São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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PERSONAGEM
Ele militava no grupo de esquerda VPR
Reichstul foi preso e torturado em 70

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

O novo presidente da Petrobrás, o economista Henri Philippe Reichstul, 49, foi preso e torturado em 1970, no auge da repressão durante o regime militar (1964-1985).
Além disso, sua irmã, Pauline, militante como ele da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), morreu sob tortura, em 1973.
Esse é um tema sobre o qual Reichstul não gosta de tratar e prefere que não seja abordado para ""não reabrir feridas".
""É um assunto íntimo, pessoal, e que não interessa neste momento", salienta ele, sem revelar onde foi preso nem o período exato em que isso ocorreu.
Reichstul confirma as torturas sofridas nos nove meses em que esteve preso de forma lacônica: ""Quem passa pela Oban e fica impune?".
Ele se refere à Operação Bandeirantes -organismo formado por policiais civis e militares e por integrantes das Forças Armadas e conhecido pela prática violenta na repressão.
Reichstul salienta, entretanto, que não era da linha de frente da VPR. Define sua participação na organização como ""apoio". ""Eu tinha 20 anos. Não sabia nada", diz.
Depois de libertado, ele foi para o exílio. Passou a maior parte do tempo em Londres, onde estudou economia.
Professor de economia e administração na pós-graduação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Ladislau Dowbor, que foi militante da VPR e viveu nove anos com Pauline, conviveu com Reichstul na organização.
""Ele teve uma participação ativa e solidária durante a ditadura", avalia. ""Foi corajoso e digno. Ajudava as pessoas ameaçadas, dando abrigo e transporte a elas."
Fundada em 68, a VPR era uma organização político-militar de esquerda, criada a partir da Polop (Política Operária) e do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário) e formada por estudantes e ex-militares. Os irmãos Reichstul se enquadram no primeiro caso; o capitão Carlos Lamarca e o cabo José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, no segundo.
A VPR ganhou notoriedade por suas ações, como assaltos a bancos, sequestro de embaixadores e o treinamento de guerrilha no Vale do Ribeira (SP).
Na época em que Reichstul foi preso, o cabo Anselmo -delator infiltrado na organização- era o líder da VPR em São Paulo.
Sua irmã foi morta em janeiro de 1973, em um sítio em Abreu e Lima (PE), que foi invadido pelas forças de segurança após delação do cabo Anselmo. A família obteve da Comissão dos Desaparecidos Políticos, criada pelo governo federal, indenização pela morte de Pauline.


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