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Deputado pode omitir contas até final de 2010
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma forte cultura de opacidade impede a Câmara e o Senado de cumprirem a promessa
de transparência realizada em
fevereiro a respeito de verbas
indenizatórias -os R$ 15 mil a
que cada congressista tem direito de gastar com gasolina,
aluguel, consultoria e outras
despesas supostamente no
exercício do mandato.
A ideia era tornar tudo público neste mês de abril, mas os sites de senadores e de deputados ainda estão com poucas informações disponíveis.
No caso dos deputados, há
uma brecha oficial permitindo
prestar contas dos R$ 15 mil
mensais só em dezembro do
ano que vem. Essa é a razão para poucos terem apresentado
seus recibos agora em abril
-pois tudo ficaria público.
Desde 2001, quando foi criada a verba indenizatória, até
março último, os dados ficavam
em sigilo. Só era divulgado o valor total que cada deputado gastava com cada item de sua verba. Mas não eram mostrados
detalhes das notas fiscais.
Como a Câmara passa por
uma crise, com o surgimento de
vários escândalos envolvendo o
mau uso do dinheiro da Casa,
muitos deputados optaram
simplesmente por acumular
suas notas fiscais para pedir o
ressarcimento mais adiante.
A portaria 16, editada pela
Câmara em 4 de setembro de
2003, abriu uma janela para os
deputados receosos de mostrarem como usam seus R$ 15 mil
mensais. O parágrafo 6º do artigo 5º desse documento autoriza o seguinte: "Admite-se a
apresentação da documentação comprobatória do gasto até
o final do exercício seguinte ao
que se refere a despesa".
O "exercício", no caso, é o ano
no qual a despesa é efetuada.
No limite, um deputado poderá
apresentar notas fiscais de gastos feitos em janeiro deste ano
apenas em dezembro de 2010.
Esse dispositivo protelatório
era pouco usado antes porque
interessava a todos os deputados receber o mais rapidamente possível o valor de suas verbas indenizatórias. Mas, com a
decisão de abrir os detalhes na
internet, vários ficaram com
receio de serem questionados
sobre a natureza dos gastos.
Há um prejuízo inicial, pois o
deputado não é ressarcido e fica sem o dinheiro por algum
tempo. Esse custo é compensado com o benefício de deixar o
político fora do escrutínio público. Se optar por pedir ressarcimento só no final do ano que
vem, o deputado já terá disputado a eleição. O eventual efeito
negativo da divulgação das notas fiscais será menor.
"Eu não sabia disso e creio
que o presidente da Câmara,
Michel Temer [PMDB-SP],
também não sabia. Vou tentar
rever esse procedimento, que
não está de acordo com a regra
de transparência que estamos
querendo adotar", diz o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), um dos principais articuladores peemedebistas.
No Senado, de acordo com o
primeiro-secretário da Casa,
Heráclito Fortes (DEM-PI), a
razão de não haver ainda dados
das notas fiscais na internet é
uma combinação de burocracia
com lentidão contábil. "Estudamos o assunto e não há como
fazer mais rapidamente. Mas
aqui tudo estará disponível em
até 90 dias depois das despesas
realizadas. Quem apresentar
notas fiscais depois de 90 dias
do gasto não será ressarcido."
Essa demora para divulgar os
dados também deve se repetir
para a transparência das passagens aéreas usadas por deputados e senadores. No Senado, o
prazo será de 90 dias após o bilhete ser emitido. Na Câmara, o
prazo ainda não foi divulgado.
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