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DIVISÃO NO SOCIAL
Ministro faz críticas à chamada "Agenda Perdida"
Mantega diz ser "fajuto" documento de secretário
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do Planejamento,
Guido Mantega, qualificou ontem
de "fajuta" a "Agenda Perdida",
documento elaborado em 2002
sob a coordenação do hoje secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, com influência decisiva sobre o pensamento atual do
Ministério da Fazenda.
"Andaram apresentando aí
uma agenda fajuta que foi denominada "Agenda Perdida". Na verdade, a agenda perdida é a agenda
da discussão do desenvolvimento
e do planejamento", disse Mantega, em seminário promovido pelo
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
A "Agenda Perdida" foi elaborada por 17 economistas de diferentes tendências, coordenados
por Lisboa e José Alexandre
Scheinkman, que teve breve passagem pela campanha presidencial de Ciro Gomes (PPS), hoje
ministro da Integração Nacional.
Trata-se de uma espécie de programa de governo, de espírito claramente liberal: defende um reordenamento das funções do Estado, regras estáveis para o controle
da inflação e o ajuste fiscal, reformas para o aperfeiçoamento do
mercado e focalização do gasto
social nas camadas mais pobres.
Oferecida aos candidatos ao
Planalto, a "Agenda Perdida" foi
recusada por todos -daí seu nome. O ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda), porém, chamou
Lisboa para ser seu principal assessor econômico e encampou a
maior parte dos postulados fundamentais do documento.
O ataque de Mantega é o segundo sofrido só nesta semana pelo
secretário de Política Econômica
por parte de nomes expressivos
do PT. Na segunda-feira, em entrevista à Folha, a economista
Maria da Conceição Tavares o
chamou de "débil mental" por defender a focalização das políticas
sociais e a ênfase no equilíbrio das
contas públicas -o PT e o resto
da esquerda brasileira sempre
consideraram mais importante o
ajuste das contas externas.
Política industrial
No seminário de ontem, cujo
objetivo era colher subsídios para
o PPA (Plano Plurianual, com as
metas de longo prazo do governo), a tônica foi a crítica às visões
liberais, a defesa de mais planejamento estratégico de longo prazo
e o desenvolvimento de uma política industrial voltada para eliminar a dependência do país em relação ao capital estrangeiro.
Além de Mantega, seguiram essa linha o presidente do BNDES,
Carlos Lessa, o secretário de Planejamento, Sebastião Soares, o
economista Luciano Coutinho,
da Unicamp, e o líder do governo
no Congresso, senador Aloizio
Mercadante (PT-SP). Palocci, que
esteve no evento à tarde, quando
Mantega já havia saído, defendeu
a política econômica sem mencionar as contas externas.
O debate sobre a política industrial, tema sobre o qual o governo
Luiz Inácio Lula da Silva ainda
não chegou a uma definição, indicou a defesa de ações voltadas para setores específicos em que o
país teria condições de incentivar
exportações e substituir importações por produção nacional.
Lessa disse que "há consenso
em torno da prioridade de reduzir
a vulnerabilidade externa". Mencionou a importância de atuar em
áreas tão diversas como a logística
de transporte, a eletrificação nas
zonas rurais e a pesca de atum na
costa brasileira. Coutinho, especialista em política industrial, cobrou uma discussão mais detalhada do assunto. "Eu me recusaria a voltar aqui para um seminário sobre generalidades", disse.
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