São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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Alemães ganham força na igreja brasileira

Com nomeação de d. Odilo em São Paulo, imigrantes pobres do Sul do país emplacam 3º arcebispo seguido na capital

Eles nasceram em cidades pequenas, estudaram e se integraram ao país por meio da igreja e ocuparam postos em metrópoles brasileiras

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

D. Odilo Scherer é o terceiro arcebispo seguido de São Paulo que nasceu em uma família de origem alemã do Sul do Brasil. Antes vieram d. Cláudio Hummes e d. Paulo Evaristo Arns.
Como deve receber em breve o título de cardeal da igreja (o que lhe permite eleger futuros papas) consolidará a imigração germânica como a maior produtora de religiosos para o alto escalão católico não só de São Paulo, mas também do país.
Dos 17 cardeais que o Brasil já teve, cinco têm origem alemã. Dos oito cardeais brasileiros vivos, quatro têm parentes germânicos. Os italianos, que chegaram em maiores levas, possuem apenas dois.
Em comum, são filhos e netos de imigrantes pobres do interior do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, nasceram em cidades com menos de 100 mil habitantes, estudaram e se integraram ao Brasil por meio da igreja e ocuparam cargos de destaque em grandes cidades.
Por coincidência, o papa Bento 16, que visitará o Brasil em maio, também é alemão e nasceu em uma família pobre no interior de seu país.
"Nas colônias de origem alemã, alguns valores, cultivados sistematicamente, deram um excelente resultado, em termos de igreja", afirma d. Murilo Krieger, arcebispo de Florianópolis e um dos seis descendentes de alemães que administram arquidioceses, os territórios importantes na geografia católica. "A vivência da fé e o cuidado com a educação eram valores tão fundamentais que, ao iniciar uma comunidade, construíam, antes de tudo, a igreja e a escola", conclui.
A mistura entre incentivo ao estudo -fundamental em instituição que só concede os altos títulos a doutores- e religiosidade produziu ascensão social.
D. Cláudio, que tem cargo equivalente ao de ministro no Vaticano, tem um irmão comerciante aposentado e uma irmã cabeleireira. A igreja fez dele doutor em teologia na Itália e personagem histórico ao ajudar metalúrgicos paulistas, como Luiz Inácio Lula da Silva, no combate à ditadura.
"No Sul, italianos e alemães receberam terras do governo e controlavam a religião. Em SP, a capela era do fazendeiro e muitos imigrantes ficaram com raiva da igreja", diz o padre José Oscar Beozzo, especialista em história da igreja do Brasil.


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