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CAMPO MINADO
Entidade, que atuava como mediadora, diz que não comenta assunto
Jungmann envolve CNBB em assentamento inflado
RUBENS VALENTE
DO PAINEL
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
A assessoria do ex-ministro do
Desenvolvimento Agrário Raul
Jungmann tentou ontem caracterizar a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) como
conhecedora das manobras estatísticas dos balanços da reforma
agrária e, ao mesmo tempo, comprovou que 36% do número de
famílias "assentadas" em 2000 foi
inflado pelo ministério.
A assessoria enviou à Folha cópia da ata de reunião ocorrida em
Brasília, em julho de 2000, na qual
o governo e os movimentos sociais discutiram pautas agrárias
sob a mediação da CNBB. Jungmann tinha conhecimento de que
o documento seria enviado.
O documento, assinado pelo secretário-geral da CNBB, dom
Raymundo Damasceno, aponta
que o governo se comprometia a
"assentar" 40 mil famílias em
2000 que só receberiam créditos
para instalação e produção em
2001 -o que contraria regra de
manual do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária), segundo o qual só se
considera assentada uma família
que tenha toda a infra-estrutura
básica, como água, luz e esgoto.
O documento indica que as famílias na verdade não seriam
-de julho a dezembro- devidamente colocadas em suas terras
com a infra-estrutura necessária.
Só no ano seguinte receberiam os
primeiros créditos, sem os quais
não poderiam se instalar na área.
O governo alegou, na reunião,
que não conseguiria realizar os
assentamentos naquele mesmo
ano "devido a limitações orçamentárias". Mas incluiu as 40 mil
famílias no balanço final de 2000.
O governo tem utilizado vários
expedientes para inflar o número
de "assentados", como acrescentar nos balanços famílias que se
relacionam a propriedades em fase de decreto de desapropriação
ou subsequentes e também somar
os trabalhadores cadastrados pelos correios que ainda não sabem
em qual área serão colocados.
Sem comentários
A CNBB disse ontem que se recusa a comentar o documento,
por se tratar de um papel "reservado e que não deveria ter sido
vazado à imprensa".
A reunião de que trata a ata não
discutia os balanços da reforma
agrária e sim a possibilidade do
"assentamento" de famílias por
etapas (em dois anos, como fez o
governo). A CNBB não participou
da realização dos balanços. Ao final da ata está registrado que a entidade "considerou encerrada a
mediação da CNBB neste ciclo de
negociações".
Além da CNBB, atuaram na mediação entre os movimentos e o
governo a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Conic
(Conselho Nacional das Igrejas
Cristãs). O MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), o MPA (Movimentos dos Pequenos Agricultores) e o MAB
(Movimento dos Atingidos por
Barragens) participaram das negociações.
No final da tarde, a assessoria do
ministério enviou um fax ao jornal, mencionando o endereço na
internet onde estaria acessível a
ata. A CNBB esclareceu que nesse
endereço constava (está fora do
ar) apenas uma nota que resumiu
a reunião, e não a íntegra da ata.
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