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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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DIVISÃO NO SOCIAL

Ministro faz críticas à chamada "Agenda Perdida"

Mantega diz ser "fajuto" documento de secretário

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Planejamento, Guido Mantega, qualificou ontem de "fajuta" a "Agenda Perdida", documento elaborado em 2002 sob a coordenação do hoje secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, com influência decisiva sobre o pensamento atual do Ministério da Fazenda.
"Andaram apresentando aí uma agenda fajuta que foi denominada "Agenda Perdida". Na verdade, a agenda perdida é a agenda da discussão do desenvolvimento e do planejamento", disse Mantega, em seminário promovido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
A "Agenda Perdida" foi elaborada por 17 economistas de diferentes tendências, coordenados por Lisboa e José Alexandre Scheinkman, que teve breve passagem pela campanha presidencial de Ciro Gomes (PPS), hoje ministro da Integração Nacional.
Trata-se de uma espécie de programa de governo, de espírito claramente liberal: defende um reordenamento das funções do Estado, regras estáveis para o controle da inflação e o ajuste fiscal, reformas para o aperfeiçoamento do mercado e focalização do gasto social nas camadas mais pobres.
Oferecida aos candidatos ao Planalto, a "Agenda Perdida" foi recusada por todos -daí seu nome. O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), porém, chamou Lisboa para ser seu principal assessor econômico e encampou a maior parte dos postulados fundamentais do documento.
O ataque de Mantega é o segundo sofrido só nesta semana pelo secretário de Política Econômica por parte de nomes expressivos do PT. Na segunda-feira, em entrevista à Folha, a economista Maria da Conceição Tavares o chamou de "débil mental" por defender a focalização das políticas sociais e a ênfase no equilíbrio das contas públicas -o PT e o resto da esquerda brasileira sempre consideraram mais importante o ajuste das contas externas.

Política industrial
No seminário de ontem, cujo objetivo era colher subsídios para o PPA (Plano Plurianual, com as metas de longo prazo do governo), a tônica foi a crítica às visões liberais, a defesa de mais planejamento estratégico de longo prazo e o desenvolvimento de uma política industrial voltada para eliminar a dependência do país em relação ao capital estrangeiro.
Além de Mantega, seguiram essa linha o presidente do BNDES, Carlos Lessa, o secretário de Planejamento, Sebastião Soares, o economista Luciano Coutinho, da Unicamp, e o líder do governo no Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Palocci, que esteve no evento à tarde, quando Mantega já havia saído, defendeu a política econômica sem mencionar as contas externas.
O debate sobre a política industrial, tema sobre o qual o governo Luiz Inácio Lula da Silva ainda não chegou a uma definição, indicou a defesa de ações voltadas para setores específicos em que o país teria condições de incentivar exportações e substituir importações por produção nacional.
Lessa disse que "há consenso em torno da prioridade de reduzir a vulnerabilidade externa". Mencionou a importância de atuar em áreas tão diversas como a logística de transporte, a eletrificação nas zonas rurais e a pesca de atum na costa brasileira. Coutinho, especialista em política industrial, cobrou uma discussão mais detalhada do assunto. "Eu me recusaria a voltar aqui para um seminário sobre generalidades", disse.


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