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Gabinetes vendem senhas de emissão de bilhete a agências
Sindicância da Câmara faz descoberta ao investigar terceirização de cotas aéreas
Deputado confirma venda
de suas passagens; comissão apura outras nove suspeitas, incluindo negociação de bilhetes revelada pela Folha
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O esquema do desvio de passagens aéreas da Câmara começa a ser revelado por uma investigação interna e admitido pelos próprios políticos: enquanto um deputado confirmou que
suas cotas eram comercializadas, uma sindicância da Casa
descobriu que senhas usadas
nos gabinetes para a emissão de
bilhetes foram vendidas para
agências de viagens.
A comissão de três técnicos
ainda não sabe se apenas assessores ou também deputados
participaram do esquema. A
quantidade e os nomes dos envolvidos não foram revelados.
As senhas são fornecidas por
companhias aéreas para que os
gabinetes possam administrar
a cota via internet. Com a venda das mesmas, diz a sindicância, tudo era feito pelas agências de viagens, que podiam
vender os bilhetes a terceiros.
A sindicância da Câmara foi
instalada na semana passada
para apurar o uso da cota de
passagens de Paulo Roberto
(PTB-RS) e Fernando de Fabinho (DEM-BA) pelo presidente
do Supremo, Gilmar Mendes, e
pelo ministro Eros Grau.
A constatação é que os ministros foram vítimas do esquema,
já que os bilhetes comprados
por eles foram adulteradas e
eles não tinham como saber
que as passagens eram da cota.
A comissão investiga suspeitas de terceirização da cota aérea, incluindo o esquema revelado ontem pela Folha. Os gabinetes de Aníbal Gomes
(PMDB-CE), Dilceu Sperafico
(PP-PR) e Vadão Gomes (PP-SP) emitiram bilhetes aéreos
para Paris em nome de pessoas
que jamais viram e que afirmam ter feito a compra em
uma agência de viagens.
Ana Pérsia, servidora de Gomes, admitiu à reportagem ter
incluído os nomes na cota dele.
Outro investigado é o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que confirmou ontem a
existência do esquema. Segundo ele, uma servidora de seu
gabinete admitiu que vendeu
inúmeras passagens. Fonteles
nega ter participação no caso e
disse que exonerou Rosimere
Gomes da Silva.
"Ela admitiu
que vendeu. Não faço ideia de
quantas [passagens] foram,
mas devem ter sido dezenas."
Na segunda, a Folha revelou
que um terço dos integrantes
do Conselho de Ética emitiu
pelo menos 35 passagens para
o exterior em seus próprios nomes ou no de terceiros. Fonteles é integrante do conselho.
Na cota dele foram emitidos
cinco bilhetes em nome de terceiros para Miami, mas Fonteles não reconheceu os beneficiários. Rosimere não atendeu
às ligações da reportagem.
As demais suspeitas de negociação de passagens estão nos
gabinetes dos deputados Otávio Leite (PSDB-RJ), Nelson
Marquezelli (PTB-SP) e Vieira
da Cunha (PDT-RS). João Carlos Bacelar (PR-BA), por sua
vez, disse que pediu para a Câmara investigar o uso de seu
cartão fidelidade.
O ministro José Múcio (Relações Institucionais) também
disse que os responsáveis pelo
caso devem ser punidos. Segundo ele, na reunião de coordenação política, o presidente
Lula afirmou que, por conta do
rolo compressor das notícias
negativas sobre o Congresso, o
cidadão comum tem tido dificuldade para compreendê-las.
Diante das suspeitas, a Casa
divulgou o projeto de resolução
assinado pelos integrantes da
Mesa que dever ser votado em
plenário na próxima semana. O
texto limita-se a dizer que a
verba "poderá ser utilizada para a locomoção em todo o território nacional", mas não fala
sobre viagens internacionais.
A redação do projeto também deixa brechas para viagens de parentes ao usar o verbo poderá ao invés de deverá
"ser usada pelo próprio parlamentar ou por assessores, neste último caso mediante comunicação à Mesa". A Câmara diz
que houve erro de redação. A
cota para líderes fica mantida.
Colaborou EDUARDO SCOLESE, da Sucursal de Brasília
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