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CGU mira contas de dirigentes da Infraero
Levantamento do Coaf, ligado à Fazenda, mostra movimentações financeiras atípicas de atuais e ex-diretores da estatal
Ex-presidente afirma que desgaste do órgão é para posterior privatização; atual presidente não fala sobre investigação, que é sigilosa
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Levantamento do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão ligado à
Fazenda, identificou movimentações atípicas em contas
de dirigentes e ex-dirigentes da
Infraero (estatal que administra os aeroportos do país).
Os documentos foram entregues à CGU (Controladoria Geral da União), que abriu investigação para analisar a papelada e
apurar possíveis casos de enriquecimento ilícito e de uso indevido do cargo.
A apuração, tocada por uma
equipe de corregedores da
CGU, não tem prazo para ser
concluída. Além disso, é mantida sob sigilo, diante de seu potencial explosivo. Não é divulgado quem são os investigados,
o período e os valores.
Pela legislação brasileira, as
instituições financeiras são
obrigadas a comunicar ao Coaf
qualquer depósito ou saque acima de R$ 100 mil.
Procurados ontem pela reportagem, a assessoria da Infraero e o presidente da estatal,
brigadeiro José Carlos Pereira,
não atenderam seus celulares
nem ligaram de volta.
A cautela da CGU com o andamento da investigação tem
um reflexo político. No Congresso, a base governista conseguiu, na semana passada, barrar a instalação de uma CPI para investigar o apagão aéreo
-um dos braços da investigação seria justamente a Infraero.
O futuro da comissão (criação
ou não) será decidido pelo STF.
Além dos seguidos problemas técnicos nos centros de
controle de tráfego aéreo e de
operações padrões dos controladores de vôo, iniciados após a
queda do Boeing da Gol no final
de setembro, a oposição está de
olho na administração de Carlos Wilson, hoje deputado federal pelo PT de Pernambuco.
Amigo do presidente Lula,
Wilson comandou a estatal no
primeiro mandato petista. Há
suspeita de irregularidades em
obras em aeroportos no país.
Na CGU, além da parceria
com o Coaf, há uma outra investigação sobre a Infraero. Ela
foi pedida no final de 2006 pelo
ministro Waldir Pires (Defesa)
para averiguar as condições de
contratação de um software a
ser usado na organização da
publicidade nos aeroportos.
A investigação, em andamento e mantida sob sigilo, identificou alguns indícios de irregularidade, como o fato de a empresa escolhida, sem licitação, ter
sido criada só quatro meses antes de ter fechado um negócio
de R$ 26,8 milhões, em 2003.
Segundo o jornal "O Estado
de S. Paulo", a filha de um ex-diretor da Infraero trabalhava
na empresa. Reportagem desta
semana da revista "Veja" lista
uma série de negociações nebulosas da administração de
Carlos Wilson na Infraero. Entre elas, negócios da estatal
com familiares do deputado.
"Por trás dessas coisas [suspeitas], está a intenção de desgastar a imagem da Infraero
para que possam privatizá-la",
afirmou Carlos Wilson ontem à
Folha. "O que de fato deve ser
apurado é a ineficiência das
companhias aéreas, o acidente
da Gol e as mobilizações dos
controladores de vôo." Sobre
os dados do Coaf à CGU, diz:
"Pode anotar aí que meu nome
com certeza não está na lista".
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