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OPERAÇÃO ANACONDA
Integrante do Ministério Público Federal seria braço da organização criminosa nos tribunais superiores
Subprocurador aconselhou a forjar provas
FREDERICO VASCONCELOS
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O subprocurador-geral da República Antônio Augusto Cesar,
54, orientou o agente da Polícia
Federal César Herman Rodriguez, 41, um dos réus presos da
Operação Anaconda, a forjar provas para reduzir a responsabilidade desse policial num episódio de
agressão e lesão corporal.
Em telefonema grampeado pela
Polícia Federal na noite de 9 de setembro de 2002, Rodriguez contou a Antônio Augusto que havia
quebrado o maxilar de "Duda",
ex-companheira do policial.
O subprocurador recomendou,
então, que Rodriguez pedisse à secretária do policial, Lisandra Chagas, que lhe desse umas unhadas
ou o mordesse. Sugeriu que, logo
em seguida, Rodriguez tirasse fotos dos machucados e fizesse um
exame de corpo de delito, para simular legítima defesa.
"Vamos ser pragmáticos", diz o
procurador, em um dos diálogos.
"É o único jeito aí de você sair dessa. Qualquer coisa, você revidou
porque estava sendo agredido."
A gravação está no relatório final da Operação Anaconda e confirma o grau de intimidade entre o
policial e o procurador. Essa fita e
a apreensão de armas levaram o
Ministério Público Federal a pedir
a prisão preventiva do policial.
Ao ser interrogado pela desembargadora Therezinha Cazerta,
Rodriguez disse que aquele episódio não havia gerado inquérito.
Procurado pela Folha, Antônio
Augusto confirmou o telefonema.
Ele diz que não agiu como procurador, mas "como amigo de alguém que estava em desespero" e
que cometera "um ato bárbaro".
Segundo Antônio Augusto, ele
já estava dormindo quando recebeu o telefonema de Rodriguez.
A transcrição da conversa entre
Rodriguez e Antônio Augusto
também sugere que havia um relacionamento estreito entre o
agente policial e juízes federais.
Rodriguez diz ao subprocurador que sua ex-companheira ligava várias vezes por dia para importuná-lo. Antônio Augusto sugeriu que o policial trocasse seus
telefones. "Eu não posso fazer isso. Todos os juízes lá têm meu telefone hoje", disse Rodriguez.
A Folha não localizou "Duda", a
ex-companheira de Rodriguez. O
relatório da PF não cita seu nome
completo. Por telefone, uma amiga informou que ela está viajando.
A Folha apurou que há uma minuta de denúncia contra Antônio
Augusto Cesar na Procuradoria
Geral da República, em Brasília.
Processos monitorados
Outra conversa grampeada indica que o subprocurador orientava processos de interesse do advogado Affonso Passarelli Filho e
de Rodriguez, que atuava, na ocasião, como advogado, pois havia
sido afastado da Polícia Federal.
Os diálogos tratam, de forma cifrada, de uma ação movida contra
o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos pela sua ex-mulher,
Norma Regina Emílio Cunha.
O grampo sugere que o subprocurador acertava com Rodriguez
formas de interferir no andamento do processo e de manter o juiz
federal informado da tramitação.
O subprocurador dá orientações sobre processo de reconhecimento de sociedade conjugal que
Norma moveu contra Rocha Mattos. Em linguagem cifrada, eles se
referem a personagens (o "papa",
o "gato do telhado") que supostamente poderiam influir na tramitação daquela ação de família.
Eis um dos trechos enigmáticos
na voz de Rodriguez: "Porque daí
ele me fala todos os "versículos"
que ele quer saber, a redação dos
"versículos" todos, e deixo tudo
em "stand by" com o "papa'".
O escritório de Passarelli, onde
o procurador tem salas e secretárias, é tido pela PF como uma das
"bases de atuação da organização
criminosa" que negociaria sentenças na Justiça Federal.
Como subprocurador-geral da
República, Antônio Augusto está
no topo da carreira no Ministério
Público Federal em Brasília. No
relatório final da Operação Anaconda, ele seria o "braço da organização criminosa com atuação
junto aos tribunais superiores".
A PF cruzou informações do
banco de dados do escritório de
Passarelli com processos nos
quais Antônio Augusto atuou, como subprocurador, no Superior
Tribunal de Justiça. É o caso de
uma ação cujo réu, Soliman Taman, era representado por Rodriguez.
Pela lei, Antônio Augusto pode
exercer a advocacia privada, porque entrou na carreira antes da
Constituição de 1988. Ele é procurador da República desde 1982. A
Anaconda identificou processos
em que ele, "ostensiva ou dissimuladamente, atuou contra os interesses da União ou da Fazenda
Nacional", o que é vedado.
Mesmo residindo em Brasília,
Antônio Augusto advoga em São
Paulo. Documentos e outras gravações da polícia revelam que ele
é sócio do escritório de Passarelli,
onde ocupa três das oito salas, o
que foi confirmado, em interrogatório na Justiça Federal, pelo
próprio Rodriguez.
Ainda segundo a PF, Antônio
Augusto "é integrante da citada
"banca de advogados", participando dos lucros do escritório".
O relatório da PF cita que ele está "cadastrado no banco de dados
do escritório como um dos advogados contratados" e que era "advogado nas horas vagas ou subprocurador-geral da República
quando os interesses da organização criminosa recomendavam".
A Operação Anaconda registra
que Rodriguez teria vendido uma
Mercedes ML blindada, ano 98, a
Antônio Augusto, por R$ 150 mil.
O veículo estaria em nome de Lisandra, a secretária do policial.
Em minuta de um instrumento
particular de confissão de dívida,
achada pela PF no escritório de
advocacia, documento não assinado, o subprocurador reconhece
dever US$ 66,5 mil ao policial.
Antônio Augusto disse anteriormente que tinha dívida com Rodriguez por compra de veículos.
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