São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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FÓRUM GLOBAL

Levantamento com 1.400 executivos aponta que a questão lidera as preocupações quando se fala do Brasil

Corrupção incomoda 79% dos empresários

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A corrupção subiu ao topo da lista de preocupação dos empresários no Brasil: 79% deles apontam-na ou como "um dos maiores desafios" para suas atividades (47%) ou como "um desafio significativo" (os restantes 32%).
Os números surgiram em pesquisa mundial promovida pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), divulgada ontem em Davos (Suíça), para aproveitar a concentração de homens de negócio e jornalistas que acompanham o encontro anual 2006 do Fórum Econômico Mundial.
Foram ouvidos 1.400 empresários, 49 deles brasileiros, a maior amostra das nove pesquisas feitas pela PwC.
A inquietação com a corrupção é comum aos empresários de países em desenvolvimento, ao contrário do que acontece com seus colegas do mundo rico, que se preocupam mais com o terrorismo.
Mas o presidente da Pricewaterhouse, Samuel DiPiazza Jr., disse à Folha que "o maior nível de preocupação [com a corrupção] aparece no Brasil e na Rússia", ao menos entre os países que ganharam o acrônimo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Estudo do banco americano Goldman Sachs de 2003 dizia que esses quatro países seriam potências mundiais em 2050.
Segundo motivo de inquietação para os empresários dos países em desenvolvimento: instabilidade política. A Folha quis saber se os brasileiros, em um ano eleitoral como 2006, tinham semelhante inquietação, mas DiPiazza não dispunha de elementos para responder.
Havia, sim, dados sobre outro motivo de preocupação entre os brasileiros ouvidos: o câmbio, citado por 42% deles.
Entre os empresários do mundo em desenvolvimento em geral, 67% apontam corrupção como problema principal ou, ao menos, muito significativo. Nos países ricos, ao contrário, corrupção incomoda apenas 32%.
Como é natural, instabilidade política preocupa 67% dos empresários nos países em desenvolvimento, mas apenas 49% entre os do mundo rico.
A pesquisa confirma o relativo ofuscamento do Brasil, entre os Bric, já apontado ontem pela Folha -78% por cento dos CEOs (executivos-chefes, na sigla em inglês) consultados apontam a China como "a mais significativa oportunidade de mercado". Natural para um país com crescimento tão espetacular nos últimos 20 anos.
Logo a seguir, vem a Índia, a nova estrela da economia global: 64% dos empresários sentem-se atraídos pelo país, ao passo que apenas 46% vêem grandes oportunidades no Brasil. O país fica atrás até da Rússia, preferida por 48%.

Ameaça chinesa
A China, como é igualmente natural, é vista como grande ameaça no próprio mercado dos consultados para a maioria deles (52%). A Índia vem a seguir, com 28%.
Mas o Brasil é a grande ameaça para 50% dos empresários argentinos consultados, confirmando o que os técnicos da PwC chamam de "efeito vizinho imediato". Ou, traduzindo: o peso e tamanho do vizinho próximo podem incomodar mais que um gigante global como é hoje a China, o que ajuda a entender as constantes fricções entre Brasil e Argentina.
A pesquisa mostra ainda, sempre segundo DiPiazza, que "cortar custos não é mais o único propósito da globalização". Agora, trata-se acima de tudo de "encontrar e servir novos clientes em mercados em crescimento ao redor do mundo", diz o presidente da PwC,
Fecha assim: "As economias do Brasil, Rússia, Índia e, naturalmente, China eram antes vistas acima de tudo como fontes de produção de baixo custo. Agora, no entanto, apresentam substanciais oportunidades de crescimento tanto para as empresas multinacionais como para as companhias localmente baseadas, e ao mesmo tempo estão produzindo uma nova leva de sérios competidores globais".


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