São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2005

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GOVERNO SOB PRESSÃO

Ao Ministério Público, presidente do PTB diz que esteve duas vezes com ex-assessor na sede da empresa, o que havia omitido em discurso

Jefferson encontrou Marinho nos Correios

RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento prestado anteontem ao Ministério Público Federal, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse que se encontrou na sede dos Correios, em Brasília, pelo menos duas vezes com Maurício Marinho, ex-chefe do departamento de contratações da empresa.
No discurso que fez na tribuna da Câmara para se defender, na semana passada, Jefferson havia omitido esses encontros, ao afirmar que estivera "três ou quatro vezes" com Marinho, sempre fora da empresa. Havia citado especificamente um aniversário seu, em Brasília, um encontro ocasional no aeroporto da cidade e "uma vez com o dr. Antônio Osório [ex-diretor de Administração dos Correios], com certeza, na liderança do partido".
No depoimento prestado ao Ministério Público, Jefferson revelou que um dos dois encontros com Marinho no prédio dos Correios foi "em razão de uma visita feita ao presidente da ECT [Correios] João Henrique [Almeida Sousa]". Roberto Jefferson relatou um outro encontro com Marinho deixado de fora do seu discurso na Câmara, esse supostamente ocasional, "em um restaurante, cujo nome não se recorda".
A assessoria dos Correios negou que Marinho tenha estado na sala de Sousa com Jefferson, mas confirmou a visita do parlamentar - teria ido "dar um abraço" a Sousa logo após sua posse, em 2004.
O depoimento de Jefferson confirma haver estreitas relações de amizade e partidárias entre ele e os principais ex-servidores citados no vídeo em que Marinho foi flagrado recebendo propina.
Jefferson disse ao procuradores Bruno Acioli e Adriana Brockes que seu genro, Marcus Vinicius Vasconcelos Ferreira, é assessor da diretoria da Eletronorte e "amigo" de Antônio Osório e de Fernando Godoy, ex-assessor da diretoria de Administração. Ambos deixaram os cargos após a divulgação do vídeo.
No vídeo, Marinho diz que seus contatos com Jefferson são pessoais, mas também ocorriam por meio do "genro" do deputado.
O parlamentar contou aos procuradores que costuma se reunir pelo menos duas vezes por semana com Osório (a quem conhece desde 1982) e uma vez a cada 15 dias com Godoy (conhecido seu há quatro anos). Atribuiu essas reuniões às funções partidárias de ambos, por cargos que ocupam na executiva nacional da sigla.
Jefferson, que sempre negou que Marinho tenha sido uma indicação do PTB, revelou que o ex-chefe de departamento conseguiu em 2003 outro cargo na empresa, o de reitor da Universidade dos Correios, por indicação de um parlamentar do PTB, o deputado federal José Chaves (PE).
Em entrevista ontem à Folha, Chaves disse que não conhecia Marinho e que só o indicou por orientação de outro servidor.
Em outro trecho do depoimento, Jefferson contou outro detalhe que não havia mencionado em seu discurso. Disse que, em 5 de abril, falou ao telefone com o "comandante Molina" - o consultor Antônio Gerardo Molina Gonçalves, que teria tentado "fazer negócio" com a fita da propina.
Jefferson havia dito coisa diferente em seu discurso. "Ele [Molina] ainda tentou várias vezes falar comigo no meu gabinete (...) só que eu não o atendi ao telefone".


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