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Elio Gaspari
Grampearam 8.787 e-mails no Museu Imperial
As mensagens e as conversas dos funcionários eram arquivadas e mandadas ao comissariado da cultura
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DESDE A MADRUGADA de 17 de novembro de 1889, quando sumiu
a maleta de jóias da imperatriz
Tereza Cristina, o patrimônio dos Bragança não passava por transtorno semelhante. No dia 7 de fevereiro, funcionárias do Museu Imperial foram surpreendidas por mensagens eletrônicas
do serviço Gmail, informando que as
memórias de suas caixas estavam saturadas. Como elas não tinham caixas no
Gmail, foram ver o que houve. A diretora do museu, Maria de Lourdes Parreiras Horta, aprendeu que, desde agosto do ano passado, 8.787 mensagens de 34
endereços funcionais do museu haviam sido repassadas para um desconhecido musimp@gmail.com.
O encarregado do serviço, Aluizio
Robalinho, explicou-se: por motivo
de segurança, criara uma espécie de
"backup" no Gmail. Fizera isso sem
pedir autorização a quem quer que
fosse. Muito menos contara que arquivava numa caixa particular a correspondência funcional dos outros.
Seu "backup" era esperto. Antes que
fosse apagado, conseguiu-se comprovar que quatro mensagens alheias haviam sido redirecionadas. Três para
um endereço do próprio funcionário
e uma para Mário de Souza Chagas
(pmariosc@terra.com.br), coordenador técnico do departamento de
Museus e Centros Culturais do
Iphan, subordinado ao diretor José
do Nascimento Jr. A mensagem incluía um tenebroso "para seu conhecimento". Anexava diálogo da diretora do museu com a chefe do arquivo.
Com 41 anos de serviço público, 20
de Museu Imperial e há 16 na sua direção, Maria de Lourdes Parreiras
Horta chamou a Polícia Federal. O
Ministério da Cultura abriu uma sindicância interna. O funcionário que
privatizou comunicações do serviço
público e criou o "backup" esperto,
atribui a encrenca à ação de algum
hacker. O uso de sítios como o Gmail
para fins criminosos permite à polícia
varejar a memória da caixa fantasma.
Quando mensagens eletrônicas do
serviço público são retransmitidas
para o comissariado de Brasília, está
instalada uma forma inédita de espionagem político-administrativa. As escutas da ditadura passam a ser brinquedo de criança.
Quem deve estar contente com essa
marmelada é d. Pedro 2º. Testou o telefone de Graham Bell, e está na crônica do grampo, com o seu museu
transformado em Big Brother.
VAI TRABALHAR, GALÃ DE GOGÓ DE CPI
Se a oposição deixar de lado
o facilitário policialesco e espetaculoso das CPIs, poderá
começar a discutir políticas
públicas. Por exemplo, a tarifa
social de energia elétrica.
Até 30 de setembro serão
revistos os critérios dessas tarifas e pelo menos 2 milhões
de famílias poderão perder o
desconto na conta de luz. (Dezenas de milhares recebem-no indevidamente e é ótimo
que o percam.)
O assunto está no Congresso desde 1999 e pelo menos 20
projetos tratam do assunto. O
último deles, do deputado
Carlos Zarattini, propõe redefinição da linha da pobreza
elétrica, que no Rio e em SP é
bem diferente da do Nordeste
(R$ 218 contra R$ 150).
Há aí uma boa discussão,
pois governadores como Aécio Neves, Sérgio Cabral e José Serra podem ser convidados a explicar porque não zeram a alíquota de ICMS da
eletricidade dos pobres. Lula
explicaria porque ainda cobra
PIS e Cofins nessas contas.
O PSDB e o PFL poderiam
discutir a proposta de Zarattini e ler um trabalho coordenado pelo professor Adilson
de Oliveira (UFRJ) sobre pobreza e energia no Rio de Janeiro, feito para o Banco
Mundial em 2005. Se não fizerem nada, Nosso Guia bate
o pênalti e resolve a questão
com um projeto do Executivo.
Serviço: O trabalho do professor pode ser capturado
com a ajuda do Google. Chama-se "Energy Poverty-Caju
Shantytown Case Study".
PAPA TRANSATLÂNTICO
De um conhecedor do Vaticano: "O papa Ratzinger radicalizou de tal maneira a sua visão européia dos problemas da igreja
que é grande a probabilidade de
ele ser substituído por um pontífice nascido do outro lado do
Atlântico".
O SUB DO SUB
Por trás da demagogia republicana do senador John McCain,
que teme um avanço do socialismo na América Latina, está a conhecida figura de Robert Zoellick, ex-subsecretário de Estado
e negociador-chefe do governo
americano em questões comerciais. McCain disputa a indicação de seu partido para a eleição
presidencial do ano que vem.
Zoellick é aquele sujeito que,
em 2002, Nosso Guia chamou de
"sub do sub".
BOLSA DEPUTADO
Veteranos parlamentares
governistas têm sugerido aos
colegas recém-chegados que o
Palácio do Planalto, na sua infinita bondade, resolveu separar
R$ 3 milhões em verbas para cada um deles. Nada a ver com a generosidade do dinheiro que é
oferecido aos calouros por representantes de pequenos partidos
da base aliada. O SuperMensalão, com seus petrocontratadores, é escândalo para 2009. Tratar dele em 2007 chega a ser falta
de educação.
COMANDO ÚNICO
Se o deputado Aldo Rebelo for
para o ministério da Defesa, o PC
do B ficará com o monopólio do
mistério dos documentos da
guerrilha do Araguaia. Uma parte da memória do episódio é escondida por autoridades militares desde 1972. Outra parte (tão
relevante quanto a primeira) é
escondida pelo PC do B, desde
1973. Nomeado, Aldo ficará com
a tarefa de esconder as duas.
SEIS MESES
Graças a um depoimento de
Nosso Guia ao sítio "ABC de
Luta", entende-se melhor um
detalhe de sua biografia. Trata-se de sua relação com a enfermeira Miriam Cordeiro, com
quem teve uma filha, Lurian,
que prontamente reconheceu.
Coisa de 1974.
Criou-se a lenda de que se
tratou de um episódio fortuito.
Por iniciativa de Lula, e nas
suas palavras, deve-se entender
que essa impressão está errada.
Ele conta: "Aí, foi interessante,
eu até compreendo o ódio que a
Miriam Cordeiro tem de mim
porque ela estava grávida de
seis meses. A gente estava até
procurando casa. Mas quando
eu conheci a Marisa eu me
apaixonei e falei: "Bom, eu vou
largar de tudo o que eu tenho".
Aí, eu larguei da Miriam Cordeiro e com seis meses eu casei
com a Marisa".
O depoimento, excepcional e
extenso, está no sítio "ABC de
Luta", ou abcdeluta.org.br.
CADÊ O BOBO?
Um curioso que acompanhou a caravana de Lula como
candidato a presidente em
1994 assombrou-se com a fraternidade-companheira de
Nosso Guia com o ex-presidente Fernando Collor. Como Paulo Maluf, o senador integra a
base de apoio do governo.
Como candidato, Lula ajustava seus discursos pelo interior gaúcho com módulos de retórica. Se um não funcionava,
engatava o seguinte, mais
agressivo. Quando a platéia não
reagia, ia ao último recurso e
propunha o confisco dos bens
pessoais de Collor. Usou a fórmula pela primeira vez na cidade Ronda Alta. Deu certo.
Alguém fez papel de bobo: a
platéia de Ronda Alta em 1994
ou o senador Collor em 2007.
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