|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Refugiados italianos no Brasil apoiam decisão de ministro
Além de Battisti, outros quatro condenados na Itália já obtiveram
Grupo reclama que governo da Itália persegue "políticos dos anos 70"; atualmente, três deles vivem no Rio, o outro, próximo a Curitiba
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes de Cesare Battisti, outros quatro ex-comunistas italianos conseguiram refúgio no
Brasil. Luciano Pessina, Achille
Lollo, Pietro Mancini e Pasquale Valitutti foram beneficiados
por decisões do STF (Supremo
Tribunal Federal) contra pedidos de extradição da Justiça da
Itália ao longo de 15 anos.
A Folha localizou três deles
vivendo no Rio de Janeiro. No
dia a dia dos antigos militantes,
a política deixou de ser prioridade. E a ideologia, quando
muito, serve apenas de pano de
fundo para atividades essencialmente comerciais.
Pietro Mancini, 60, ex-militante comunista, tem hoje uma
produtora: a Studio Line-Baribrá, que recebeu R$ 1,5 milhão
para fazer a campanha do deputado federal Fernando Gabeira (PV) para a Prefeitura do
Rio em 2008.
Naturalizado brasileiro,
Mancini foi condenado na Itália por subversão e assassinato,
crimes que ele nega ter cometido. "Pela lei, só poderei voltar
em 2024", afirma.
Segundo o produtor, que
também é sociólogo, anistia é
palavra proibida na Itália.
"Essa perseguição aos políticos dos anos 70 é muito poderosa. Fazem do ódio uma política permanente, realimentada", afirma. O caso de Mancini,
em 2005, opôs os ministros do
STF, que acabou classificando
os crimes como "políticos".
Achilles Lollo, 57, foi preso
em 1993 a pedido da Itália, mas
o Supremo também negou a
extradição. Era acusado de duplo homicídio culposo, por causa de um incêndio de uma residência realizado pelo grupo
Poder Operário.
A pena de 18 anos de prisão
foi extinta há quatro anos. No
Brasil, Lollo flertou com o PT e
o PSOL. Atualmente, dedica-se
a elaborar documentários de
conteúdo progressista.
Produzida por ele, a película
"Brasileiros em Cuba", por
exemplo, inaugurou o cineclube da Casa da América Latina,
núcleo que reúne no Rio militantes do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra), dos Círculos Bolivarianos e outros grupos de esquerda que atuam no Brasil.
"Tudo o que faço tem um
conteúdo político. Já fiz revistas relacionadas com o PT e o
PSOL. Hoje faço uma coisa
mais individual, com liberdade.
Mas há uma orientação de esquerda, progressista", afirma.
Intransigência
Luciano Pessina, 60, ex-membro da Autonomia Operária, também conseguiu reverter
sua extradição no Supremo, em
1996. A Itália o acusava de roubo e participação em grupo armado. De acordo com ele, a decisão do ministro Tarso Genro
(Justiça) a favor de Cesare Battisti foi correta.
Para Pessina, o clima de perseguição se dá por causa da "intransigência dos comunistas" e
do "ódio dos católicos". "Eles
incitam as famílias das vítimas
a não perdoarem os crimes do
passado, a não esquecer."
No Rio, Pessina abriu o restaurante Osteria Dell'Angolo.
Como os demais, é membro do
Carp (Comitê de Assistência a
Refugiados Político), grupo de
caráter informal. Pessina conta
que foi procurado por Battisti
pouco antes de ser preso.
"Não sabíamos que ele estava
no Brasil até que ele nos procurou, por meio de um conhecido,
pedindo apoio logístico. A ideia
era marcarmos um encontro,
mas nunca ocorreu", afirma.
O ex-militante lembra que o
grupo de Battisti, o Proletários
Armados pelo Comunismo, teve breve duração na Itália.
A Folha não conseguiu localizar Pasquale Valitutti. De
acordo com Lollo, Valitutti vive
numa comunidade de anarquistas próxima ao município
de Curitiba.
Texto Anterior: Saiba mais: Problemas de infraestrutura são entrave Próximo Texto: Entrevista: Itália encobre "asilo francês", afirma filósofo Índice
|