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GOVERNO SOB PRESSÃO
Marinho afirma que não tem nenhuma ligação com deputado Roberto Jefferson
Acusado diz ter caído em armadilha e isenta o PTB
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em oito horas de depoimento à
Polícia Federal, o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho disse não
ter ligação com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que não
existe esquema de corrupção na
estatal e que teria sido vítima de
"armação" em benefício de interesses ainda a investigar.
Indiciado ontem pelos crimes
de corrupção passiva e por fraude
a licitação, cujas penas podem
chegar a até oito anos de prisão,
ele se apresentou como "funcionário público" "envergonhado" e
pediu desculpas à família.
"Foi uma bravata. Eu não tenho
nenhum relacionamento político
com ninguém. Eu sou técnico.
[Fui indicado para o cargo] pelo
diretor da empresa Antônio Osório [Batista, ex-diretor de Administração dos Correios]", disse
em entrevista, ao concluir depoimento na sede da PF em Brasília.
"Os objetivos que nós tínhamos
eram de trabalho. Não há essa
corrupção falada na ECT. Nesse
nível que nós trabalhamos não é
isso que acontece. Vocês sabem a
credibilidade e a responsabilidade da empresa como é."
Contradições
As explicações de Marinho não
convenceram o delegado Luís
Flávio Zampronha, presidente do
inquérito que investiga o suposto
esquema de corrupção nos Correios descrito pelo servidor em
gravação revelada pela "Veja".
O delegado detectou contradições nos relatos de Marinho e
acredita que uma CPI sobre o caso pode ser benéfica, mas o trabalho da PF seguirá independentemente da comissão.
Nas imagens reproduzidas pela
"Veja", ele descreve o suposto esquema de corrupção nos Correios
e apresenta Jefferson como padrinho político das negociatas.
"Nós somos três e trabalhamos
fechado. Os três são designados
pelo PTB, pelo Roberto Jefferson.
É uma composição com o governo. Nomeamos o diretor, um assessor e um departamento-chave.
Tudo que nós fechamos o partido
fica sabendo", diz, na gravação.
O diretor seria Antonio Osório
Batista, que respondia pela área
de Administração até a publicação da reportagem da "Veja". O
terceiro personagem do suposto
esquema seria Fernando Leite de
Godoy, assessor de Osório.
Em duas horas de depoimento
ontem, Godoy disse desconhecer
os motivos que levaram Marinho
a falar em seu nome. Ao deixar a
sede da PF, sorrindo, disse apenas: "Não sou culpado de nada".
No depoimento, disse ter presenciado nos Correios momentos em
que Marinho teria demonstrado
desequilíbrio psicológico.
Osório, que na terça-feira não
foi encontrado para receber a intimação do depoimento, estava na
reunião da Executiva do PTB, em
Brasília, na qual o partido discutia
sua posição no governo.
O ex-diretor dos Correios pode
ser ouvido hoje pela PF.
Marinho não nega ter recebido,
no momento em que era gravado,
R$ 3 mil. O dinheiro, segundo disse à PF, seria em pagamento a trabalho de consultoria, cujos detalhes vinha tratando com representantes de "multinacional".
Explicou assim o fato de ter colocado o dinheiro no bolso: "Na
fita, não se falou em nenhum valor. Como havia armação, no final
entregam [o dinheiro]. Foi um ato
impensado [pegar a quantia]".
Marinho disse não ter cartão de
visita nem referência para contato
com os interlocutores.
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