobres
também. Por quê?
Porque o PSDB expressa melhor esse Brasil mais dinâmico.
Temos que assumir a modernização, não capitular diante do
atraso, disfarçado de estatismo
benevolente. Queremos cidadania, com condição de igualdade, mas com competição.
Nós temos que assumir o que
nós somos e não ter vergonha.
FOLHA - E o Nordeste?
FHC - O PSDB tem aí um desafio concreto: mostrar que esse
espírito empreendedor, mais
igualitário, de respeito à lei, de
não-paternalismo, funciona na
área pobre. Alagoas, para mim,
tem que ser um "show case".
Por que Alagoas e não Paraíba ou Roraima? Roraima é um
Estado menos populoso, a Paraíba também. O mais difícil é
Alagoas. Se nós formos capazes
de mostrar, na prática, que essas idéias melhoram a vida do
povo, e usarmos isso, cacarejar,
não ficar com medo de dizer
que nós fomos modernizadores, nós temos chance.
FOLHA - O sr. acha possível encontrar um caminho sem antes entender o que aconteceu nesta eleição?
Geraldo Alckmin encolheu do primeiro para o segundo turno...
FHC - No segundo turno, o
PSDB não disse nada. Ficamos
mais agressivos com o Lula,
contra a roubalheira, mas, no
essencial, não dissemos nada.
Nós erramos. Não foi o Geraldo. O Geraldo é a expressão.
Fomos nós todos. Eu escrevi a
carta aos eleitores antes do primeiro turno. Muito do que
aconteceu eu disse lá. Fui ouvido? Não. Foi lido maldosamente como se fosse uma posição contra não sei quem. Não era.
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