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Arruda leu inquérito antes de a PF lançar ação contra ele
Governador afastado teve acesso a 200 páginas da investigação na véspera da operação
Despacho do ministro do STJ Fernando Gonçalves em 26 de dezembro garantiu vista a advogados; inquérito vai apurar vazamento na PF
HUDSON CORRÊA
LUCAS FERRAZ
FERNANDA ODILLA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na véspera da Operação Caixa de Pandora, José Roberto
Arruda já conhecia em detalhes
200 páginas do inquérito que a
Polícia Federal havia preparado sobre o mensalão do DEM.
A Folha apurou que o STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
liberou a papelada para advogados do então governador do
Distrito Federal no dia 26 de
novembro. A PF, que havia se
programado para efetuar a
busca de provas no dia 1º de dezembro, teve de se antecipar.
A ordem de agilizar partiu do
próprio diretor-geral da PF,
Luiz Fernando Corrêa, que estava em El Salvador quando foi
surpreendido pela notícia de
que os alvos da operação já sabiam da linha de investigação
sobre o esquema de propina e
compra de apoio político.
Não se sabe que prejuízos a
liberação pode ter causado à
operação. A PF encontrou cópias dos documentos liberados
pelo STJ na casa do então chefe
de gabinete de Arruda. Eram
planilhas de gastos e notas fiscais do suposto caixa dois da
campanha eleitoral de 2006.
Estavam em um envelope com
o timbre do tribunal.
Um inquérito foi aberto para
apurar se houve vazamento. O
caso está sob responsabilidade
da área de inteligência da superintendência do órgão.
Segundo a Folha apurou, os
advogados de Arruda conseguiram o material legalmente no
STJ. As 200 folhas pertencem
ao volume 2 do inquérito -um
quarto do total à época.
Procurado pela Folha, o ministro Fernando Gonçalves, do
STJ, disse inicialmente que
não tinha dado à defesa acesso
ao inquérito. "Não tenho conhecimento. A operação ficou
em sigilo absoluto. Só depois de
realizada, eu liberei", afirmou.
"Você acha que seria louco de
autorizar vistas em uma operação sigilosa?", perguntou.
A Folha então enviou ao gabinete do ministro cópia do
despacho de 26 de novembro,
com a assinatura manuscrita
dele, que deu a Arruda acesso
ao inquérito. A assessoria de
Gonçalves confirmou que o documento é autêntico e que a assinatura é dele. O ministro não
quis fazer novos comentários.
No despacho assinado pelo
ministro, havia um parecer da
Procuradoria-Geral da República defendendo a liberação de
parte do inquérito que não seria, na avaliação dele, sigilosa.
Fazia ao menos três semanas
que Arruda tentava confirmar
se era alvo de investigação da
polícia. O governador chegou a
visitar o gabinete de Gonçalves,
segundo relatou o ministro em
entrevista à Folha.
O advogado Cláudio Fruet,
que defendia Arruda e na época
reclamava informações ao tribunal, disse que foi o governador quem conseguiu o número
de inquérito.
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