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Morre, aos 83, dom Aloísio Lorscheider
Arcebispo emérito de Aparecida foi o brasileiro que teve mais chances de virar papa; ele sofria de insuficiência cardíaca
Ao lado de d. Ivo Lorscheiter, d. Hélder e d. Luciano, lutou contra a ditadura; enterro será na quinta-feira, na cidade de Imigrante (RS)
SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA EM PORTO ALEGRE
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O brasileiro que teve mais
chances de virar papa morreu
ontem, por falência múltipla
dos órgãos. Dom Aloísio Lorscheider, 83, arcebispo emérito
de Aparecida (SP), estava internado desde o dia 28 de novembro no Hospital São Francisco,
em Porto Alegre.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que "sua
dedicação aos pobres e à justiça
social são exemplos que permanecerão vivos para todos os
brasileiros". A governadora do
Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), declarou luto oficial de três dias.
Dom Aloísio sofria de insuficiência cardíaca. Somente neste ano, havia sido internado
quatro vezes. Em 28 de novembro, teve um acidente vascular
cerebral isquêmico. Seu estado
piorou no dia 11 de dezembro.
Levado para a UTI, ficou em coma induzido por medicamentos até a morte, constatada às
5h20 de ontem.
O corpo foi levado para a Catedral Metropolitana de Porto
Alegre às 16h, onde será velado
até às 20h de amanhã. Depois,
irá para a nave central da igreja,
onde permanecerá até quarta-feira. Às 9h30 do dia 26, será celebrada uma missa pela Província Franciscana e, às 18h, o arcebispo de Porto Alegre, dom
Dadeus Grings, irá realizar a
"missa de exéquias", que é o ritual de corpo presente.
Na noite do dia 26, o corpo
seguirá para Imigrante, cidade
vizinha a Estrela (109 km de
Porto Alegre), onde dom Aloísio nasceu em 8 de outubro de
1924. Lá, será velado por mais
uma noite, até o horário do enterro, marcado para às 17h de
quinta-feira no Cemitério dos
Franciscanos Daltro Filho.
Franciscanos
Nascido em uma comunidade alemã em Estrela, ele voltou
ao Rio Grande do Sul em 2004,
quando deixou a arquidiocese
de Aparecida (SP) e foi viver entre 18 frades franciscanos no
convento Monte Alverne, em
Porto Alegre. Frei Jorge Hartmann, responsável pelo convento, diz que ele continuava a
dar palestras a comunidades
próximas e rascunhar livros
que pretendia levar ao prelo.
Também gostava de receber
amigos, como d. Cláudio Hummes (hoje "ministro" do papa
Bento 16 no Vaticano, a quem d.
Aloísio ordenou bispo em
1975), com quem se encontrou
em setembro deste ano.
"Ele resistiu enquanto pôde,
era estóico, homem de fé, dizia
estar tranqüilo para quando
Deus o chamasse", diz Hartmann. "Era obediente no convento e, mesmo cardeal entre
os frades, queria viver como um
de nós, pedia autorização para
sair. A gente estranhava, mas
ele sempre dizia que quem não
sabe obedecer não sabe mandar", conclui o frade.
A saúde do presidente da
CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) entre 1971
e 1978 e do Celam (Conselho
Episcopal Latino-Americano)
entre 1976 e 1979 sempre foi
frágil. Ao longo da vida, sofreu
um infarto, tinha pressão alta,
passou por oito cirurgias (duas
no coração), colocou quatro
pontes de safena e um marca-passo. Era também diabético.
Conclave
Em 1978, durante o conclave
que transformou Albino Luciani no papa João Paulo 1º, d.
Aloísio recebeu votos dos cardeais presentes. Uma das versões diz que o próprio Luciani
votou em d. Aloísio. Entre os fatores que enfraqueceram a sua
candidatura está o infarto sofrido pouco tempo antes.
Anos mais tarde, em 2005, d.
Aloísio acrescentaria outra razão, em entrevista sobre as
chances de d. Cláudio na sucessão de João Paulo 2º. "Os europeus, maioria no conclave, têm
uma indisfarçável sensação de
superioridade. Eu conheço
bem isso. Nós, não-europeus (e
isso vale também para os africanos e asiáticos), sofremos
uma certa discriminação. Tudo
isso, bem entendido, é humanamente falando."
Junto com bispos como seu
primo d. José Ivo Lorscheiter
(morto em março deste ano), d.
Hélder Câmara, arcebispo de
Olinda e Recife morto em 1999
e d. Luciano Mendes de Almeida, bispo de Mariana (MG)
morto em 2006, d. Aloísio tomou a frente no combate ao regime militar. Também foi um
dos bispos mais ligados à Teologia da Libertação, corrente
que vê a igreja a serviço da
transformação social. Mas não
era um dos bispos mais ligados
ao PT. Um de seus interlocutores políticos era o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Quem
conviveu com ele afirma que
era disciplinado e piedoso.
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