São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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RIO
Irônico, presidente do PDT diz que está se consultando com "o Jó da Bíblia' e que o governador é um "menudo'
Aumenta cisão entre Brizola e Garotinho

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, e o governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), não falam mais a mesma língua. Assessores de Brizola classificam como "péssimas" as relações dos dois. Ambos se esforçam para evitar confrontos em público, mas, dentro do partido, a distância entre ambos é cada vez maior.
Brizola ironiza os problemas de relacionamento e diz que está se consultando com Jó. "O da Bíblia", brinca, referindo-se ao personagem famoso pela paciência.
O presidente do PDT diz ver os primeiros passos de Garotinho com benevolência, mas também com desconfiança. E se queixa da falta de consulta ao partido sobre formação do governo e decisões consideradas importantes.
²
Itamar Franco
Brizola não gostou de Garotinho ter criticado a opção do governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), pela moratória. Afirmou isso publicamente, mas evitou condená-lo por não ter seguido o mesmo caminho -ele reconhece que um presidente de partido não tem os mesmos comprometimentos institucionais de um governador.
Segundo Brizola, os problemas começaram com a indicação para secretário de Justiça de Sérgio Zveiter, um desafeto de dirigentes pedetistas -entre outras coisas por ter defendido a intervenção federal no Rio em 1994, no final do governo Nilo Batista (PDT).
Uma tentativa de aparar as arestas aumentou o desconforto. Carlos Lupi -que substituiu Brizola na presidência nacional do PDT durante a campanha no ano passado- deu até entrevista como novo secretário de Transportes. Mas Garotinho voltou atrás, e a secretaria foi para o PT, causando mais irritação na cúpula pedetista.
O governador tentou apagar o fogo convidando Lupi para secretário de Gabinete Civil, cargo que já prometera ao advogado Jonas Carvalho, seu braço-direito e tesoureiro de campanha.
No dia 5, o "Diário Oficial" trouxe a nomeação de Lupi para chefe de Gabinete de Garotinho -cargo com status de secretário inventado pelo governador com, teoricamente, sobreposição de função com o posto de Carvalho.
A nomeação saiu sem que Lupi fosse previamente avisado. Ele recusou a indicação, aumentando o constrangimento. Garotinho até agora não revogou a decisão e a criação do cargo.
O governador explica que não tem tido tempo para conversar com "o doutor Leonel Brizola". Muitos dirigentes do PDT apostam que sua saída do partido é uma questão de tempo. Vários políticos fora do partido acham o mesmo. O ex-governador Marcello Alencar (PSDB) -que frequentava as hostes brizolistas- é um.
Por causa do extenso histórico de deserções do PDT -entre os quais Jaime Lerner (PFL), Francisco Rossi (sem partido), Cesar Maia (PFL), Dante de Oliveira (PSDB) e Saturnino Braga (PSB)-, Brizola se diz acautelado. "Estou procurando uma benzedeira", brinca.
Ironicamente, ele afirma dar um crédito a Garotinho, 38, por ele ser muito jovem. "Um menudo", nas palavras do ex-governador, comparando Garotinho aos integrantes do conjunto porto-riquenho que fez sucesso nos anos 80. Será que Brizola sabe que os rapazotes do grupo seguiram carreira solo?


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