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Brasil é ignorado em abertura de fórum, que exalta China
Sessão global que inaugura encontro não menciona país em 70 minutos de exposição
Na sessão latino-americana, ex-presidente do México atribui a um "capitalismo relutante" o crescimento apenas "medíocre" da região
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Os encontros anuais do Fórum Econômico Mundial começam, tradicionalmente, com
uma sessão matinal de atualização sobre a economia mundial. Este ano, agregaram-se
atualizações regionais, entre
elas sobre a América Latina.
Azar da América Latina: ninguém tocou no nome dela ou de
qualquer um de seus países,
nem o Brasil, na sessão global,
carregada de euforia sobre a
economia mundial.
Em contrapartida, no debate
sobre a América Latina, tocou-se um melancólico tango argentino, com críticas ao crescimento "medíocre" da região.
Como a América Latina cresceu, no ano passado, 5,3%, não
se fizeram necessárias observações sobre o desempenho do
Brasil, mais ou menos a metade
dessa "mediocridade".
No andar de cima (literalmente: o debate sobre a economia global foi um piso acima da
sala sobre a América Latina), o
indiano Montek Ahluwalia, vice-presidente da Comissão de
Planejamento de seu país, jogava ao auditório os 8,3% de crescimento da Índia.
A seu lado, humilhava-o Min
Zhu, vice-presidente do Banco
da China, com o crescimento
de 10,5% de seu país.
Até o mundo rico tinha números bons a apresentar, pela
voz de Laura D'Andrea Tyson,
reitora da London Business
School: Estados Unidos, Europa e Japão vão crescer entre 2%
e 2,5%, o que é muito bom para
esse tipo de país, de economias
já prontas e acabadas.
Depois de 70 minutos de otimismo, sem que aparecesse a
palavra Brasil, o enviado da Folha quis saber o que tinham a
dizer sobre o país.
Por acaso ou não, a resposta
foi entregue ao único pessimista, Nouriel Roubini, presidente
da Roubini Global Economics
(EUA). Ele limitou-se a dizer as
platitudes convencionais: que o
Brasil fizera as reformas macroeconômicas indispensáveis,
que tinha uma boa estratégia
fiscal e reduzira a inflação a patamares mais que civilizados.
Para aumentar o crescimento, falta, completou, elevar a taxa de investimentos e fazer as
indefectíveis reformas.
No andar de baixo, o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo ia um pouco mais longe, ao
falar da América Latina em geral. Disse que os latino-americanos são "capitalistas relutantes", do que resultaria o "medíocre" crescimento.
Ninguém discordou, até porque os debatedores pertencem
à corrente liberal. Exceção feita
ao brasileiro Ricardo Young,
presidente do Instituto Ethos,
que defendeu o que chamou de
"políticas pró-pobres". Crescimento só não basta, argumentou, citando pesquisa do Fundo
das Nações Unidas para o Desenvolvimento, segundo a qual
56% de 80 países pesquisados
tiveram crescimento econômico, mas só 23% melhoraram a
situação de seus pobres.
Mas ressaltou: "Esse tipo de
política tem que perdurar por
pelo menos duas décadas. E
não basta reduzir a pobreza se
as pessoas não tiverem educação para se tornarem competitivas no mercado de trabalho".
Redução da pobreza e da desigualdade figuraram em todos
os discursos. Houve até menções ao fato de que a pobreza,
pelo menos, está se reduzindo,
mas não de maneira suficiente.
"A porcentagem da riqueza
nacional que vai para o capital
está aumentando na comparação com a fatia que vai para o
trabalho", observou Guillermo
Ortiz, presidente do Banco
Central do México.
No andar de cima, o otimismo era tamanho que o catastrofista de plantão todo ano em
Davos (Stephen Roach, economista-chefe da Morgan Stanley) desta vez nem foi chamado. Roach prevê todo ano uma
crise que ainda não aconteceu.
No lugar dele, entrou Nouriel
Roubini, que conseguiu enxergar "três ursos feios" no caminho da economia mundial: o
fim do "boom" imobiliário nos
Estados Unidos, o aumento dos
juros, que começa a provocar
um sufoco no crédito, e a retomada da tendência à alta no
preço do petróleo.
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