São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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CGU mira contas de dirigentes da Infraero

Levantamento do Coaf, ligado à Fazenda, mostra movimentações financeiras atípicas de atuais e ex-diretores da estatal

Ex-presidente afirma que desgaste do órgão é para posterior privatização; atual presidente não fala sobre investigação, que é sigilosa

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Levantamento do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão ligado à Fazenda, identificou movimentações atípicas em contas de dirigentes e ex-dirigentes da Infraero (estatal que administra os aeroportos do país).
Os documentos foram entregues à CGU (Controladoria Geral da União), que abriu investigação para analisar a papelada e apurar possíveis casos de enriquecimento ilícito e de uso indevido do cargo.
A apuração, tocada por uma equipe de corregedores da CGU, não tem prazo para ser concluída. Além disso, é mantida sob sigilo, diante de seu potencial explosivo. Não é divulgado quem são os investigados, o período e os valores.
Pela legislação brasileira, as instituições financeiras são obrigadas a comunicar ao Coaf qualquer depósito ou saque acima de R$ 100 mil.
Procurados ontem pela reportagem, a assessoria da Infraero e o presidente da estatal, brigadeiro José Carlos Pereira, não atenderam seus celulares nem ligaram de volta.
A cautela da CGU com o andamento da investigação tem um reflexo político. No Congresso, a base governista conseguiu, na semana passada, barrar a instalação de uma CPI para investigar o apagão aéreo -um dos braços da investigação seria justamente a Infraero. O futuro da comissão (criação ou não) será decidido pelo STF.
Além dos seguidos problemas técnicos nos centros de controle de tráfego aéreo e de operações padrões dos controladores de vôo, iniciados após a queda do Boeing da Gol no final de setembro, a oposição está de olho na administração de Carlos Wilson, hoje deputado federal pelo PT de Pernambuco.
Amigo do presidente Lula, Wilson comandou a estatal no primeiro mandato petista. Há suspeita de irregularidades em obras em aeroportos no país.
Na CGU, além da parceria com o Coaf, há uma outra investigação sobre a Infraero. Ela foi pedida no final de 2006 pelo ministro Waldir Pires (Defesa) para averiguar as condições de contratação de um software a ser usado na organização da publicidade nos aeroportos.
A investigação, em andamento e mantida sob sigilo, identificou alguns indícios de irregularidade, como o fato de a empresa escolhida, sem licitação, ter sido criada só quatro meses antes de ter fechado um negócio de R$ 26,8 milhões, em 2003.
Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", a filha de um ex-diretor da Infraero trabalhava na empresa. Reportagem desta semana da revista "Veja" lista uma série de negociações nebulosas da administração de Carlos Wilson na Infraero. Entre elas, negócios da estatal com familiares do deputado.
"Por trás dessas coisas [suspeitas], está a intenção de desgastar a imagem da Infraero para que possam privatizá-la", afirmou Carlos Wilson ontem à Folha. "O que de fato deve ser apurado é a ineficiência das companhias aéreas, o acidente da Gol e as mobilizações dos controladores de vôo." Sobre os dados do Coaf à CGU, diz: "Pode anotar aí que meu nome com certeza não está na lista".


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