São Paulo, sábado, 25 de março de 2006

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Oposição quer pedir punição da deputada

CYNTHIA GARDA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A dança da deputada Angela Guadagnin (PT-SP) no plenário da Câmara mobilizou cinco partidos, que se reúnem na próxima terça-feira para cobrar uma atitude do presidente da casa, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP). Guadagnin chocou eleitores ao comemorar com passos de dança e sorrisos a absolvição do deputado João Magno (PT-MG), acusado de receber dinheiro do valerioduto, na noite da última quarta.
PFL, PSDB, PV, PPS, PSOL querem fechar uma posição comum sobre o gesto da deputada. "Chegamos ao fundo do poço", disse o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que falou com Jutahy Júnior (PSDB-BA) e com Fernando Gabeira (PV-RJ): "Foi das piores imagens que já vi no Parlamento, se não foi a pior. Estamos no limite do nosso desgaste".
"Vamos exigir uma resposta com relação a esse ultraje da deputada", disse Gabeira: "O enredo é repugnante, e a coreografia foi grotesca". Segundo assessores de parlamentares, os e-mails da Câmara ficaram lotados de mensagens de repúdio de eleitores. "O melhor que ela faz é arrumar um emprego de dançarina do ventre", disse o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), referindo-se ao futuro político da deputada.
"Foi um escárnio, fiquei envergonhado", disse o vice-líder dos tucanos na Câmara, deputado Bismarck Maia (CE). Ele considera a dança um "deboche".
Entre os parlamentares, a "dança da pizza" já é parte do debate sobre as próximas cassações. "Essa repercussão toda obviamente é muito ruim", disse Josias Gomes (PT-BA), acusado de envolvimento no "mensalão". Na próxima semana, Gabeira vai propor que os partidos discutam uma estratégia para a cassação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP): "Queremos fechar uma tática para evitar a vitória de João Paulo".
A defesa do voto aberto nos processos de cassação ganhou força depois dos "passinhos infelizes", maneira como o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) se referiu à dança. A Frente Parlamentar contra o Voto Secreto promete entregar a Aldo na próxima semana milhares de assinaturas pedindo votações abertas na Câmara.
"Todo mundo perdeu a vergonha, ninguém fica mais constrangido com sua própria postura", disse a deputada Maninha (PSOL-DF). Ela acha, porém, que a repercussão é maior por se tratar de uma deputada. "Se a Angela fosse homem e esse homem tivesse ensaiado passos no plenário, o caso teria outra dimensão", disse.
Para o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), a dança não foi um deboche, mas sim uma forma de comemorar a absolvição de um amigo: "Ela lutou muito por ele".
Em São Paulo, o prefeito José Serra (PSDB) criticou a deputada: "É um episódio que pode parecer engraçado, mas eu fiquei até triste de ver aquilo, já que estive por 16 anos no Congresso": "Estão comemorando a impunidade".
O governador Geraldo Alckmin classificou a dança de um "deboche contra a sociedade": "É lamentável o que temos visto no país nos últimos tempos".


Colaboraram a Sucursal de Brasília e a Reportagem Local


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