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DIRETAS-JÁ / 25 ANOS DEPOIS
Ayres Britto agora afirma defender voto obrigatório
Eleição é mais participativa quando voto não é facultativo, diz presidente do TSE
Ministro diz que a eleição é um processo de educação política e que obrigação de votar depende da evolução democrática e econômica
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Carlos Ayres Britto, diz que
mudou recentemente de opinião e que agora apoia o voto
obrigatório, ao menos no atual
estágio da democracia. Acredita que os brasileiros estão "se
autoqualificando no plano da
compreensão da democracia".
"Democracia é como concurso público e licitação. Tem seus
defeitos, mas ninguém experimentou no mundo nada comparável", resume.
(FBM)
FOLHA - O que o sr. acha do voto
obrigatório?
CARLOS AYRES BRITTO - Sempre
que solicitado, vinha me pronunciando pelo voto facultativo. Nos países de democracia
consolidada e economia desenvolvida prepondera o voto facultativo. Sobretudo após um
debate recente, fiquei convencido de que a questão do voto
depende de cada povo e do estágio de evolução democrática.
Cada eleição popular opera
empiricamente como um processo de educação política. A
eleição é tanto mais popularmente participativa quanto
obrigatório o voto. Nesse estágio da nossa evolução democrática e econômica cada eleição
cumpre um pouco esse papel.
O voto facultativo significaria uma desmobilização física,
provavelmente com maior repercussão nos setores mais
economicamente necessitados
e com menos educação formal.
FOLHA - O apoio ao voto obrigatório é maior entre os de menor renda.
AYRES BRITTO - Não será porque
as próprias pessoas sabem que
a oportunidade de se educar
politicamente é maior a cada
eleição? A cada eleição você conhece as biografias, ideias, propostas e se instaura um clima
difusamente político.
FOLHA - A população acha cada vez
mais que a democracia é a melhor
forma de governo. O sr. vê uma ligação entre voto obrigatório e apoio à
democracia?
AYRES BRITTO - Não há outro
modo democraticamente legítimo de se chegar a um cargo de
representação política, senão
mediante eleição. As pessoas
podem até não saber disso teoricamente, mas cada vez mais
instintivamente. Elas estão se
autoqualificando no plano da
compreensão da democracia.
A democracia é esse grande
patrimônio imaterial que termina sendo uma espécie de
mãe de todas as grandes virtudes coletivas. Quando você
pensa em legitimidade, eleição,
voto direto secreto, transparência, pensa em democracia.
FOLHA - Quais são os desafios
atuais da democracia?
AYRES BRITTO - Democracia é como concurso público e licitação. Tem defeitos, mas ninguém experimentou no mundo
nada comparável. Um dos desafios é caminhar de braços dados
com a imprensa livre. A democracia amplia os quadrantes de
atuação da imprensa livre e esta amplia os quadrantes de
compreensão da democracia.
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