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Governo paulista suspende diálogo com MST
Após invasões, Luiz Antonio Marrey, secretário da Justiça, diz ter cancelado encontro previsto para amanhã com líderes do Pontal
José Rainha Jr. afirmou não ter sido avisado até ontem do cancelamento da reunião e que medida é "autoritária e com cheiro de ditadura"
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA
O secretário estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania,
Luiz Antonio Marrey, decidiu
suspender o diálogo com o
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e
cancelou reunião que teria
amanhã com José Rainha Jr. e
outros representantes de organizações sociais do Pontal.
"Tinha uma reunião marcada. Eles fazem invasão, então
não há mais razão para diálogo", disse à Folha. Para Marrey, as invasões lideradas por
Rainha no Pontal do Paranapanema, oeste paulista, são políticas e servem de oposição ao governo do Estado.
"É uma manifestação política artificial que gera perturbação da paz na região do Pontal.
Há lideranças do movimento
que querem eternizar o conflito. Tem Carnaval vermelho,
Páscoa vermelha. Não será surpresa se esses movimentos se
intensificarem durante o ano."
Rainha disse ontem que, se o
secretário está interrompendo
o diálogo, é "porque não tem
nada de concreto a oferecer".
Até a noite de ontem, ele disse
que não havia sido informado
do cancelamento da reunião.
Para a liderança sem terra, a
medida é "autoritária e com
cheiro de ditadura".
Rainha, que está há três anos
desautorizado pela coordenação do MST a praticar ações em
nome do movimento, reclama
da falta de investimento do governo do Estado nos assentamentos estaduais e defende
que sejam assumidos pelo governo federal, por meio do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Segundo ele, o Itesp (Instituto
de Terras de São Paulo) não
tem competência para fazer a
reforma agrária.
O secretário defendeu a
atuação do Itesp, disse que o
governo vai apoiar as ações de
reintegração de posse e que
não revogará as duas portarias
que excluem a participação de
movimentos sociais nas comissões de seleção de assentados.
"O endereço para eles reclamarem é a Esplanada dos Ministérios [em Brasília]. A reforma agrária é prerrogativa constitucional do governo federal e
ao Estado cabem ações subsidiárias na arrecadação de terras devolutas", afirmou.
Invasões
A série de invasões promovidas desde sábado por agricultores sem terra liderados por Rainha já é mais intensa do que as
ações coordenadas nos últimos
dois anos na mesma região,
também durante o Carnaval.
Até o início da noite de ontem, a Polícia Civil confirmava
16 propriedades invadidas em
quatro dias, distribuídas por 12
municípios. Segundo a polícia,
não há registro de prisões.
Rainha disse ontem que 22
fazendas em 15 cidades haviam
sido invadidas no que chamou
de Carnaval vermelho. Anteontem, o líder sem terra declarou
que eram 20 as invasões.
O número oficial, de qualquer forma, já é superior às 14
invasões do ano passado, distribuídas por sete dias, e às de
2007, quando foram tomadas
13 propriedades em três dias.
As ações de 2008 e 2007 foram
encabeçadas também por Rainha e tiveram como alvo uma
alegada morosidade do governador José Serra (PSDB) na
execução da reforma agrária na
região. Seis das 16 fazendas invadidas desde sábado foram alvo do movimento também no
Carnaval do ano passado.
(CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA, BRENO COSTA E SÍLVIA FREIRE)
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