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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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FORÇAS ARMADAS

Indústria brasileira de veículos militares sofreu golpe quase mortal com a falência da Engesa em 1993

Exército quer volta de blindados nacionais

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Exército Brasileiro está estudando o tipo de veículo que pretende adquirir para substituir seu material hoje obsoleto. Mas o objetivo do estudo vai além da simples troca de equipamento.
O Exército pretende que essa aquisição futura de "viaturas" -a palavra preferida pelos militares- sirva para ressuscitar a indústria nacional de veículos blindados, que sofreu um golpe quase mortal com a falência da empresa Engesa em 1993.
Além de caminhões e jipes militares, a Engesa fabricou o carro blindado de reconhecimento Cascavel e o veículo blindado de transporte de tropas Urutu. Os dois têm tração 6x6, isto é, nas suas seis rodas.
Centenas de exemplares dos dois modelos foram vendidos para vários países e para o Exército, que iniciou um programa de recondicionamento, no Arsenal de Guerra de São Paulo, para mantê-los em operação até 2015.
A chamada Nova Família de Blindados envolve dois tipos de veículos, uma subfamília "leve" e outra "média". Os "leves" teriam tração nas quatro rodas e peso até seis toneladas. Os "médios" teriam de seis a vinte toneladas, e poderiam ter tração 6x6 ou 8x8.
Vários fabricantes, nacionais e estrangeiros, já têm apresentado propostas ao Exército. Na feira de material bélico LAD 2003, realizada no final de abril do Rio, esses fabricantes vieram em peso -em alguns casos trazendo o veículo que pretendem vender. O Centro de Avaliação do Exército tem feito testes com veículos das duas famílias no campo de provas da Marambaia, no Rio.
A "diretriz geral do comandante do Exército", general Francisco Roberto de Albuquerque, divulgada pela força em abril passado (mas com data de 3 de fevereiro) fala em "estudar como viabilizar a produção de viaturas blindadas de rodas e viaturas militarizadas pela indústria nacional e estimular a fabricação de outros MEM [material de emprego militar] pelo parque brasileiro, inicialmente, no tocante a equipamentos de maior mortalidade e menor nível de tecnologia".
Albuquerque gostaria que no futuro houvesse uma "disponibilidade de sólida base industrial de material de defesa".
A idéia básica é criar joint-ventures que permitam a construção dos veículos no país e a incorporação de novas tecnologias. O Cascavel e o Urutu estão defasados no seu controle de tiro. Também não dispõem de equipamentos fundamentais para o combate, como sensores de visão noturna ou telemetria laser. Seria necessários entre 700 e 900 veículos de porte médio para substituir os que existem hoje.
Já a necessidade de uma "Viatura Blindada Leve" está sendo reavaliada pelo Exército. Sua função, a exploração e reconhecimento sem entrada em combate, seria menos exigente do que a esperada do veículo médio. Por isso um veículo mais barato também serviria. Um blindado "leve" como o novíssimo belga Iguana custaria em torno de 300 mil dólares.
Um Iguana esteve exposto no Rio durante a LAD 2003, pintado na camuflagem brasileira de verde e marrom, e equipado com uma metralhadora de controle remoto israelense.
Por essa avaliação de custo-benefício, o Exército já pensa em adotar um veículo não blindado para a tarefa, basicamente um jipe militarizado (com acréscimos como reparo para metralhadora, placa para colocação de rádio etc). Seria a chamada Viatura Tática Leve, da qual o Exército precisaria comprar cerca de 2.000. Kits de blindagem para resistir ao tiro de fuzis poderiam ser projetados para instalação.
A grande sobrevivente da indústria bélica brasileira, a empresa Avibrás, desenvolveu um blindado leve de quatro rodas a pedido do Exército da Malásia, o AV-VBL. Um derivado, o AV-VB4-RE Guará, foi desenvolvido para atender ao requisito operacional do Exército.
Já entre os jipes militarizados a concorrência é até maior. O Exército já comprou cerca de 350 Land Rover Defender, mas outras empresas também estão na disputa.
Quando os Cascavel e Urutus finalmente estiverem sendo aposentados, em 2015, o Exército gostaria de ter seus substitutos prontos. Mas tudo vai depender de verbas.


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