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Escavações revelam detalhes da repressão na Operação Condor
Antiga fazenda na fronteira com a Argentina foi um centro de
detenção clandestino para opositores de ditaduras nos anos 70
Local passou a ser usado em 1976 para que suspeitos de atuar em grupos de esquerda
pudessem ser interrogados, torturados e executados
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A URUGUAIANA (RS)
Novas escavações em uma fazenda na fronteira entre Brasil
e Argentina trouxeram à tona
detalhes das atividades da repressão no fim dos anos 70 na
chamada Operação Condor
-ação das ditaduras militares
dos países da América do Sul.
A Estância La Polaca, a 15 km
de Paso de Los Libres (Argentina) e às margens do rio Uruguai, foi um centro de detenção
clandestino para onde eram levados opositores das ditaduras.
Em dezembro, a Justiça argentina determinou nova busca de
corpos no local. Acredita-se
que lá possam estar enterrados
militantes de esquerda.
Antiga fazenda de gado, La
Polaca é um local sem moradores. Sua existência como centro
de detenção foi confirmada em
2005, pelo depoimento de um
ex-agente de inteligência do
Exército argentino, Carlos
Waern. O local começou a ser
usado em 1976. Para lá eram levadas pessoas suspeitas de pertencer a grupos de resistência
que passavam por Uruguaiana
-fronteira binacional- para ir
a Brasil, Argentina e Uruguai.
Segundo a pesquisadora Sabrina Steinke, da PUC-RS, de
1976 a 1978 várias fazendas foram tomadas por empréstimo
na Argentina. Serviam de prisão onde os detidos eram interrogados, torturados e executados. "A prisão clandestina de
estrangeiros na Argentina
mostra que esses centros não
serviam apenas ao governo argentino, mas sua manutenção
estava relacionada à Condor."
La Polaca surgiu na contraofensiva da ditadura argentina
para deter montoneros, grupo
de origem peronista que tentou
fazer um levante contra o regime no país no final dos anos 70.
Ao menos dois deles foram detidos pela Argentina em Uruguaiana -procedimento ilegal
que a Condor tornou rotineiro.
A partir de 1978, a Argentina
passou a usar os presos, depois
de torturados, como "marcadores". Tornavam-se informantes
da repressão e, levados à ponte
onde fica a fronteira de Libres e
Uruguaiana, delatavam companheiros da esquerda que tentavam cruzar de ônibus.
Lorenzo Ismael Viñas e Jorge Oscar Adur, detidos em Uruguaiana em 26 de junho de
1980, teriam sido identificados
por marcadores. O desaparecimento dos dois em solo brasileiro, reconhecido pelo Brasil, é
investigado pela Procuradoria
da República de Uruguaiana,
que pretende denunciar os responsáveis criminalmente.
Segundo depoimentos, Adur
teria passado por La Polaca.
Copa
La Polaca e os outros centros
podem ter sido usados para esconder do mundo a repressão
no país durante a Copa de 1978.
Com o campeonato, foi necessário tirar presos ou sessões de
interrogação de Buenos Aires.
Em documento obtido pelo
Movimento de Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre, a
polícia argentina pede ajuda ao
Brasil para "localizar e deter
montoneros" que eram uma
ameaça para a "tranquilidade"
da Copa do Mundo. "A busca
dessas pessoas, consideradas
inimigas do governo, era feita
em conjunto e sistematicamente", afirma Jair Krischke,
presidente do movimento.
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