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CRISE
CRISE
Saque é legítimo e não deve ser criminalizado, afirma Stedile
Esquerda espera convulsão social se economia não mudar
CARLOS EDUARDO ALVES
da Reportagem Local
Partidos, sindicatos e movimentos de esquerda vislumbram um cenário de convulsão
social se a recessão econômica
não for ao menos atenuada. Saques, manifestações de rua e
pressão popular são termos cada
vez mais utilizados pelos oposicionistas.
João Pedro Stedile, líder do
Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), vocaliza o sentimento da esquerda e dá
a receita pontual para enfrentar
a crise e forçar a ruptura com o
modelo recomendado pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI). "Fernando Henrique
Cardoso não tem mais moral para convocar a salvação nacional
e vamos aumentar o ritmo de
ocupação de terra", diz Stedile.
Os sem-terra, segundo seu líder, não aceitam que os saques
sejam tratados como questão
policial. "O saque contra a fome
é legítimo e não pode ser criminalizado", acha Stedile.
O MST e partidos e entidades
de esquerda estão agrupados, na
luta pela mudança da política
econômica, no Fórum Nacional
de Lutas. O objetivo é organizar
a "resistência" ao governo.
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, participa da articulação e, na CUT, já admite o início
da discussão sobre a conveniência de tentar organizar uma greve geral contra o desemprego.
Vicentinho reconhece que a
mobilização sindical é dificultada pelo óbvio temor, dos que
ainda mantêm carteira assinada,
de engrossarem o cada vez
maior contingente de desempregados, mas vê uma saída. "No
início, vamos fazer caminhadas
e correr as periferias das grandes
cidades para exigir uma mudança radical na economia. A greve
pode ser o segundo passo", declara o sindicalista.
O deputado federal Aldo Rebelo (SP), líder da bancada do PC
do B na Câmara, diz que uma
eventual troca de governo não
está fora do horizonte do partido. "Ou a economia é modificada ou o governo é substituído."
O petista Tarso Genro, que não
figura exatamente entre os radicais de sua legenda, tem posição
semelhante.
Rebelo investe fora da via institucional. "A luta tem que passar pela praça", afirma. José Dirceu, presidente nacional do PT,
vai na mesma linha. "Não haverá
solução institucional para a crise
sem pressão das ruas", afirma.
A "rua" do jargão da esquerda
comporta ações como saques a
supermercados, como deixa claro Raimundo Bonfim, um dos
coordenadores da Central de
Movimentos Populares. "Os saques são ruins para a democracia, mas a população não terá
outra alternativa", diz Bonfim.
A Conferência Nacional dos
Bispos (CNBB), que organiza o
"Grito dos Excluídos", há alguns
anos um estuário conhecido das
chamadas reivindicações populares, afirma que a entidade vê
com "preocupação" o momento
atual. "É necessário que o governo garanta aos mais pobres pelo
menos as suas necessidades básicas, o que não vem ocorrendo", declara d. Raymundo Damasceno Assis, secretário-geral
da CNBB.
O agravamento da crise social
pode estar forçando modificações na inflexão política de algumas entidades. A Força Sindical,
central que costuma apoiar o governo federal, está, por exemplo,
apoiando uma invasão de terra.
A Força Sindical está cacifando
uma invasão de terra pertencente ao governo paulista na cidade
de Piratininga. "A situação está
se complicando", afirma João
Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da entidade presidida pelo deputado federal Luiz
Antônio de Medeiros (PFL-SP).
Juruna diz que o aumento do
desemprego e o corte de investimento do governo em áreas sociais estariam forçando uma posição diferente da entidade.
"A verdade é que os juros altos e
a indefinição da política para gerar empregos estão fazendo a
base pressionar a nossa direção
para endurecer com o governo",
declara Juruna.
O fato de os principais dirigentes da Força Sindical terem
apoiado a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso
só legitima a cobrança por uma
mudança na política econômica,
argumenta o sindicalista.
"Não temos a tradição de confronto da CUT e por isso temos
mais direito de cobrar ações do
governo federal", acha Juruna.
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