São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Marinho afirma que não tem nenhuma ligação com deputado Roberto Jefferson

Acusado diz ter caído em armadilha e isenta o PTB

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em oito horas de depoimento à Polícia Federal, o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho disse não ter ligação com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que não existe esquema de corrupção na estatal e que teria sido vítima de "armação" em benefício de interesses ainda a investigar.
Indiciado ontem pelos crimes de corrupção passiva e por fraude a licitação, cujas penas podem chegar a até oito anos de prisão, ele se apresentou como "funcionário público" "envergonhado" e pediu desculpas à família.
"Foi uma bravata. Eu não tenho nenhum relacionamento político com ninguém. Eu sou técnico. [Fui indicado para o cargo] pelo diretor da empresa Antônio Osório [Batista, ex-diretor de Administração dos Correios]", disse em entrevista, ao concluir depoimento na sede da PF em Brasília.
"Os objetivos que nós tínhamos eram de trabalho. Não há essa corrupção falada na ECT. Nesse nível que nós trabalhamos não é isso que acontece. Vocês sabem a credibilidade e a responsabilidade da empresa como é."

Contradições
As explicações de Marinho não convenceram o delegado Luís Flávio Zampronha, presidente do inquérito que investiga o suposto esquema de corrupção nos Correios descrito pelo servidor em gravação revelada pela "Veja".
O delegado detectou contradições nos relatos de Marinho e acredita que uma CPI sobre o caso pode ser benéfica, mas o trabalho da PF seguirá independentemente da comissão.
Nas imagens reproduzidas pela "Veja", ele descreve o suposto esquema de corrupção nos Correios e apresenta Jefferson como padrinho político das negociatas.
"Nós somos três e trabalhamos fechado. Os três são designados pelo PTB, pelo Roberto Jefferson. É uma composição com o governo. Nomeamos o diretor, um assessor e um departamento-chave. Tudo que nós fechamos o partido fica sabendo", diz, na gravação.
O diretor seria Antonio Osório Batista, que respondia pela área de Administração até a publicação da reportagem da "Veja". O terceiro personagem do suposto esquema seria Fernando Leite de Godoy, assessor de Osório.
Em duas horas de depoimento ontem, Godoy disse desconhecer os motivos que levaram Marinho a falar em seu nome. Ao deixar a sede da PF, sorrindo, disse apenas: "Não sou culpado de nada". No depoimento, disse ter presenciado nos Correios momentos em que Marinho teria demonstrado desequilíbrio psicológico.
Osório, que na terça-feira não foi encontrado para receber a intimação do depoimento, estava na reunião da Executiva do PTB, em Brasília, na qual o partido discutia sua posição no governo.
O ex-diretor dos Correios pode ser ouvido hoje pela PF.
Marinho não nega ter recebido, no momento em que era gravado, R$ 3 mil. O dinheiro, segundo disse à PF, seria em pagamento a trabalho de consultoria, cujos detalhes vinha tratando com representantes de "multinacional".
Explicou assim o fato de ter colocado o dinheiro no bolso: "Na fita, não se falou em nenhum valor. Como havia armação, no final entregam [o dinheiro]. Foi um ato impensado [pegar a quantia]". Marinho disse não ter cartão de visita nem referência para contato com os interlocutores.


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